Capítulo 45

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Nos sentamos em uma pequena sorveteria que ficava próxima ao prédio. Cassini, como sempre, muito cortês.

-Então - eu disse enquanto misturava o milk shake com a colher.

Cassini se ajeitou na cadeira e sorriu sem humor.

-Como descobriu? - ele perguntou.

Eu dei de ombros.

-Sua melhor amiga, a tal da Margo, que me contou - eu zombei.

Ele balançou a cabeça contrariado.

-O que quer saber? - ele perguntou.

O olhei, séria.

-Jack já me conhecia da faculdade? - perguntei. 

O homem suspirou. 

-Sim, Sofia - ele falou finalmente. 

Tomei um pouco do milk shake e deixei que aquele sabor gelado preenchesse meu interior. 

-Eu sei que isso é algo para eu perguntar diretamente a ele, mas como ele me conheceu na faculdade? - perguntei. 

-Eu conheci Jack no ultimo semestre, mais ou menos, mas ele me falava a seu respeito - ele começou. - Você fez algumas matérias com ele, ou algo assim. 

Assenti. 

Lembrei de Jack falando que se apaixonou por mim na primeira vez que me viu e eu me peguei pensando se foi durante a faculdade esse momento. 

Eu estava magoada, mais comigo mesmo do que com ele. 

Não consegui reconhecer ele e imagino o quanto isso deve ter doido ou o magoado. 

-E a Mona - falei. 

Nossos olhos estavam fixos um no outro e percebi que o nome te causava sensações ruins. Era notório que Cassini não tinha bons sentimentos relacionados a ela.

-Você quer a história toda ou o resumo dela? - perguntou. 

-A história toda - falei. 

Ele sorriu sem emoção. 

-Então vamos do inicio - ele disse depois de sugar uma boa quantidade do milk shake. - Eu conheci Jack em uma festa e logo percebi que Mona estava garrada nele. Eu a conhecia desde a época da escola e soube na hora que Jack era um cara cheio da grana. 

-Mona tinha um ótimo dedo para homens ricos - eu disse. 

Cassini me analisou por um tempo e ambos tomamos mais um pouco do sorvete. 

-Quando reencontrei Jack eu nem sonhava o que estava acontecendo e só fui saber bem depois que ela estava grávida e que o pai era Jack - ele olhou pela janela. - Mas algo não batia, pois segundo Jack eles tiveram uma relação durante a festa do dia dos namorados e que ele não se lembrava de nada. Insisti para que ele investigasse um pouco mais a situação. 

Ele mexeu no canudo e ficou em silêncio por um momento. 

-Jack foi sozinho ao consultório e imprensou o médico - Cassini tinha um tom de voz triste. - Mona não estava grávida de seis meses como Mona lhe dizia, ela já estava no sétimo mês da gestão e os cálculos não batiam. 

Eu estava um pouco assustada com aquela história. 

-Só que tinha um porém - ele acrescentou. - A gravidez de Mona era de risco, então Jack não poderia arriscar falar com ela sobre esse assunto, pois poderia fazer mal ao bebê. Nisso ele aguentou pelo restante da gestação esse segredo e só eu sei a verdade. Infelizmente, Mona faleceu durante o parto e Jack ficou com dó de o garoto ficar sem ninguém, sendo assim, ele registrou o pequeno como seu filho. 

-Jack sempre teve um bom coração - eu disse. 

Cassini assentiu.

-Para ele, Rafael é seu filho e ninguém precisa saber o que aconteceu - falou. - Jack não quis nem fazer o exame de DNA.

Jack era uma pessoa melhor do que eu imaginava. Ele estava ciente de sua situação e ainda assim tratou tudo com calma e com um bom coração.

-Ele e Mona chegaram a se casar? - não pude evitar o meu ciúmes. 

-Mona e Jack nunca tiveram um relacionamento - o homem falou. - Jack não gostava dela ao ponto de oficializar a relação dessa forma, mas todos conheceram Mona, inclusive os pais de Jack.

Então os pais dele conheceram ela... Como eu seria recebida? Ou ele não tinha interesse de me apresentar para eles daquela forma?

Suspirei mais uma vez.

-É muita coisa para eu absorver - disse. - Não gostei do fato que ele mentiu para mim, Cassini.

Ele balançou a cabeça concordando.

-Creio que uma coisa foi levando a outra e chegou a um ponto que ele ficou com medo de revelar a origem de seus sentimentos - defendeu o amigo. - Jack é uma pessoa naturalmente tímida, para ele é bem difícil ser aberto com os seus sentimentos.

Minha vontade era de dizer que comigo ele conseguia se soltar, mas compreendia o que Cassini queria falar. De qualquer forma, eu não tinha autoridade para cobrar algo dele, afinal, não tínhamos nada sério.

Eu sorri para ele, mas provavelmente meu sorriso saiu falso e sem emoção.

-Dê uma chance para ele se explicar - Cassini pediu.

-Eu sei que ele precisa de seu momento para falar - puxei mais uma quantidade do sorvete. - Mas preciso também colocar minha cabeça em ordem, afinal, tenho um pouco de culpa nisso ter se tornado essa bola de neve.

Cassini deu de ombros.

-Ele já está ciente sobre a situação com o senhora Ferraz - ele disse balançando o celular. - Disse para não se preocupar, que você jamais será demitida.

Eu ri, em meio a todo esse caos, a última coisa que eu pensava era no meu emprego.

-Diga a ele que não levei a sério o que aquela mulher falou - falei. - Não sobre o emprego.

Cassini me encarou curioso.

-E sobre qual assunto a levou a sério? - perguntou.

O casamento, eu quis dizer. Mas congelei. Não queria parecer a ficante possessiva.

Jack era livre para se casar com quem quisesse e eu não era nada além de sua governanta.

A GOVERNANTAOnde histórias criam vida. Descubra agora