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Primavera 1972 (Aos 09 anos)

Era uma tarde como outra qualquer. O clima estava agradável, mas sempre no finalzinho do dia, ainda podia sentir-se aquele friozinho, indicando que o inverno ainda não havia se despedido totalmente.

Ellen brincava sozinha em seu quintal, em meio às arvores e folhas, espiava um passarinho tentando de todas as formas pegá-lo. A garotinha loira de olhos verdes com algumas sardas no rosto usava um short jeans e uma camiseta de ursinho que odiava, mas que sua mãe insistia em fazê-la vestir. Seu cabelo estava completamente "assanhado" preso em um rabo de cavalo. Por cima de sua cabeça seu boné favorito, presente da tia Ayla.

Seu sorriso revelava a garota traquina que tentava subir na árvore, mesmo sua mãe brigando diversas vezes para não o fazer, quando algo lhe chamou a atenção, melhor dizer, alguém.

Do outro lado da cerca que separava sua casa da casa ao lado, um menino branquelo, magro e meio raquítico a encarava. Ele usava uma calça de brim azul, uma camiseta verde. Em seu rosto um óculos grande que lhe tomava quase toda a cara.

Ela caminhou até junto à cerca, subindo em um balde emborcado, para vê-lo melhor. O garoto permanecia parado, sem dizer ou fazer nada. Ela o encarou por alguns segundos, afinal nunca tinha visto tal menino por aquelas bandas.

- Quem é você? - Indagou sorridente.

O menino parecia assustado e um pouco desconfortável. Tímido talvez.

- Eu nunca o vi por aqui. Está perdido?

Novamente ficou sem resposta.

- Meu nome é Ellen, tenho 09 anos. Você também parece ter essa idade.

O garoto apenas afirmou com a cabeça.

- Ellen, o que está fazendo? - Sua mãe surgiu no quintal.

- Estou aqui falando com esse menino. - Ela apontou.

- Entra pra dentro, já está tarde. - Mary pediu, mas a garota a ignorou.

Não restando alternativa, a senhora foi até sua filha buscá-la.

- Vamos, agora!

- Quem é o menino doente mãe? - Ellen indagou apontando para o garoto.

- Ellen!!! Ele não é doente. - Sua mãe a repreendeu.

- Como não? Ele não fala, não faz nada, só fica aí parado. E ele tem cor e cara de doente. - Retrucou.

- Ellen!!! - Sua mãe voltou a lhe dirigir alteando o tom.

- Peço desculpas garotinho, melhor entrar em casa também, está ficando frio. - A senhora disse-lhe. - Vamos, pra dentro. - Puxou sua filha pelo braço.

- Mas quem é o menino, mãe? - Insistia enquanto sua mãe a carregava para casa.

- Deve ser os novos vizinhos, vi um caminhão de mudança mais cedo. - Mary entrou com a filha pra dentro parando na cozinha. - E filha, não pode falar assim com as pessoas. Foi muito feio falar daquela forma com o menino, ele não é doente.

- Mas parece. - Persistiu.

- De certa forma tem razão. - A senhora sorriu. - Mas não acho que ele seja doente e mesmo que seja não fale isso, ele pode ficar triste. - Explicou.

- Está bem. - A menina abaixou a cabeça.

- Agora suba e vá tomar banho para jantarmos, logo seu pai irá chegar do trabalho.

Ellen colocou um sorriso no rosto e subiu as escadas correndo. Sabia que a noite ia ter bolo de sobremesa e por isso a animação.

...

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