23. where the lines overlap

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Uma vez mais sendo acordado por gritos dentro do apartamento, Jimin estava consternado. Enquanto corria ao quarto da filha para ver se tamanho ruído não a perturbava, só podia pensar o quão difícil havia sido para Jungkook crescer naquele tipo de ambiente.

Agora que tinha sua própria cria, tinha certeza das coisas que não queria que ela experimentasse enquanto crescesse. E um lar conturbado era um dos ítens no topo de sua lista.

Como previra, Jandi chorava. Acordada de seu sono da mesma maneira que o pai e tão incomodada quanto. Jimin pegou-a nos braços e, enquanto tentava acalmá-la, tentava discernir a conversa acalorada que vinha de algum canto do apartamento. Era difícil quando três pessoas falavam uma por cima da outra, mas logo ele teve certeza que estava presenciando mais uma sessão dos pais de Jungkook tentando destruir seu espírito com palavras dolorosas. Por mais doloroso que fosse permanecer quieto enquanto aquilo acontecia, Jimin disse a si mesmo que não deveria se envolver. Disse repetidamente, inclusive.

Entretanto, algo chegara aos seus ouvidos. Algo que ele não podia suportar, tampouco deixar passar:

━━ Nem mesmo sei porque você nasceu.

Jimin entendera rapidamente que tipo de pessoas Jungkook tinha como seus genitores. Não podia mais chamá-los de "pais". Não quando haviam destruído aquele pequeno e frágil motivo pelo qual o Ômega ainda tentava ter alguma consideração: não terem sido cruéis ao ponto de dizer que nunca quiseram o filho.

Tendo em seu peito a imensurável dor de ter perdido um filho, somado ao fato de que era Jungkook que aqueles homens machucavam, repentinamente era demais para Jimin.

Não era cólera, era maior e mais forte e difícil de explicar. Era uma calor que subia por seu corpo, em uma temperatura tão alta que parecia fazer o sangue ferver dentro das veias. Que roubava o ar de seus pulmões, deixando-o com uma respiração rasa e forte. Que cegava-o com a necessidade de proteger sua família e seu território. Algo que Jimin jamais experimentara até então.

Segurando a filha com firmeza nos braços, os passos do Ômega eram fortes e certeiros em seu caminho. Sem hesitar, colocou-se entre Jungkook e os pais, fazendo com que Seokwoo se calasse, ainda que mantivesse o dedo indicador apontado para onde Jungkook estava segundos antes. Toda a sua necessidade de agradá-los e deixá-los o mais confortável possível, a fim de pôr um fim em tudo aquilo o mais rápido possível tinha desaparecido. Não havia medo, nem insegurança enquanto fitava o homem com determinação e a expressão limpa.

O Ômega percebeu que havia se tornado uma questão de instinto quando Minhyuk imitou seu gesto e também colocou-se em frente ao marido, desafiando Jimin.

Por mais que fosse bastante normalizado na sociedade assimilar a Alfas a proteção da família, a verdade passava bem longe disso. Ômegas tinham instintos protetores ainda mais fortes e, sendo o coração de toda e qualquer família, não haviam limites, nada que pudesse pará-los quando a situação envolvia aqueles que amavam, a quem mais davam valor.

Naquele momento, Jimin experimentava pela primeira vez o quão poderoso era o sentimento de um Ômega por sua família. Simplesmente porque nunca fora do tipo que se enfiava em conflitos e agora sentia-se plenamente capaz de afundar seus dentes na jugular de alguém, se preciso fosse.

━━ Chega. ━━ Disse por entre os dentes.

Sua voz era baixa, porém firme. Não queria assustar ainda mais sua filha. No entanto, o rosnado que se formava no fundo de sua garganta, se tornando audível toda vez que expirava, fez com que Jungkook se mexesse e, em completo silêncio, tirasse Jandi dos braços do Ômega. Por mais rápido e coordenado tenha sido essa movimentação, como se fosse algo combinado, Jimin lançou uma olhada breve ao outro, checando-o. Jungkook tinha os olhos marejados e parecia terrivelmente constrangido. De certo modo, constatar aquilo tornou tudo ainda pior para Jimin, mais doloroso e mais motivador, também.

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