O tempo parecia ter se tornado um conceito abstrato repentinamente.
Jungkook sentia que haviam horas, talvez dias, desde o momento em que a equipe de médicos e enfermeiros sumiram pelo corredor, levando Jimin semidesperto para a sala de cirurgia. E ele ainda estava ali, parado em frente a porta por onde não pudera passar.
No fundo de sua mente, lembrava-se da Dra. Jung dizendo que ele poderia acompanhar o parto, se quisesse. No entanto, teve que soltar a mão de Jimin e deixar que o levassem. Custara-lhe toda a força para abrir a mão e deixar que os dedos do Ômega escorregassem por entre os seus. Especialmente depois de todo o trajeto até o hospital, onde segurara a mão dele com tanta força, pedindo-o para permanecer acordado. Mesmo enquanto seu coração partia em pedaços cada vez menores ao escutá-lo chorando de dor.
O desespero doía fisicamente. Fazia o coração martelar rápida e dolorosamente dentro do peito, fazia as mãos tremerem violentamente, roubava-lhe o ar dos pulmões e deixava-o ligeiramente zonzo. Jungkook queria mais do que qualquer coisa no mundo estar com Jimin e seus filhotes. Queria estar perto e fazer o que precisasse fazer para garantir que os três ficariam bem. Mas não podia nem mesmo ultrapassar as portas sob o sinal de emergência.
Vagarosamente, correu a língua pelos lábios secos ao que fechava as mãos em punhos, tentando buscar alguma força em si, se recompor. Estava morto por dentro, morto de medo de algo acontecer por trás daquelas portas e ele ter de lidar com a sensação de impotência que tomava-o com a crueldade de uma faca cega perfurando sua pele por entre as costelas pelo resto da vida.
Por mais que costumasse acreditar que poderia lidar com qualquer coisa, os acontecimentos da noite pareciam tanto com algo completamente alheio à realidade que Jungkook precisou assumir a si mesmo que não aguentaria ficar ali sozinho, não sabia o que esperar, não sabia como reagir, não sabia o que fazer. Precisava de ajuda.
Hesitando em afastar-se das portas da sala de emergência, foi até o balcão da recepção e pediu para usar o telefone. Saíra de casa tão assustado e tão despreparado que sequer lembrara-se de pegar seu celular. Fitou o teclado do aparelho por poucos segundos. Não havia muito o que pensar, só havia um número que sabia de cor: Namjoon. Que atendeu a chamada no quarto toque, com uma voz tão embargada pelo sono que fizera Jungkook até sentir-se mal por ligar.
━━ Hyung... ━━ Chamou em sua voz trêmula. Só então Jungkook percebeu que ainda estava segurando o choro e o quanto aquilo estava acabando com ele. ━━ Aconteceu alguma coisa... Jimin estava sangrando e...
━━ Jungkook, onde você está? ━━ Namjoon cortou-o, perceptivelmente preocupado.
━━ No hospital. Mas... Eu preciso de algumas coisas de casa. Meu celular, os documentos do Jimin... Eu preciso fazer a ficha dele.
━━ Tá certo, vou passar lá e pegar para você. Fica calmo.
━━ Eu sinto que posso fazer qualquer coisa agora, hyung, menos ficar calmo. ━━ Respondeu junto a um suspiro de puro pesar antes de devolver o aparelho para o gancho.
Sentado em um dos bancos mais próximos à maldita porta, esperando junto com outras pessoas que pareciam tão preocupadas e desamparadas quanto se sentia, Jungkook tentava não focar nelas. Tinha o tronco debruçado em direção às pernas, onde os antebraços estavam apoiados. Seus olhos estavam fixos no chão. Mas ainda assim podia ver pela visão periférica sua calça, sua com o sangue de Jimin. Tentava não prestar atenção naquilo também, ou no quão clara era a cena da poça de sangue na cama quando puxou o edredom. Em como aquilo parecia gravado em suas pálpebras agora, impedindo-o de fechar os olhos.
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love drops
FanfictionJimin tinha apenas 18 anos quando engravidou de Jungkook, um colega de escola com ideias e comportamentos que divergiam completamente dos seus. Os dois não estavam em um relacionamento quando tudo aconteceu, não passou de um grande infortúnio adoles...