Capítulo 3

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Acordei ouvindo o canto dos pássaros e com a claridade dos raios solares entrando na janela do quarto, iluminando tudo que estava em seu caminho, incluindo eu. O clima sereno e agradável foi surpreendente, normalmente o céu fica encoberto por densas camadas com níveis elevados de poluição, em sua maioria é causado pelas grandes companhias, gerando mais problemas respiratórios.

A população tentou forçar o Estado que a situação atingiu um patamar insustentável e extremamente crítico, mas os bilionários tem dinheiro, poder e contatos importantes, então nenhuma intervenção aconteceu. Levantei da cama e caminhei até o banheiro, ainda estava um pouco sonolenta, mas consegui chegar no cômodo sem causar acidentes, a imagem era assustadora no espelho.

A situação de meu cabelo era deplorável e pedia cuidados urgentes, havia nós por todo lado e fios arrepiados e desalinhados, o rosto inchado e levemente avermelhado, sem falar dos olhos remelentos e pequenos. Joguei um pouco de água no rosto e escovei os dentes, a sensação refrescante e o gosto de hortelã se tornou predominante na boca. Aos poucos os fios rebeldes do cabelo foram alinhados com auxílio da escova.

Eu odeio aquelas novelas, comerciais de cosméticos e séries de televisão que retratam mulheres e homens acordando lindos, sempre sorrindo e esbanjando beleza, sem um defeito qualquer, mesmo os mais comuns. A vida das pessoas de verdade é muito diferente, mas os departamentos de marketing parecem ignorar os detalhes, focando apenas no impossível e também no completo absurdo.

Sai do banheiro e retornei para o quarto em busca de roupas confortáveis, Lucius Fox mandou mensagens pedindo minha presença na empresa, acredito que tenha haver com os bailes de caridade recorrentes de Wayne. Tive o desprazer de comparecer a um deles, mordi a língua e fiquei decepcionada, os programas de televisão mostravam puro glamour, mas as pessoas eram rudes e grosseiras.

Ninguém mostra as cenas que ocorrem por trás dos panos, é como vivenciar uma das piores cenas da auta sociedade, pessoas que pareciam próximas tem prazer em humilhar e destruir uns aos outros. As fofocas correm de forma surreal, é uma competição de dinheiro e status, as mulheres usam jóias caras e que poderiam pagar as contas e alimentar muitas famílias pobres na periferia.

Homens casados flertam livremente no salão enquanto suas esposas bebem vinho e champanhe, uma tentativa falha de mascarar o constrangimento e a dor em testemunhar o comportamento do cônjuge. As crianças tem atitudes semelhantes a de seus pais, sempre enaltecendo as conquistas e realizações que ocorreram recentemente, usando roupas que nunca mais serão usadas, mas que custaram o preço de um aluguel, até mais.

- Absurdo - Murmurei enchendo a tigela com leite e cereal de chocolate.

Liguei a televisão no canal de desenhos animados e acompanhei vidrada, mesmo que tenha assistido os episódios muitas vezes, as piadas nunca perdem a graça, é impossível se conter diante do sentimento de nostalgia. Fui obrigada a interromper essa terapia quando o despertador do celular tocou, era hora de ser responsável e me arrumar para a reunião com Lucius, ele detesta atrasos.

Coloquei a tigela vazia dentro da pia, eu me arrastei para o quarto e rapidamente vesti o par de tênis que estava no chão, próximo da cama e da mesinha onde costumo escrever a maioria dos livros. Escolhi roupas discretas e simples, calça jeans preta, blusa vermelha de mangas longas e os inseparáveis ALL star de tonalidade preta, embora desgastados pelas aventuras vividas e tempo de uso.

Peguei o capacete e o molho de chaves, saí de casa e comprimentei o vizinho, mas fui ignorada como de costume, apenas revirei os olhos e tranquei a porta. Coloquei o capacete e subi na motocicleta, a cor preta brilhou com os raios solares, aumentando sua beleza, ela chamava atenção dos moradores, é surpresa que ainda não tenham roubado. Subi na moto e girei o punho, acelerando aos pouco, logo as ruas de Gotham foram ganhas.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora