A cerimônia de abertura ocorreu com as sábias palavras de Bruce Wayne, ele destacou a importância das doações generosas, além é claro de falar sobre a instituição para onde os cheques seriam destinados. As pessoas eram um reflexo de arrogância e competitividade. A grande maioria dos convidados usavam belas e extravagantes roupas... como se fosse uma espécie de competição de poder e status, não havia verdade ou lucidez no ambiente.
- Ainda solteiro, Sr. Wayne? - Questionou uma das várias jornalistas reunidas na área, o olhar desejoso era nítido para todos nós.
Eu sabia que haveria questionamentos e adorei a expressão perdida de Bruce. Ele tinha dúvidas silenciosas sobre como responder as questões pessoais abordadas. Aguardei pelos segundos seguintes e quase gargalhei, porém a situação exigia postura e controle. O rapaz e eu trocamos olhares discretos. Eu entendi seu receio de responder a pergunta, não tínhamos um relacionamento, sequer trocamos beijos e qualquer outro contato carinhoso.
- Sim, estou solteiro... por enquanto - Era uma indireta muito bem direcionada.
Não fiquei chateada com a afirmação. O momento não era adequado para revelar nada importante, e estávamos indo devagar. Sorri e bebi outro gole de champanhe, a taça tinha as características bolhas efervescentes. Eu notei os olhares curiosos de homens próximos, não era possível identificar seus rostos, mas eram bilionários ou políticos importantes. Caminhei pela mansão e admirei os casais dançando. A voz da Sra. Bennett ressonando no espaço, os músicos estavam em sincronia.
O tempo passou e desempenhei bem os papéis de dama da sociedade e convidada, eu bebi e comi até não aguentar mais. A festa se mostrou um sucesso absoluto. A decoração e as atrações circenses tiraram suspiros e pude ver o encanto em rostos mais experientes. Era impossível ignorar os sussurros femininos, as mulheres falavam abertamente sobre Bruce, o interessante foi ouvi-las elogiando sua beleza e, ainda mais, sua conta bancária. Recebi uma infinidade de convites para dançar, incluindo a turminha que poderia ser meu avô.
Bruce e eu ficamos afastados depois do primeiro contato, apenas trocamos olhares de longe e sorrisos discretos. Ajeitei a máscara e acariciei o tecido do vestido, recebi elogios de pessoas que nunca conversei antes. Andei no salão enquanto a melodia romântica tocava, a verdade é que eu adoraria dançar, mas Wayne estava ocupado no momento. Entretendo, não conseguiria realizar esse desejo mundano, ele sempre tinha companhia por perto.
Encontrei o caminho até uma varanda, o clima fresco fresco era diferente do centro da cidade de Gotham. Deixei a taça vazia sobre a mureta de proteção e admirei a paisagem. Era absurdamente estonteante, digno de variados poemas trágicos e obscuros. A música tornou o cenário mágico, a melodia ficou mais baixa e agradável, principalmente sem tantos rostos e corpos plastificados e retocados. Congelei e sentei mãos firmes nas minhas costas.
- Encontrei você, querida - Provocou e eu reconheci o responsável pela voz grave.
- Procurou por mim, Bruce? - Perguntei e me virei para olhar sua face encoberta.
A semelhança entre Wayne e o batman é algo notável. O maxilar marcado tinha muito apelo visual, além dos lábios desenhados, sua arcada dentária era perfeita. Os olhos claros e expressivos tinham profundidade, as suaves e delicadas manchas castanhas nas íris eram o ponto de destaque. E pela primeira vez senti o mesmo perfume masculino, intenso como um sopro de outono. Os indicativos estiveram em minha frente desde o começo.
Os dois possuíam a mesma altura, e sua musculatura avantajada tinha formas que não pareciam fáceis de serem conquistadas. Esse homem carregava o peso de Gotham, e nunca reclamou abertamente das noites que passou vigiando e protegendo a cidade dos crimes. O sentimento de impotência ocorreu quando ele sorriu e acariciou minha bochecha direita, sua delicadeza era encantadora e suave. O que eu sentia no momento? Confusão.
Eu jurei nunca me apaixonar, nem abrir o cadeado para meu coração. O meu passado é marcado por passagens dolorosas que nunca conversei ou mencionei para outra pessoa. As feridas demoraram para cicatrizar. Eu fugi dos demônios que se apossaram de minha alma e corpo. O meu tio destruiu a pureza que existia dentro de mim, aquele desgraçado abusou do sentimento de fragilidade que sentia. Ele tinha quebrado minha confiança e coragem.
- Estou sempre procurando você, Eloise - Respondeu com naturalidade e firmeza - Quer dançar comigo, senhorita? - Questionou e não resisti ao impulso de revirar os olhos.
- Eu adoraria, Bruce - Respondi e estendi a mão e enlacei contra a sua.
Nós movemos os corpos em sincronia e dançamos à luz da lua e das estrelas. Eu pude sentir arrepios causados pela proximidade em que estávamos. Bruce mantinha um aperto na cintura que impedia distanciamentos entre os movimentos suaves que fizemos. E ali percebi que não importa o que ele fizesse... eu amaria cada um dos seus segredos. Bruce Wayne era indiscutivelmente meu homem ideal. A minha vida ficou mais brilhante graças a ele. Batman ou não, lutaria por nós dois, sempre.
- Eu sei... - Murmurei ignorando cada um dos planos mirabolantes que criei.
- O quê? - Questionou recuando para que pudesse me olhar direto nos olhos.
- Eu sei de tudo, Bruce - Respondi e senti a tensão dominar seu corpo na mesma hora e impulsionar seu coração - E não muda nada, é parte de quem você é - Prossegui.
- O que você sabe, Eloise? - Perguntou, o semblante sério contrastou com a maneira no qual pronunciou meu nome, tão másculo.
- Eu gostaria que tivesse contado, mas a verdade é que entendo seu lado. Eu xinguei as gerações anteriores da família Wayne, admito culpa nessa parte e peço desculpas. Eu soube há alguns dias, não importa quem contou. Era inevitável, e muitas vezes, eu cogitei pedir que Zatanna amaldiçoasse você - Confessei e não consegui controlar as confissões - A principal questão é que eu estou apaixonada, e odeio o fato de estarmos mentindo um para o outro. E não sinto orgulho disso... mas planejei muitas maneiras de alcançar vingança - Suspirei.
- Está apaixonada por mim? - Indagou se mostrando surpreso com tantas verdades que foram despejadas sobre ele tão rápido.
- É nisso que prestou atenção? Eu acabo de dizer que você é o maldito Batman... qual é o seu problema, Wayne? - Indaguei nao sendo capaz de entender sua reação incomum.
- Porra, eu amo você, mulher - Respirou e ameaçou fazer menção de me beijar.
O som estrondoso de tiros foi ouvido e a gritaria aprofundou o caos criado. Eu congelei ao ouvir a característica risada arrepiante. Era inconfundível... o palhaço do crime acabou de invadir a propriedade de Bruce. O bilionário se afastou e agarrou meu pulso fortemente. Não resisti e segui logo atrás, desesperada por um pouco de segurança. Ele andou pelo grande e imenso labirinto de corredores e parou rente a um piano antigo. O homem pressionou certas teclas e uma passagem foi aberta.
- Incrível - Murmurei enquanto era levada até o elevador de cargas rústico.
- Estará segura aqui, não mexa em nada - Implorou assim que chegamos no chão com auxílio daquele transporte de ferro.
Bruce correu e desapareu de vista. Senti o cheiro indefinido da caverna, a mistura tinha muitas essências misturadas. Suspirei e senti o coração acelerar quando finalmente entendi que estava na bat-caverna. O arrastar de capa chamou a minha atenção... o herói apareceu e não contive o impulso de ir ao encontro. Senti um misto ardente de emoções. O Coringa não era conhecido pela bondade e justiça. Eu temi que algo horrendo pudesse acontecer.
- Volte inteiro para mim - Implorei com a voz embargada - Fique seguro, ok? - Insisti, eu ousei depositar um beijo casto em sua boca e acariciar seu rosto com carinho.
- Sim, senhora - Concordou e se virou no objetivo de cumprir seu dever de herói.
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Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...