Capítulo 13

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Contra o meu melhor julgamento, acabei cedendo e troquei de roupa. Eu não seria vista ao lado de Bruce Wayne parecendo maluca ou que acabei de sair da cama. As peças neutras eram quentes e confortáveis. A cor preta foi o tom predominante, refletindo meu interior que sofria em silêncio. O bilionário esperou que eu me arrumasse e não reclamou da demora, ele apenas sentou no sofá e aguardou.

O carro de última geração estava parado em frente da minha casa, atraindo olhares em níveis incrivelmente absurdos. Os vizinhos me olharam com acusações implícitas, imagino o falatório que será criado nos próximos meses de convivência obrigatória. Agradeci quando a porta do passageiro foi aberta e pude entrar e me esconder ali dentro, frustada. Bruce dirigiu lentamente através das ruas.

O automóvel luxuoso causou um grande desequilíbrio com a paisagem de Gotham. Foi como levar um choque de realidade cruel, não deveria ser assim. A atmosfera densa tinha as sombras da criminalidade rondando as ruas e becos sombrios. As pessoas tinham olhares e expressões tristes e solitárias. O bilionário me observou com empatia, como se soubesse os pensamentos em minha cabeça.

A propriedade Wayne fica afastada, uma área distante e extremamente segura. Eu não escondi a surpresa diante da visão, árvores de dimensões grandiosas se erguiam e pareciam tocar o céu cinzento e tempestuoso. A grande mansão era cercada por muros de pedra, uma verdadeira fortaleza reforçada. A grama verde não estava aparada, havia ervas daninhas por todos os lados.

- Nossa... - Murmurei atordoada, tudo se encaixou com perfeição e beleza.

- Espere para ver lá dentro - Comentou e voltei a realidade, tínhamos trabalho.

O cheiro era diferente, mais puro. Eu não consegui raciocinar com clareza, eram muitas informações sendo recebidas, muita coisa em pouquíssimo tempo aconteceu. Andamos até a porta da frente, e mais uma vez, fiquei muito surpresa com a dimensão da mansão. Eu não consigo imaginar o trabalho para limpar todas as janelas desse lugar. E os demais quartos e escadarias? Senhor, é demais. Qual o número de pessoas trabalhando aqui?

A entrada era surreal, digna de aplausos e capaz de tirar o fôlego. O mármore branco é tão requintado que fiquei hesitante em pisar e sujar com a poeira da rua. As paredes escuras contratavam com o restante da decoração, eu nunca vi algo tão bonito. A escadaria longa se ergueu imponente, a madeira envernizada não é parecido com nada que tenha visto antes. O cômodo seguinte foi ainda melhor. Os móveis antigos eram relíquias incalculáveis.

O único quadro aparente era de Thomas e Marta Wayne, os dois tinham expressões de seriedade e firmeza. A semelhança entre ele e seu filho é gritante. Bruce é idêntico ao pai, eu não tenho dúvidas quanto a paternidade. Ouvi o som discreto de passos se aproximando e a imagem de um senhor de idade captou minha total atenção. Ele parecia gentil e amoroso, os olhos carregados de experiências.

- Mestre Wayne, chegou cedo - Ele sorriu de forma adorável - Eu sou Alfred, Lady Eloise - Se apresentou e ergui as sobrancelhas.

- Como sabe meu nome? - Questionei na mesma hora, desconfiada.

Os dois trocaram olhares e isso trouxe a certeza de que eles escondem segredos. Eles pareciam conversar silenciosamente, adoraria ter Seline ao meu lado, a mulher-gato adoraria arrancar cada segredo que ambos carregam e escondem com tanta intensidade. Eu fingi um comportamento educado e esperei, embora o meu interior estivesse lutando contra o desejo de gritar até às cordas vocais estourarem. Eu consegui fingir ser refinada.

- Mestre Wayne fala frequentemente dos encontros adoráveis entre vocês, Lady Eloise - Afirmou o mordomo e, por um momento, suas palavras transmitiram sinceridade.

Entretanto, aquela voz irritante no fundo da mente sussurrou que era mentira. Eu notei a sua postura estremecer como se a corrente de vento gélido entrasse em contato com seu corpo envelhecido. Além da maneira como os olhos tremeram, as pálpebras cansadas eram o indício mais forte de suas mentiras. Eu lutei contra o desejo de criar um escândalo, o meu sangue brasileiro lutando para se rebelar com força total. Então, apenas sorri cordialmente e decidi seguir o fluxo.

- Entendi... - Murmurei sem ânimo, todos tem segredos nessa maldita cidade.

- Aceita alguma coisa, senhorita? Talvez chá com bolinhos? Café? - Perguntou e acabei relaxando de forma inconsciente.

- Não, obrigada, estou bem - Afirmei e os dois apenas concordaram - Então, Bruce falou de mim, Alfred? - Provoquei, não resistindo ao impulso de deixá-lo constrangido.

- O tempo inteiro, senhorita. Inclusive, eu nunca imaginei vê-lo totalmente rendido, ele é um novo homem desde que a conheceu - Não escondi a surpresa diante da resposta direta e certeira do senhorzinho.

- Alfred... - Repreendeu Wayne fazendo o mordomo sorrir em vitória.

- Entendido, mestre Wayne - Afirmou, um brilho travesso tomou conta de sua face - Sua beleza é inegável, Lady Eloise - Ele segurou na minha mão e beijou.

Eu senti as bochechas esquentarem, ele é extremamente cordial. Alfred deixou marcas profundas nesse curto período de tempo. Não resisti ao impulso de imaginar como seria um encontro entre a Sra. Bennett e ele. A velhinha com certeza aproveitaria a chance de mostrar seu charme e talentos musicais. Ouvi fofocas dizendo que ela tem paquerado o vizinho que mora no apartamento ao lado.

Isie? - Bruce chamou usando o apelido que amigos íntimos costumam usar.

Isie, hein? Isso dá brecha para que meu cérebro pense em apelidos para você, Brubru - Acabei sorrindo maliciosamente, o homem se entregou quando retribuiu - Aliás, andei tendo algumas ideias para a festa. O teto daqui tem boa resistência? Acha que suportaria o peso e densidade de pessoas? - Indaguei.

- Que tipo de estranheza você pensou? É tarde demais para arrependimentos? - Sorriu e se jogou no sofá de couro preto.

- Trapézio circense, querido. Eu quero os convidados chocados e extasiados, a festa irá ser inesquecível para todos eles - Comentei, a empolgação transbordou de minha voz.

- Algo mais? - Bruce insistiu, permitindo que minha mente voasse para longe.

Eu tagalerei sem interrupções, Bruce me surpreendeu com o silêncio e atenção. A cena era incomum, ele mostrou seriedade, como se estivéssemos em uma reunião importante. Os seus olhos nunca deixarão os meus. Eu andei pelo gigantesco salão e gesticulei de maneira descontraída e exagerada, explicando onde as coisas deveriam ser posicionadas. Alfred veio e se juntou a roda de conversa.

- O que acham disso? É demais? Ou tem brilhos e excentricidades em excesso? Talvez devêssemos pensar com calma - Afirmei sem a mesma confiança de antes.

- É perfeito - Decretou Bruce após algum momento de absoluto silêncio.

- Sério? Até as luzes de led douradas em espirais? Ou a iluminação baixa que deixará o ambiente misterioso? Permitindo que alguém roube jóias e carteiras dos ricos inocentes de Gotham - Desdenhei e Alfred sorriu. 

- Ricos inocentes, sério? - Bruce riu com a péssima escolha de palavras.

- Tem razão, mestre Wayne. A senhorita Eloise é uma mulher única - Afirmou Alfred, o mordomo trocou olhares cúmplices com seu patrão - Simplesmente única - Reafirmou com um sorriso satisfeito e olhou para mim com a sombra de promessas ainda desconhecidas e não pronunciadas.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora