Caos e Ordem - Bruce Wayne

Capítulo 18

A viagem foi demorada, cerca de trinta e cinco minutos de carro. Nós estávamos muito animadas com a situação. O som ligado tinha sido aumentado no máximo, as músicas eram uma verdadeira decepção, mas fingimos estar sendo contagiadas pela atmosfera. Eu sorri, a paisagem era simplesmente magnífica. Havia um imenso lago cheio de patos.

Árvores de aparência antiga rodeavam a cabana rústica feita de madeira e pedras, meu corpo relaxou com a paz transmitida. Eu pude ouvir pássaros e cigarras cantando, a melodia inconfundível da natureza era inspiradora. Sua essência pacífica trouxe boas vibrações, eram detalhes difíceis de serem recriados de forma artificial. Eu me apaixonei pelo lugar.

Arrastei as malas para dentro, as pedras cinzentas tornaram a tarefa complicada, cada movimento provocava sons estridentes. Havia uma leve neblina encobrindo a paisagem. Não pude deixar de admirar a decoração enrustida da sala de estar. Os sofás de couro tinham as almofadas envolvidas por capas de estampas xadrez vermelhas e brancas.

O tapete azul escuro cobria o chão feito de madeira envernizado, além de combinar de maneira surpreendente com as cortinas. Cada ambiente possuía um tema específico, porém conversam entre si com elegância. A cozinha possuía armários brancos e eletrodomésticos de última geração. A pequena penínsola tinha uma pedra de mármore branco. A mesa podia suportar até 6 pessoas diferentes.

O andar superior era reservado somente para os quartos, que eram dois no total. Bruce despareceu de minha mente durante um bom tempo. Eu pude me concentrar em respirar, eu consegui ouvir meus próprios pensamentos, a raiva diminuiu de forma considerável. Zatanna e eu dividiremos o quarto, enquanto Barbara e Seline ficaram com o de casal. É chocante ver que a mulher-gato é doce e gentil.

O cômodo possuí duas camas próximas da janela. As paredes brancas eram lisas sem qualquer tipo de detalhe, o armário marron foi capaz de suportar todas as roupas. Me joguei na cama e fiquei quieta, mas minha colega foi contrária a ideia. Zatanna andava de um lado para o outro, murmurando palavras em outros idiomas que desconheço. Foi divertido vê-la e observar seu comportamento excêntrico.

- O que está fazendo? - Perguntei assim que a curiosidade se tornou insuportável.

- Feitiços de proteção - Respondeu e sua revelação me pegou de surpresa.

- Por quê? Estamos em perigo? Eu achei que era um lugar seguro - Afirmei preocupada com a chance de sofrermos ataques.

- É totalmente seguro, Eloise. A questão é que estou aumentando a proteção, eu quero garantir que teremos paz e tranquilidade - Ela sorriu abertamente e piscou o olho.

Eu apenas retribui o sorriso, imaginando como nossos destinos se entrelaçaram. A um emaranhado de possibilidades que nunca são concretizadas, entretanto, aqui estamos nós e somos praticamente irmãs inseparáveis. Elas são meu alicerce, até mesmo quando sinto as paredes começarem a desmoronar. Barbara é a mais responsável, sempre disposta a ajudar e estender a mão para desconhecidos.

Seline é o completo oposto. Ela é forte e intensa, imprevisível como a tempestade. Sua personalidade é provocante e inteligente, mas incrivelmente familiar e convidativa. Ela é ágil e rápida, seus movimentos de luta estão entre os mais apurados do mundo. O seu codinome é perfeito para suas habilidades. Eu invejo sua beleza distinta e elegância natural. Seline tem sido o contrapeso da relação.

Enquanto Zatanna é um espírito livre. Os seus dons vão muito além da magia, ela vê as dificuldades como oportunidades de aprender e amadurecer. A sua magia é capaz de coisas além da compreensão, ela me curou diversas vezes, sem o mínimo de hesitação. É divertido conversar durante as madrugadas, fofocando sobre heróis e vilões que ela conheceu. Todas as conversas tem longa duração.

- É bom tê-la por perto - Comentei aberta a diálogo mais emotivos - Estou curtindo esse momento de relaxamento - Acrescentei vendo a garota parar os murmurios.

Ela se acomodou na cama do outro lado do quarto, as pernas cruzadas enquanto tinha uma expressão de curiosidade. Eu repeti seus movimentos e sentei no colchão. Zatanna não parecia saber como iniciar a conversa comigo e mordia o canto dos lábios. Eu aguardei até a mágica colocar os pensamentos em ordem, o levou alguns minutos demorados. Observei as linhas proeminentes entre os olhos, resultado das sobrancelhas franzidas.

- Não acha que está exagerando? Eu sou sua amiga e quero o melhor para você - Sorriu hesitante antes de prosseguir - O problema de vocês será resolvido através do diálogo - Suas palavras acertaram meu coração em cheio.

- Bruce e eu... é complicado. Eu entendo os motivos que levaram o homem a esconder que é o Batman. Nós acabamos de começar a conversar e interagir, e compreendo que ainda haja um longo caminho a ser percorrido. Ele e eu precisamos de tempo para confiar no outro - Respondi e ela concordou de maneira neutra e silenciosa - Mas você consegue imaginar os perigosos que sua aproximação vão trazer até minha vida? Zatanna, ele é o herói de Gotham e coleciona inimigos. É muita pressão... eu fui arrastada sem saber o que houve - Desabafei e senti um pouco de alívio.

- Você está assustada - Afirmou vendo a ponta do iceberg, mas existe muito mais indo para o fundo das minhas emoções.

- E se ignorarmos seu trabalho noturno e extraoficial, ainda resta o bilionário. Bruce não é um homem comum e nunca será, amiga. As mulheres sonham em compartilhar sua cama, e os homens desejam seu poder e dinheiro. O fardo que virá é extremamente intimidante, eu estou completamente perdida - Admito ciente dos problemas sérios que virão.

- Talvez essa viagem tenha sido bom no final das contas - Zatanna concordou e mexeu no cabelo longo e escuro - O que acha de uma caminhada lá fora, Isie? - Ofereceu e estendeu a mão na minha direção.

- Eu adoraria - Concordei imediatamente e levantei da cama, mais animada.

- O que você pretende fazer sobre todos esses problemas? Bruce é inteligente, ele com certeza vai notar que você está estranha. Será impossível esconder que sabe o segredo dele durante muito tempo - Lembrou enquanto nós saímos da bela cabana rústica.

- Eu pretendo fingir ignorância, quero ver até quando ele pretende esconder a verdade e manter as mentiras. E quando o momento da revelação chegar... vou admitir que eu sempre sempre soube do maldito segredo - Respondi e ela apenas me olhou com estranheza.

- E depois? - Incentivou, como se fosse a melhor coisa do mundo, sempre curiosa.

- Ainda não cheguei nessa parte - Sorri e desfrutei de sua reação frustada e indignada.