Capítulo 12

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Arrumei a casa na medida do possível, a ansiedade me impediu de continuar deitada, o medo e curiosidade se misturaram. Bruce não é o tipo de homem que vai atrás das pessoas, é justamente o contrário, as pessoas é que se movem para encontrá-lo. Ainda não entendo o súbito interesse dele por mim, é como dormir e acordar em outra realidade.

Ele é como uma estrela distante em que podemos apenas observar de longe, Bruce se tornou símbolo de riqueza e poder. Ele vem de uma família abastada, estudou em escolas de elite e viajou pelo mundo inteiro. Eu não sou a pessoa interessante que ele pensa, eu sou um tanto quanto comum e enfadonha. Eu adoro a sensação de liberdade e calor.

Eu adoro comidas baratas de rua, até os lanches despretencios dos americanos. Não é saudável, mas é um pecado recorrente que eu comento durante as semanas. Minhas roupas vieram de lojas de departamento, eu não vejo Bruce Wayne pisando nesse tipo de lugar. Seu comportamento insistente chega a ser doce e reconfortante, é bom ser desejada, mesmo de maneira tão desesperada e afoita.

Confiança tem que ser conquistada e as atitudes desse rapaz são suspeitas. O batman é outro exemplo de exagero, ele tem vindo até minha casa como se fossemos amigos. Tudo se tornou um caos e eu perdi o controle, nada é como antes. Eu gosto das conversas com o herói mascarado, é divertido provocar alguém que não conheço. É estimulante.

Eu conheci o lado obscuro do vigilante e odiei, nosso primeiro contato foi incomum. Eu estava assustada e irritada, porém conheci as outras facetas por trás do símbolo. Existe um coração pulsando por baixo do uniforme, ele é bem humorado, na medida do possível, e tem diminuído o vazio em meu coração. Eu jamais imaginei que pensaria em algo assim, mas ele se tornou importante para mim.

É estranho admitir, mas gosto do fato de que ele se preocupa comigo ao ponto de ter o trabalho de verificar como estou. Porém, essa situação não é saudável, eu estou criando um elo como alguém desconhecido. Eu sinto que vou acabar me envolvendo demais, o coração é imprudente e estúpido. Seria maravilhoso se a situação fosse diferente.

É melhor acabar com o mau pela raiz, eu não vou me apaixonar pelo batman. Eu jamais permitirei que quebrem meu coração assim, a mera possibilidade é assustadora. O bilionário é uma ótima distração, ele saiu com jovens de todas as idades, não deve ligar por ser usado para meu entretenimento. É como matar dois morcegos como uma cajadada só.

Bruce terá aquilo que tanto deseja e seu interesse irá terminar. E existe a possibilidade de que esse encontro afaste o vigilante, ele se mostrou possessivo, homens odeiam dividir e compartilhar. A minha esperança é que ele se sinta intimidado com o bilionário e recue, será como se nunca tivesse existido. Eu voltarei as noites solitárias, vazias e tristes.

- Estou indo, espera - Gritei assim que as batidas na porta foram os ouvidas.

Arrumei o pijama e caminhei até a porta, a sensação de estar fazendo algo errado foi o maior desafio, eu não deveria permitir que sua aproximação aconteça. Eu seria apenas outro nome em sua interminável lista. A indecisão é a marca registrada de ser uma libriana, tudo é extremamente plausível. Respirei fundo e abri a porta, incerta em prosseguir ou não, Bruce é estranhamente familiar, é irritante.

- Olá, Sr. Wayne - Comprimentei ao vê-lo, o homem usava seu típico terno preto.

O cabelo perfeitamente penteado e com um brilho inconfundível, ele penteou para trás e usou gel. O cheiro de perfume estava forte e exagerado, eu senti meus olhos arderem com a intensidade aromática. Entretanto, o choque ocorreu quando ele tirou um buquê de rosas e uma caixa de chocolate das costas. Eu nunca recebi flores de alguém, nunca. Congelei e ele pareceu constrangido e perdido.

- São para mim? - Questionei e ele voltou a realidade, sorrindo abertamente.

- Sim, claro, aqui - Estendeu as flores, e a tremedeira ficou em evidência, quem diria.

- Obrigada - Sorri agradecida e cheirei as nuances suaves e agradáveis do buquê.

E ali, eu percebi que nunca conseguiria e poderia usá-lo, ele estava se esforçando. E eu compreendi a dimensão do problema, Bruce é sozinho e está completamente alheio. Ele não é tão feliz quanto tenta parecer nas machetes de jornal e televisão. Ele tem o olhar repleto e tomado de solidão, é semelhante ao meu. É como olhar no espelho e enxergar os medos e incertezas que carrego nos ombros.

- Entra - Pedi e abri espaço, ele entrou de maneira lenta e cautelosa.

- Obrigado - Respondeu e adentrou essa casa minúscula se comparada a sua.

- Então... você bateu em uma caminhão de perfume enquanto dirigia? - Perguntei e ele riu baixinho, quase mortificado.

- Exagerei? - Questionou e decidi abrir as janelas mais próximas.

- O quê? Não, de jeito nenhum - Afirmei e permaneci na área de ventilação do ar - Como eu posso ajudar? - Indaguei curiosa.

- Ah, sim, achei que poderíamos planejar o estilo da decoração da festa - Argumentou e concordei, faz sentido - A propósito, achei que a melhor amiga do batman se vestiria melhor - Devolveu a provocação de antes.

- O flash é maravilhoso, mais respeito ou coloco sal no seu café - Ameacei e ele ergueu as mãos em sinal de rendição.

Andei até a cozinha e abri a geladeira. O homem aproveitou o tempo para bisbilhotar e averiguar os mínimos detalhes. Tirei o bolo de chocolate com cerejas e coloquei em cima da bancada, além da jarra com suco. A receita de minha mãe sempre trouxe aquele sentimento bom e cheio de lembranças positivas. Esperei que Wayne se aproximasse e servi uma fatia grande e generosa, sorri e entreguei.

- Coma, você está magro - Comentei, ele me olhou como se fosse louca.

- Eu não estou magro - Respondeu, mas olhou para si mesmo no processo, quase com incredulidade - São músculos, Eloise - Sorriu e piscou um olho, ele pega intimidade fácil.

- Ah, claro, eu vejo - Murmurei atenta aos movimentos suaves de Wayne - Tem ideias ou planos para a decoração? - Indaguei satisfeita que ele estivesse comendo.

- Isso é com você, eu apenas concordo e assino os cheques - Respondeu e bufei com a resposta mesquinha do bilionário, típico.

- Ouça com atenção, Sr. Wayne, você me obrigou a participar dessa palhaçada, você irá me ajudar a escolher cada minúsculo detalhe - Exigi olhando fixamente para ele - Não pense nem por um minuto que vai escapar, será uma experiência infernal para nós dois - Afirmei e o tom de voz aumentou.

- Eu trabalho, querida - Respondeu e não escondi o sorriso de escárnio.

- Você finge que trabalha, Lucius é quem manda de verdade na empresa - Afirmei e sua expressão demonstrou diversão.

- Assim você me magoa, amor - Afirmou e corei com o apelido ridículo usado.

- Não me chame assim - Afirmei quente e vermelha de vergonha.

- Por quê? Você fica linda assim - Sorriu e comeu uma das cerejas do bolo.

Eu fiquei mortificada com as atitudes do homem, mas logo compreendi a ação. Ele não é muito inteligente se acha que vai ganhar, eu nunca abaixo a cabeça. Sorri maliciosamente e me aproximei com lentidão. Seu sorriso não estava tão explícito agora, Bruce Wayne ficou sério e atento, quase hipnotizado. Aproximei o rosto do seu, perto o bastante para sentir sua respiração quente e meio ofegante.

- Dois podem jogar esse jogo - Sussurrei e me afastei, orgulhosa e sorridente.

- Eu sempre venço - Decretou voltando a seu comportamento confiante de antes.

- Você nunca jogou comigo, amor - Sorri e pisquei um olho - Essa é a diferença - Cruzei os braços o olhando com superioridade.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora