Capítulo 10

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Bruce Wayne saiu depois da revelação, a expressão em seu rosto era assassina, eu não entendi o motivo por trás da mudança rápida e repentina em seu comportamento. Terminei de ajudar na limpeza da casa da Sra. Bennett e retornei para o conforto da minha, sorri com a constatação de que poderia concluir o livro e enviá-lo análise da editora. Porém, uma das partes ruins é dizer adeus.

Entrei no escritório animada, idéias indo e vindo rapidamente na cabeça. Me sentei na poltrona confortável e abri o notebook, quase tive um ataque de ansiedade enquanto ligava o aparelho. Li os últimos parágrafos escritos e meus dedos se moveram sobre o teclado, o fluxo criativo fluindo livremente.

Eu passei um longo tempo elaborando a relação de Mabel e Stefan, é doloroso concluir a história e dar adeus a personagens criados e cenários inventados. Eles são responsáveis por noites mal dormidas, em que passei horas escrevendo e reescrevendo trechos, mudando diálogos e melhorando descrições, eles são o meu desejo secreto e sigiloso.

(...)

Mabel estava feliz e aliviada. Seu pobre e cansado coração batia acelerado, Stefan havia finalmente declarado seu amor publicamente e estava disposto a enfrentar sua família. Toda a dor e sofrimento desapareceu, dando espaço a emoções que jamais imaginou existirem. Eles sabiam que o caminho é longo e conturbado, e que os obstáculos são muitos, mas teriam um ao outro, sempre e para sempre.

A aliança simples ostentava a união forte e inseparável do jovem casal, almas que foram jogadas no fogo ardente e, apesar da chance e probabilidade, sobreviveram. Ninguém, jamais, poderia separa-los, ambos conheciam a dor da separação e a angústia da distância, lutariam e resistiriam com determinação. A feiticeira não hesitaria em proteger seu príncipe, humano e a herdeira do reino encantado.

Era o início de uma nova era, equilibrada e justa, de igualdade e respeito. Pela primeira e única vez na história, humanos conviveriam de maneira pacífica com criaturas mágicas, fadas e gnomos brincariam com crianças. Guerreiros e feiticeiras lutariam lado a lado, e tudo graças a união de duas almas completamente únicas e diferentes, mas que tiveram o destino unido e entrelaçado, como mágica.

(...)

- E terminei - Murmurei após escrever as últimas palavras do capítulo.

Olhei pela janela e constatei que horas e horas se passaram desde que entrei aqui, não havia sol ou nuvens branquinhas. A lua estava brilhando em todo seu esplendor, estrelas não escondiam sua magnitude e beleza, respirei e enviei o livro por e-mail. Meu corpo estava um pouco dolorido e exausto, além de faminto, o esforço mental trouxe consequências. Andei e sai do escritório, lentamente.

As paredes do corredor tinham quadros e fotos de família, as pouquíssimas que salvei das mãos nojentas de meu tio, ele queimou a grande maioria das fotografias de meus pais e eu. O maldito garantiu que não tivesse nada que lembrasse do passado, as lembranças de amor e carinho, apenas das experiências ruins e traumáticas que ainda viriam. Felizmente, o maldito esqueceu algumas.

Eram imagens do casamento simples e improvisado dos meus pais, eles nem tiveram tempo de tirar as fardas, se atrasaram devido a um chamado de última hora. Porém, é real e visível o olhar apaixonado de ambos, felizes e animados com a cerimônia, mesmo sem todo o glamour que planejaram. Eu guardo o belo e delicado vestido de minha mãe, ela não teve a chance de usar, mas guardou.

Ela dizia que, um dia muito distante, nós teríamos a oportunidade de usá-lo, quanto eu encontrasse o homem para dividir minha vida e sonhos, mas ela nunca poderá testemunhar esse momento tão aguardado. Eu nunca teria o privilégio de ser levada ao altar por meu pai e entregue ao noivo, não poderia mostrar seu neto e deixa-los conviver. Eu nunca mais terei a chance de ouvir histórias heróicas.

- Eu sinto saudades - Murmurei pegando o quadro da parede e indo até a varanda.

Meus pais, Felipe e Suellen, eram almas e mentes completamente diferentes. Meu pai adorava festejar em qualquer oportunidade, o homem, como todo bom brasileiro, assistia os jogos do Corinthians e vibrava com os gols de seus ídolos. Minha mãe, por outro lado, tinha a personalidade doce e calma, cantava todos os domingos na igreja e ajudava em eventos e cerimônias beneficentes.

Eles se conheceram ao acaso, meu pai estava de folga e usava as roupas de sempre, a blusa do timão e uma bermuda velha, minha mãe estava patrulhando o bairro e confundiu com um traficante foragido. Ela algemou seu futuro marido e levou até a delegacia, não deu ouvidos aos apelos do companheiro de farda e profissão. Eu dou risada de lembrar de seus relatos exagerados do dia.

- Boa noite, senhorita - Pulei assustada e chocado ao ouvir a voz do morcego.

Caralho - Xinguei em português, quase como um reflexo natural e instintivo.

Apertei o quadro com força e tentei por meus pensamentos em ordem. O herói sumiu durante dias e agora retornou como se nada o tivesse atingido, como se nossa proximidade fosse normal e comum. Busquei por qualquer machucado e ferimento visível, mesmo que a armadura cobrisse tudo, e não encontrei nada em nenhum lugar, isso é bom. Uma voz baixa e irritante zombou de minha atitude.

- Você sumiu - Acusei olhando de forma infantil e provocativa, chame do que quiser, eu não ligo.

- Sentiu minha falta? - Questionou e uma expressão de divertimento e deleite surgiu em sua expressão facial.

- Eu fiquei com sua capa, lembra? - Sorri e ele retribuiu, percebendo a mudança brusca no assunto - Por onde andou? Os bandidos de Gotham não são tão instigantes? - Perguntei e coloquei o quadro na mesinha de centro.

- É quase isso... - Respondeu vagamente e não entrou em detalhes - O que fez durante esse tempo? - Questionou curioso.

- Estou ajudando a planejar um baile de caridade com Bruce Wayne, terminei o livro de fantasia histórica que escrevia e estou com a ideia de pintar o cabelo de vermelho - Afirmei honestamente, eu preciso ocupar a mente de memórias dolorosas e sombrias.

- Gosto de seu cabelo natural, combina e reafirma sua beleza natural - Elogiou e minhas bochechas esquentaram.

- Está flertando comigo, Batman? - Sorri ao vê-lo retribuir o gesto discretamente.

- Um baile com Bruce Wayne, hm? Tenho que me preocupar com isso? - Provocou e seu tom bem humorado foi estimulante.

- O príncipe de Gotham e eu? É uma bela piada, não existe qualquer possibilidade disso acontecer, mascarado - Afirmei lembrando do número de mulheres que Wayne saiu.

- O motivo? - Perguntou o herói, sua voz e postura mudaram drasticamente.

- Bruce Wayne é um homem bonito, não nego que o acho charmoso e atraente, mas a imagem que ele mostra para a mídia é de um rapaz mulherengo e incapaz de manter laços saudáveis com outra pessoa - Respondi e ele ouviu com atenção - Eu não quero viver com a paranóia de que serei traída com a secretária ou qualquer outra mulher, eu quero romance e estabilidade, e Bruce Wayne não parece o tipo de homem que procuro - Terminei, séria.

- A mídia pode ser manipuladora quando necessário, senhorita - Defendeu o mascarado e acabei revirando os olhos, homens sempre defendem a corja.

- Eu não acho que foi manipulação ou as artimanhas da mídia quando Bruce Wayne foi fotografado saindo molhado de um hotel com duas modelos australianas, ou todas as suas outras aventuras públicas - Comentei tendo o prazer de ver sua expressão murchar - Ele fez sua própria imagem e nunca se importou com as consequências, eu não pretendo colocar o meu nome no meio dessa sujeira - Respondi e entrei na casa, indo em busca de sua capa de coloração escura.

- E se ele mostrasse que mudou? - Gritei ao perceber que o vigilante me seguia.

- É mais fácil um asteroide mudar a sua trajetória, e outra, ele não olharia para mim, o playboy prefere modelos anoréxicas - Ri alto e entreguei a capa ao dono - Eu lavei, ela estava cheia de sangue seco, um nojo, deveria cuidar melhor das suas coisas - Provoquei.

- Eu pretendo - Respondeu enigmático e franzi o cenho, homens são confusos.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora