- Aí eu bati com o taco na cabeça dele e ele não aguentou e caiu desmaiado no chão - Terminei com o resumo de tudo que aconteceu comigo.
O prédio da delegacia foi cercado de jornalistas e curiosos de plantão. A captura do Coringa rendeu a primeira página de inúmeros jornais, todos queriam o rosto do criminoso estampado para a população. Era óbvio que o objetivo consistia na publicidade positiva que poderia alavancar políticos importantes. Eu tinha perdido a noção do tempo, ocupada em responder os questionamentos de Gordon e Dick Grayson. Eu havia realizado um feito considerado impossível.
O palhaço estava algemado no meio do enorme salão da polícia, preso dentro de uma espécie de cela especial de segurança máxima. E homens armados e de expressão determinada faziam a escolta para que a situação não saísse de controle. Eu consegui sentir o seu olhar fixo em mim, desprovido de emoções que consideramos humanas e naturais. Algemas pratas e de aspecto reforçado prendiam seus pulsos, a cena é reconfortante e graciosa de certa forma.
Seline recebeu atendimento médico e estava no principal hospital particular da cidade, internada com toda atenção necessária para melhorar. O Wayne não apareceu desde que assumiu o manto de morcego, o homem queria garantir que ninguém fugiu. Eu desejei ardentemente receber um abraço, mas compreendi o quanto seria inapropriado, afinal o Batman não teria a ligação amistosa com outras pessoas que temos em nosso cotidiano. Eu entendi o motivo, mas não torna a experiência menos traumática.
- Lembra de outro detalhe? - Perguntou Dick, ele demonstrou respeito e comprometimento.
- O desgraçado destruiu minha moto. Ainda tem 5 prestações para pagar, acredita? - Murmurei e notei o canto de seus lábios ficarem curvados.
- Você é uma heroína para a cidade - Afirmou na tentativa de animar o meu humor.
- Eu sou é sortuda, aquele filhote de demônio se encarregou de destruir minha noite - Respondi e notei uma movimentação suspeita no prédio.
A imagem de Bruce caminhando na direção em que estávamos trouxe a sensação de segurança. Não aguentei e levantei da cadeira, incapaz de conter meu próprio corpo de reagir de maneira rápida. Ele parecia bonito como sempre, mas aprendi a reconhecer cada pequena alteração em sua fisionomia. O rosto tinha a expressão quase imperceptível de raiva, combinando com os olhos inchados e a pele pálida. Ele andava no próprio ritmo e transbordava firmeza.
Eu tinha tantas perguntas em mente, mas sabia que não era o momento para questionamentos. E era nítido que o palhaço ainda observava tudo de longe e sorria vez ou outra. Senti os braços forte de Bruce ao meu redor e o cheiro característico de seu perfume, a combinação que tanto precisei nessa noite louca. Ele manteve meu corpo preso contra o seu, querendo ter a confirmação de que era real. As lágrimas vieram no instante que me permiti liberar o estresse.
- Eu falhei com você - Sussurrou no meu ouvido e me arrepiei com a voz quebrada e desolada.
- Existe apenas um culpado e não é você. Bruce a minha motivação para escapar era garantir que não ficasse sozinho de novo, nunca mais. Você me trouxe forças mesmo não estando presente, então não diga que falhou porque não é verdade - Desabafei e recuei para acariciar sua face com carinho.
- Isso nunca mais vai acontecer - Prometeu e eu gostaria de acreditar, mas não consegui.
- Como está Seline? - Questionei ignorando uma parcela dos olhares curiosos que recebemos.
- Ela está bem, somente um pouco irritada, mas é compreensível - Respondeu e concordei, aliviada na melhor das hipóteses.
Bruce me olhou de cima a baixo e finalmente se deu conta do estado crítico que atingi. A sujeira tinha se misturado com sangue, criando uma camada feita inteiramente para lembrar do sofrimento de hoje. Seu olhar ficou escuro e sombrio, muito diferente dos que são direcionados para mim em dias normais. A frieza de sua postura foi despertada pelo palhaço que havia começado a bater palmas, aumentando a tensão que todos sentiam no momento. Agradeci quando recebi a liberação de Gordon para ir embora.
- Adeus, bonequinha - Gritou o Coringa tentando ser assustador e alcançando seu propósito.
- Espero que queime no inferno - Afirmei em meu idioma materno, xingamentos em português eram os melhores, além de deixá-lo confuso e surpreso.
Saímos do prédio e fomos bombardeados e era praticamente impossível caminhar. Os repórteres não esconderam a ansiedade por informações, as luzes e flashes dificultavam a visão. Entramos no carro e tive a ajuda de Bruce para sentar no banco, sentindo todo o ardor devido aos movimentos. Ele dirigiu rápido em meio aos veículos sucateados da cidade, seu maxilar estava firmemente pressionado. Os punhos cerrados demonstravam a raiva que sentia. O silêncio absoluto era desconfortável e cheio de tensão.
- Como aconteceu? - Questionou e lutei contra a vontade de estremecer ou não responder.
- Eu estava indo para sua casa, mas eles tinham outros planos. Acho que descobriram meu endereço através dos jornais, isso não importa agora. Bateram um carro contra minha moto... o resto pode imaginar - Respondi e ele não esboçou reação.
- O quê queriam? - Perguntou seguindo por uma rota que não levava para meu apartamento.
- Não é óbvio? Queriam me matar! - Argumentei não resistindo a obviedade da situação - E para onde estamos indo? - Murmurei curiosa.
- Um lugar seguro, tenho um loft escondido que servirá temporariamente para mantê-la viva - Afirmou como se tivesse planejado utilizar essa tática várias e várias vezes, e não duvido disso.
Ali eu tive um estalo... eles sabiam onde moro e estavam esperando por mim. Eu não poderia retornar e viver no mesmo endereço novamente, ali ficou bem nítido que teria que vender meu apartamento. Minhas raízes, aquelas que levei anos para desenvolver, eram arrancadas violentamente a cada quilômetro que nós avançamos pelas ruas. Eu teria que arranjar um novo espaço para viver, mas levaria a Sra. Bennett comigo e poderíamos recomeçar juntas.
Ela teria seu próprio quarto, não pagaria aluguel e moraria em um ambiente seguro e equilibrado. Meu cérebro tentava lembrar das áreas seguras e remotas de Gotham, onde teríamos paz e sossegado. Talvez a melhor solução fosse morar no condomínio? Eu tinha perdido tudo de uma hora para outra, exceto Bruce. O homem tinha uma das mãos mantida na minha coxa e não fazia menção de tirá-la tão cedo. Era sua forma de garantir que eu estava próxima dele.
- Vou resolver a situação, isso nunca mais irá se repetir, querida - Assegurou com firmeza.
- Eles não sabem seu segredo, não é melhor ser prudente e seguir em frente? Eu bati naquelas idiotas e a polícia prendeu todos eles - Comentei e senti uma enorme vontade de dormir até o dia seguinte.
- Seguir em frente? Eloise, olhe seu estado e me diga que pessoa merece ser tratada assim? Eu nunca permitirei que encostem em você dessa maneira e se safem para contar história - Rosnou e senti o Batman havia assumido o controle de seu corpo.
- Apenas... não mate ninguém - Pedi sem saber qual a dimensão de sua raiva ainda controlada.
- Eu não preciso mata-los, meu amor. A questão é que eles iram implorar por isso quando eu começar a ir atrás de cada miserável que concordou em ferir e machucar você - Respondeu e não sou como reagir e lidar com a mudança de comportamento, essas eram as consequências.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...