5 dias depois.
Zatanna dormia tranquilamente, ela teve facilidade em encontrar a posição perfeita. Eu não compartilhei da mesma sorte, mesmo em estado crítico de cansaço. A minha mente era uma emaranhado confuso de pensamentos, o fluxo de ideias era constante. Eu desejei saber como Bruce Wayne estava... se ele notou meu sumiço ou sentiu minha falta.
- Oh, vida miserável - Comentei ciente de que estava sendo precipitada em tudo.
Respirei fundo e levantei da cama. O frio combinava com a escuridão da noite. Eu era a única pessoa acordada na cabana, facilitando a movimentação pelo ambiente. Caminhei até a pequena cozinha e vasculhei os armários. A chaleira metálica estava na prateleira próxima da coleção de pratos. Liguei o fogo e coloquei a chaleira cheia de água ali, esperando que as meninas não acordassem.
Sentei na cadeira e aguardei, partiremos ao amanhecer. Eu senti saudade de conversar com a Sra. Bennett na varanda de casa, saber as fofocas do bairro e histórias de vida. Ela se tornou uma fonte inesgotável de sabedoria ou entretenimento. Aposto que Helena saberia o que fazer nessa situação. Ela colocaria Bruce contra a parede e exigiria respostas. Eu tinha a certeza de que o batman cederia.
Afinal quem poderia resistir a carinha de uma senhorinha tão adorável? Ainda mais nas roupas fofas que ela usa? A Sra. Bennett é um presente enviado pelos céus. Eu ouço sua voz potente atravessar as paredes finas, as notas agudas que somente uma cantora poderia ter a capacidade de atingir. As vezes, quando não há nada além de pensamentos e silêncio, sou capaz de ouvi-la chorando baixinho.
Imagino que Sra. Bennett é consumida e dilacerada com a ausência dos filhos. Ela e eu somos a família que escolhemos, ela é minha amiga e confidente, assim como sou a garota que diminuí o vazio em seu coração. Eu voltei a realidade com o som da chaleira apitando, a plenitude noturna sendo quebrada. Comecei a preparar a xícara de chá enquanto buscava os resquícios de sono que restaram.
Além de todo esse caos, ainda tenho um baile para comparecer. Deixei a lista completa do que o príncipe de Gotham precisaria para a conclusão da cerimônia festiva. Havia noções de flores, bebidas e decoração, além de muita comida e divertimento para os convidados. O infortúnio é saber que não poderia faltar, seria bom evitar Bruce por um tempo, mas ele sabe onde moro e, é inconveniente.
Talvez eu esteja exagerando? Afinal não somos tão próximos. Eu não contei cada uma das angústias e segredos que carrego, somos praticamente amigos desconhecidos. Batman e Bruce são fragmentos coexistindo dentro de um único corpo. Os dias nesse local remoto e afastado confundiram minha mente. Eu nutria indignação e raiva pelo herói mascarado, mas agora sinto afeição e simpatia.
O homem tem arriscado a vida dia após dia para ajudar a cidade, mesmo quando tudo parece ser inútil... sem reconhecimento. Eram muitos pensamentos para refletir e isso gerou ainda mais confusão dentro de mim. Adocei o chá e bebi um pequeno gole, o sabor doce era resultado de muito açúcar adicionado. Eu não sabia como reagir diante da situação, parecia não haver uma resposta correta.
(...)
Estávamos na estrada ouvindo música e conversando, assim como no dia que fugimos de Gotham. Eu estava quieta, a madrugada foi desgastante mental e emocionalmente. Notei o olhar preocupado das meninas, elas tem um dom impressionante para disfarçar. A estrada estava desobstruída, nenhum carro nas 2 vias que iam e vinham. A cor vibrante das árvores deu lugar ao clima cinzento e triste.
- Parece que chegamos - Comentei e me senti em casa, era uma sensação boa.
Eu sei que ninguém em sã consciência é capaz de gostar de morar aqui. A maioria dos moradores sonha em esquecer essa área de suas memórias. Enquanto a outra metade não teve opções e se acostumaram com o caos, é triste pensar nessa possibilidade. Seline tinha o semblante culpado, os olhos carregado com sentimentos turbulentos. Bárbara também era influenciada pela reação da namorada.
- Chegamos, vadias - Anunciou Seline na rua de minha casa, ela parou bem em frente a porta de entrada.
- Obrigada, por tudo - Comentei saindo e pegando a bagagem no bagageiro.
Acenei em despedida e subi os degraus da escadaria, arrastando as malas comigo. Eu caminhei no corredor lentamente, imaginando a sensação de tomar um longo banho quente na banheira. Coloquei a chave na fechadura e o som do trinco girando trouxe conforto, era a meu lar e ambiente seguro. Entrei na casa e respirei fundo, tudo estava do mesmo jeito e na posição que deixei quando saí.
Eu deixei a bagagem perto da porta, não tinha ânimo para arrumação no momento. Foi reconfortante encontrar o apartamento limpo e completamente arrumado. Eu agradeceria o cuidado e gentileza da Sra. Bennett, ela foi um anjo guardião para mim. Enchi a banheira e os sais de banho se dissolveram na água quente e borbulhante. Retirei a roupa e sentei ali, meu corpo relaxou graças a temperatura.
Eu tinha um baile para ir, mas não tenho vestido e sapatos apropriados. Respirei fundo e encostei a cabeça no mármore branco, era o pesadelo de muitas garotas. A lista aumentou quando percebi que deveria arrumar o cabelo e fazer a maquiagem. Eu gostaria de deitar na cama e dormir até amanhã, sem precedentes ou hora determinada para acordar. Eu deveria ter sido mais dura e negado ajuda.
- Eloise, você chegou? - Questionou uma voz inconfundível do outro lado da porta, era a Sra. Bennett.
- Só um minuto - Respondi e levantei em um rompante da banheira.
Me enrolei na toalha e corri apressada, o som dos passos vibrou no local. A velhinha se encontrava deslumbrante e belíssima. Cabelo perfeitamente alinhado e a maquiagem bela e impecável. O vestido dourado brilhava como o próprio sol, ela estava perfeita. Notei o pacote preto em seus braços, parecia importante, seu aperto era firme e forte. Ela não falou nada ou tentou contato, ela somente entendeu o braço e entregou o embrulho misterioso.
- Presente de Bruce Wayne - Comentou e deu meia volta, retornado para o apartamento ao lado, foi muito estranho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...