Eu ainda não entendo como deixei que a situação chegasse a esse ponto. De um modo sorrateiro e ardiloso, Alfred conseguiu moldar as circunstâncias ao seu favor. Eu estava sem saída diante da gravidade da coisa. Bruce não escondeu que estava se divertindo com todos os últimos acontecimentos inesperados. Tudo saiu de controle muito rápido.
Eu estava sentada diante da caríssima e requintada mesa de jantar. O silêncio foi tanto que se uma agulha caísse no chão, causaria o maior estrondo. O constrangimento foi grande e quase chorei ali mesmo, sob o olhar de seus funcionários curiosos. Como eu aceitei jantar aqui? Eu nem estou com fome para o começo da conversa. Alfred foi ardiloso, utilizando seu poder de persuasão apurado.
- Seu mordomo é perigoso - Afirmei com resquícios de desespero na voz.
- Eu sei, mas é inofensivo na maioria das vezes, Eloise - Bruce comentou enquanto uma infinidade de pratos eram servidos.
- Você está esperando mais alguém? Ou seremos somente nós dois? - Questionei e um pouco de vinho foi servido nas taças caras de cristal translúcido.
- Apenas você e eu - Respondeu e quase engasguei com a bebida adocicada - Eu tomei a liberdade de pedir que cozinhassem os seus pratos favoritos - Indicou a quantidade grande e absurda de comida na mesa.
Eu não soube como reagir diante de sua confissão, nunca tiveram tanto cuidado e zelo comigo antes. Bruce mostrou um lado gentil e doce que aqueceu meu coração. Ele tem sido paciente e compreensivo, mesmo quando não sou a melhor companhia. O homem ignorou o sarcasmo constante e as provocações que eu despejei em cima dele. Bruce abriu os portões de sua casa para mim, contou histórias sobre sua família e a origem da empresa.
- O que você quer de mim, Bruce? É uma brincadeira ou algum tipo de aposta? Ou você ficou entediado de ter mulheres lindas do seu lado e decidiu expandir os horizontes? Eu juro que não entendo o que estamos fazendo, mas estou cansada de joguinhos - Despejei tudo, a confusão foi tamanha que as palavras saíram de minha boca, sem filtro.
- Acha que estou jogando? - Perguntou e se levantou com graciosidade.
- Se coloque no meu lugar, Bruce. Você é uma garota estrangeira, sozinha da outro lado do oceano. E, de repente, um homem rico vem e tenta entrar na sua vida. O que você faria na minha situação? Iria sorrir e achar normal que isso aconteça? Ainda mais em Gotham? Nada é o que realmente parece aqui, as sombras se escondem durante a noite porque tem medo e receio dos mistérios dessa cidade - Respondi e o rapaz congelou no lugar.
Foi como se cada palavra entrasse firme em sua mente e ecoasse ininterruptamente. O meu desabafo pareceu desarma-lo como uma leoa que defende os filhotes contra perigosos predadores. Eu estava sendo honesta com ele e comigo mesma, expondo os pensamentos e delírios que tem povoado minha mente. A sua reação mostrou que ele ainda não havia tido a visão por inteiro da situação em que estamos entrando. É uma grande confusão.
- Eu estou sendo sincera com você, uma parte de mim está assustada e questionando a sua sanidade mental. Eu estou pedindo para que também seja honesto comigo, sem todas as defesas que criamos ao longo de anos em isolamento e afastamento social. Qual a porra do seu problema comigo? - Perguntei vendo o olhar surpresa em seu rosto.
Eu testemunhei Bruce Wayne quieto, sua expressão tomada por seriedade. Os olhos de que tanto venho admirando, ainda que negue a mim mesma, se tornaram mais escuros. Ele desviou o olhar para a taça de vinho perto das mãos e deslizou os dedos sobre a peça frágil e repleta de histórias que desconheço. Eu não pude deixar de admira-lo, mesmo em silêncio e perdido em pensamentos, sua beleza etérea é inegável e indiscutível.
- "Não chamo meu amor de idolatria. E nem de ídolo você a quem eu amo. Sei que não posso exigir seu amor. Assim como proclamo meu amor galante. Dou-lhe apenas algumas razões para que goste de mim. Inalteradamente eis o que exprimo. Deixo a cargo do acaso a confiança na vida. Pois todo meu cantar a você se alia." - Arfei quando sua voz grave começou a profanar palavras doces e incrivelmente familiares.
- Está citando Shakespeare? - Indaguei e ergui as sobrancelhas em descrença.
- Eu gosto de você, Eloise. Gosto quando seus olhos queimam como fogo quando você decide ser ousada e provocante. Eu gosto que me desafie a cada 3 frases que saem de seus lábios carnudos e tentadores. Eu gosto de ser eu mesmo na sua presença, sem inibições ou receio de sorrir com verdade - Bruce levantou e caminhou na minha direção - Eu gosto que o seu sorriso brilhe mais que o próprio sol ou as estrelas mais brilhantes da constelação. Tudo em você é perfeito para mim - Desabafou com a intensidade de um furacão descontrolado e que não tem direção certa.
- O quê? - Perguntei em choque, eu pude sentir a tensão na atmosfera.
- Eloise, você pediu honestidade e estou tentando ao máximo expressar o que sinto na sua presença. Eu ainda não entendo direito as emoções que estou sentindo, é como navegar em águas desconhecidas - Afirmou com seus olhos fixos nos meus - Eu nunca senti algo na mesma intensidade. Estou pedindo que tenha um pouco de paciência e coragem para saber onde tudo isso vai dar, Isie - Pediu e sorriu, ele pareceu nervoso e esperançoso.
- Você quer namorar comigo? - Indaguei incrédula, eu devo ter entrado em coma e isso são as primeiras alucinações.
- Futuramente, sim. O que estou pedindo no momento é a chance de mostrar que tenho mais a oferecer do que é mostrado em jornais e revistas de fofoca - Argumentou e apertou a sua mão contra a minha.
- Então, é um cortejo? Como nos livros e histórias que costumo escrever? - Perguntei, a possibilidade foi estranha e atraente.
- Sim, é isso, um cortejo - Concordou em questão de segundos, foi perturbador.
Eu cresci desejando algo semelhante as histórias de contos de fadas. Ao menos sobre o amor verdadeiro e o felizes para sempre, me decepcionei quando cresci e descobri que era somente mentiras e enganações. Porém, essa é a oportunidade de experimentar o que tento criar com minhas histórias. Bruce Wayne será meu cavaleiro de armadura reluzente. Eu serei a princesa disposta a jogar tudo pelos ares ao menor indício de traição e farsa.
- Não faça com que me arrependa disso, Sr. Wayne - Afirmei e respirei fundo, confusa e empolgada ao mesmo tempo.
- Eu nem sonharia com isso - Ele sorriu e acariciou o meu pulso com o polegar, fazendo pequenos círculos imaginários - Agora, vamos comer, minha querida? - Questionou.
- Sim, eu adoraria - Comentei lançando o olhar penetrando para Alfred, que observou de longe o desenrolar da situação.
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Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...