Capítulo 28

2.4K 304 64
                                    

A raiva queimou nas minhas veias. Eu tinha que enfrentar a situação de frente, não havia apenas uma vida em risco por aqui... Seline precisava de mim e eu não decepcionaria minha amiga. A dúvida sobre qual o motivo do sequestro continua presente, latejando e alimentando a chama de indignação. Por que ele teve que causar tantos problemas? O Coringa destruiu um dia que poderia ter sido maravilhoso. Eu queria socar a cara pintada desse desgraçado maldito, gostaria de chutar suas partes preciosas de homem.

- Por que me escolheu? Eu não conheço você, o que motivou essa palhaçada? - Perguntei irritada e as palavras eram condizentes com a emoção.

- Oh, bonequinha, você é a namorada do grande e poderoso Bruce Wayne. A razão é simples, ninguém se importa quando os mais pobres são sequestrados e mortos nas ruas sujas de Gotham - Respondeu sem conter o veneno presente em sua voz - Eu quero ver o caos reinar nessa cidade. E tudo acontecerá com sua morte, é um pequeno sacrifício, não acha? Prometo a você que será lento e doloroso - Ameaçou.

Eu não soube como reagir a princípio com tanta frieza e insensibilidade, mas busquei por aqueles que trouxeram sentido para minha existência. Imaginei os olhos cheio de encorajamento de meus pais, a voz de ambos sussurrando frases de encorajamento, igual a quando faziam nos jogos da escola. Eu não consegui sequer cogitar imaginar a reação de Bruce quando as notícias chegarem aos seus ouvidos. Ele não poderia lidar com outro falecimento, ainda mais agora que as coisas estavam se encaminhando tão bem.

Eu apenas encarei o homem fantasiado como o símbolo da infância. Quem não gostava de palhaços? A verdade é que adorava frequentar circos quando as caravanas chegavam na cidade. O cheiro de pipoca e maçã do amor estavam impregnados no lugar. Ali era o ambiente em que sonhos eram transformados pela magia mais pura que existe. Entretanto, o Coringa era o exato oposto da verdadeira essência criada através da maquiagem colorida e roupas vibrantes. Eu sentia a maldade e insanidade em seu olhar.

- Eu nasci no Brasil, sabia? Sou criada no lindo e belo Rio de Janeiro - Afirmei girando o taco nas mãos e sentindo o peso ser distribuído igualmente.

- Não estou interessado na sua história de vida - Argumentou e acabei sorrindo, não havia motivo por trás do gesto, foi uma reação natural.

- É divertido ouvir vocês dizendo que Gotham é a cidade do crime, onde vivem os piores criminosos e traficantes do mundo inteiro. Realmente, os níveis do assaltos e assassinatos é alto, sem mencionar todos os malucos fantasiados... é como estar bem no meio da parada gay, mas sem o glamour que eles tem - As minhas palavras pareceram atingi-lo em cheio - Acha mesmo que é o primeiro homem a me ameaçar? Não é, querido, sinto muito por estragar seus sonhos. Sua arrogância não é diferente dos assaltantes que vivem nas favelas brasileiras. A diferença é que eles vestem camiseta de futebol, bermuda e chinelos - Desdenhei e olhei no ambiente buscando uma alternativa.

- Pare de falar - Ordenou começando a exibir os traços reais de sua personalidade hostil.

- Eu cresci vendo amigos escolhendo caminhos que trariam dor e sofrimento para várias famílias que sequer tinham ligação. Eu sou a namorada do Wayne e ninguém não tem nada haver com isso. Você adora se alimentar do medo que as pessoas sentem, talvez porque seja o único momento que realmente consiga sentir outra emoção que não seja ódio que criou para si mesmo - Afirmei sem medir as consequências que as provocações teriam no indivíduo.

- Acha que me conhece somente porque ficou a mercê da minha presença? Isie, psicólogos de muitas áreas tentaram compreender o que eles dizem ser os "sinais de transtornos mentais". É o termo científico e politicamente correto de dizer que sou louco - Riu em total descaso ao que era proferido.

- É um jeito ameno de dizer que você é perigoso para a sociedade - Respondi contrariando sua fala, os seus olhos buscaram pelos meus.

- Eu acredito que aquilo que não nos mata nos torna mais... estranhos - Comentou antes de passar a mão sobre o cabelo verde desgrenhado.

- Acredite em mim, amigo, você não está morto porque nem o diabo quer sua companhia - Provoquei e fiquei surpresa quando ele explodiu.

Não houve ameaças, tiros ou facadas. Ele tinha o rosto totalmente desprovido de emoções, era como olhar para a face do desconhecido. O Coringa apenas grunhiu, o barulho saindo do fundo dos pulmões. Seu corpo se moveu através da forma descontrolada e eu não precisei pensar no que aconteceria a seguir. Meu cérebro imaginou possíveis cenários, porém todos se mostraram macabros, mortais e irreversíveis. A frieza de seus olhos contrastava com a violência iminente e desenfreada de sua investida brutal.

A adrenalina disparou por minhas veias e sentia as descargas de eletricidade. O coração acelerou nos segundos seguintes e os dedos dos pés curvados no interior dos sapatos foi agravante. O taco de baseball era minha única arma de defesa, as pistolas deixadas com Seline seriam úteis no momento. Eu queria tanto dar alguns tiros nesse palhaço, perto o suficiente das areas importantes, mas distante o suficiente da zona que delimita vida e morte. Eu não queria sua morte, a minha vontade era somente machuca-lo.

Sangue de Jesus - Gritei pouco antes de atingir o taco de madeira contra sua cabeça.

O criminoso fantasiado caiu desmaiado e fiquei sem saber o que fazer com a energia acumulada. Era tão fácil assim acabar com o Coringa? Então por que o Batman demorou tanto tempo? Bruce parecia estar surtando para prender o palhaço, pretendo esfregar o acontecimento de hoje na sua cara bonita. Suspirei, a situação não saiu conforme o planejado, esperava as cenas incríveis de luta que acontecem nos filmes que costumo assistir. Chutei seu estômago para garantir que o homem estava realmente apagado. Eu olhei ao redor e percebi que estava sozinha.

- Amiga, pode sair daí - Gritei atraindo a atenção da mulher gato que ainda esperava por mim.

Ouvi a som arrastado de seus passos e corri ao seu encontro, ela parecia ainda mais pálida. O sorriso em seu rosto denunciou a surpresa que sentiu com o silêncio absoluto desse mausoléu abandonado. Bufei com a reação explícita e surpreendente, admito que o meu ego foi acariciado de forma recompensadora, eu estava orgulhosa do que consegui alcançar. Procurei na roupa do Coringa e encontrei meu celular no bolso de sua calça, agradeci pela senha de 11 letras, assim nenhum imbecil acessaria o conteúdo.

- Senha longa - Comentou enquanto eu digitava os caracteres com rapidez e urgência após aguardar que o aparelho fosse finalmente ligado.

- É o nome do time de futebol que torço - Sorri e procurei na lista de contatos por Bruce.

- Está ligando para quem? - Questionou olhando o corpo inconsciente jogado no chão.

- Adivinha? - Sorri maliciosa e implorei aos céus que ele atendesse no primeiro toque - Atende, atende logo - Implorei.

Evangeline Eloise Santos, onde você está? Sabe o quanto fiquei preocupado com você? - Perguntou em total desespero e frustração, além de medo.

- Oi, amor - Murmurei e a sensação de alívio não era suficiente para explicar o que senti na hora - Você pode rastrear meu celular e vir nos buscar? O Coringa e seus espantalhos estão aqui - Resumi.

O Coringa... Isie... o que? - Exigiu e imaginei as veias saltando na zona pescoço.

- Seline está sangrando, Bruce. Precisamos que traga uma ambulância equipada para atender alguém que foi baleado. O negócio está feio, ela está suando e tremendo, eu não sei como ajudar - Admiti e ele me surpreendeu com o silêncio do outro lado.

Você está machucada? - Perguntou com certo receio presente em sua voz, parecia outra pessoa.

- Estou arrebentada, mas consegui me vingar. A minha preocupação é na hora de tomar banho, posso sentir a ardência que vai ser - Respondi ciente de que seria inevitável lavar os ferimentos.

Chego em breve - Comentou e desligou, fechei os olhos e agradeci internamente, estávamos salvas e o morcego traria ajuda qualificada.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora