Capítulo 17

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O clima da festinha mudou. Eu bebi todo o álcool que consegui ingerir durante a noite e madrugada à dentro. Acordar no dia seguinte foi desesperador, além da enxaqueca aguda e intensa, minha casa estava revirada. Eu quase chorei deitada no meio da sala, minha casa se tornou irreconhecível. As garrafas jogadas em lugares aleatórios, o tapete rasgado... parecia marcas de garras afiadas de gato.

As meninas estavam amontoadas. Cada uma delas adormeceu perto do corredor, tudo ficou confuso e as memórias pareciam... uma mistura ilegível e desordenada. Minha cabeça latejava violentamente, mas forcei meu corpo a levantar do chão, mesmo com dificuldade e extremo cansaço. Caminhei até o banheiro, eu precisava tirar o cheio de álcool da roupa e de minha própria pele. É um fato.

Agradeci pela água quente levar embora os vestígios desagradáveis que ficaram. Meus pensamentos foram para Bruce Wayne, eu me odiei por ser enganada tão facilmente. Aquele maldito terá o que merece. Pretendo entrar na sua cabeça... e mostrar que todos os inimigos que derrotou ao longo da vida... eram fracos e mundanos perto da minha vingança. O herói e vigilante se acha esperto demais.

Vindo até minha casa e rindo de mim, as risadinhas maliciosas finalmente tinham uma justificativa... ele estava zombando de mim. O que ele pretendia com isso? Eu me sinto uma cobaia de experimento científico. A raiva tinha se sobressaido em relação ao emoções, nada poderia impedir as lágrimas de vergonha. Seu nome trouxe o sabor amargo a boca. Bruce se mostrou um completo canalha.

Eu entendo que ele não poderia revelar a sua identidade secreta. Porém, sua atitude foi totalmente precipitada. E se algum inimigo se informasse sobre minha existência? Eu posso imaginar cenários sanguinários, em todos não restaria nada além de meu cadáver. Eu soquei a parede com toda a força, soquei repetidas e repetidas vezes, até sangrar. O chão ganhou a coloração avermelhada, e eu chorei.

- Maldito seja, Bruce - Grunhi irritada, ele nunca deveria ter se aproximado de mim - Seu idiota, imbecil - Encostei a cabeça na parede e deixei a água me envolver.

Eu permaneci ali, sozinha. Alfred, foi seu trunfo premiado. Quem desconfiaria dele? Um senhor de aparência franzina e indefesa, cada lembrança envolvendo o bilionário tem sido a responsável por lágrimas intermináveis. O elo que pensei estar se formando... acabou. Seus olhos carregados de segredos ganharam uma história, embora solitária e sombria. Quem iria acreditar que o príncipe de Gotham tem essas responsabilidades nas costas? 

E se ele estiver sendo sincero? Eu posso suportar vê-lo arriscando a própria vida? Toda a noite e sem qualquer certeza de retorno? Eu sou capaz de viver com a ausência durante as noites e madrugadas? Sabendo que monstros e criminosos querem sua cabeça? O herói não hesitaria em morrer pelo bem comum, mas eu acabaria perdendo meu parceiro de vida. Esse maldito bagunçou os planos que sonhei, nada me preparou para essa situação.

Eu gostaria de nunca ter tê-lo conhecido e trazido para meu cotidiano. Eu senti culpa e vergonha por nutrir sentimentos por Bruce e o batman ao mesmo tempo. Embora fossem as emoções distintas uma das outras, elas eram fortalecidas a cada simples gesto. O herói era uma sombra protetora, eu senti segurança em suas visitas noturnas diárias. E o bilionário se tornou uma presença quase constante, ele foi persistente e muito audacioso.

- Amiga, está tudo bem? - Ouvi Barbara e sua voz repleta de preocupação.

- Sim, estou saindo - Respondi e ouvi um resmungo ilegível do outro lado da porta - Vou apenas vestir algo confortável - Comentei, ela recuou e agradeci internamente.

Desliguei o chuveiro e coloquei as duas toalhas felpudas com estampas floridas. Meu ânimo estava péssimo e minha aparência não mostrou o contrário. Escovei os dentes e sorri discretamente enquanto escovei o cabelo, um pouco de sobriedade tingiu minha autoestima de beleza e glamour. Passei o hidratante com aroma de baunilha e vesti o pijama, as peças eram simples e discretas. O tecido azulado se destacou graças ao tom pastel.

- Estou pronta - Anunciei fingindo aquele sorriso largo - Estão com fome? - Indaguei e a comoção foi imediata e coletiva.

Elas observaram cada movimento como falcões vigiando a presa. Eu sabia que seriam questionamentos infinitos... perguntas que eu não estou preparada para responder. Iniciei os preparos das panquecas e o cheiro preencheu a cozinha. As meninas vieram para perto e me surpreendi com o silêncio mórbido, é difícil de lidar com essa reação estranha, elas nunca se mostraram tão silenciosas antes.

Empilhei as panquecas nos pratos, suas aparências eram convidativas. Despejei calda de caramelo e minhas amigas avançaram, me lembrando animais selvagens famintos. Comi somente alguns morangos, sem disposição. A atmosfera se tornou cheia de tensão, era uma enxurrada de sentimentos conflitantes, e logo no centro de tudo, estava eu. Respirei fundo, a aceitação se sobressaiu e venceu.

- Eu não sei o que fazer - Confessei, tudo era demais para suportar... entender - Entendo os motivos dele... - Suspirei, perdida.

- Mas ainda machuca, a sensação é que você está sendo traída... enganada - Seline foi a voz da razão, ela parecia ter decifrado todos os meus segredos e incertezas.

- Exatamente. Eu deveria ter suspeitado de alguma coisa, quanto mais eu penso nisso, maior é minha vontade de socar a cara desse maldito homem - Afirmei e elas deixaram uma risada discreta escapar, ao menos alguém foi agraciado com senso de humor aqui.

- O que acham de passearmos? Eu acho que merecemos uma pequena viagem, somos mulheres adultas e desimpedidas - Seline não negou o entusiasmo com a proposta - Apenas bebidas, aventuras e boas risadas, com todas as maluquices que imaginarmos - Concluiu de maneira descontraída e exagerada.

- Eu concordo - Comentei e permiti que a euforia da mulher-gato me contagiasse - Sem celular, somente nós quatro - Decretei.

- Estamos mesmo fazendo isso? - Notei Zatanna deixar a comida de lado e olhando os rostos de cada uma de nós - Sério? Mesmo? E o que estamos esperando? - Ela levantou com graciosidade e estalou os dedos.

Diversas malas surgiram diante de nós e o choque me deixou anestesiada durante uma lacuna interminável de tempo. Duas bagagens eram as que costumo guardar dentro de meu guarda-roupa. Como isso aconteceu? O poder de Zatanna ainda me impressiona como nada que conheço no mundo, é incrível. Guardei os aparelhos celulares dentro da gaveta, eu tinha cedido rápido demais a tentação. E se algo de ruim acontecesse? Ninguém saberia. Respirei fundo e ignorei a voz da razão.

- Podemos ir? - Perguntei satisfeita com a possibilidade de causar preocupação e uma ligeira onda de aflição em Bruce Wayne, ele se importaria com meu sumiço repentino? 

- Vamos logo - Barbara gritou arrastando as próprias malas escada abaixo.

- Para onde estamos indo? - Questionei ainda perdida nesse plano de última hora - Eu não lembro de discutirmos o destino - Mordi o lábio, temerosa.

- Iremos até onde a estrada nos levar ou a gasolina acabar, o que acontecer primeiro - Afirmou Seline e franzi o cenho, eu começo a questionar minha escolha de amizades.

Espero encontrar equilíbrio durante essa viagem maluca.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora