Bruce Wayne e a Sra. Bennett riam e não esconderam que tinham afinidade, os dois se deram bem rapidamente e admito ter sido um verdadeiro choque. O bilionário demonstrou a educação e gentileza de um lorde inglês, seus movimentos eram elegantes e extremamente suaves, o cheiro de colônia masculina e suas roupas caríssimas completavam o look rico e de herdeiro de grande império.
Eu preferi o silêncio e continuei pegando os biscoitos e comendo pudim, minhas meias florescentes atraiam constantemente o olhar de Wayne, que sorria discretamente. Porém, o visitante inesperado não tocou no assunto de real importância, o baile de caridade. O tempo passou e a conversa entre eles rendeu, fiquei feliz por mais alguém se interessar pela vida da velhinha tão adorável e doce.
Eu imaginava desfechos mirabolantes e mágicos para meu livro, um romance épico de proporções imensas, o enredo foca no amor e paixão juvenil entre pessoas de classes muito distintas, um romance de época proibido, mas que é incrivelmente sensível. Eu adoraria ter o privilégio de experimentar esse sentimento de proteção e completa entrega, porém sei que a mentira de contos de fadas é real.
Não quero um príncipe montado em um belo cavalo branco, usando sua característica armadura reluzente enquanto empunha o arco e flechas ou sua espada inseparável. Eu quero alguém capaz de dividir sua vida sem medo e culpa, que entenda minhas manias estranhas e não se sinta envergonhado, alguém que não se importe com minha coleção de blusas com estampa de filmes, heróis e séries.
Espero encontrar alguém disposto a ser meu parceiro de aventuras, um homem louco ao ponto de embarcar de olhos fechados nos meus sonhos e planos futuros. Altruísta, forte e corajoso, a lista é longa e talvez esse rapaz nunca exista de verdade, mas sonhar é tudo o que me restou. Eu quero alguém que conheça o lado obscuro da vida e que compreenda os traumas que vivenciei ainda jovem.
Eu desejo um homem responsável, fiel e extremamente maduro, que não tenha medo e receio de se expressar, mas ainda sim, tenha a capacidade de me ouvir, uma pessoa com a mesma intensidade que eu. Eu quero o que as pessoas querem, eu quero um amor que me consuma, quero paixão e aventura e até um pouco de perigo. Eu quero viver e sentir todas as emoções e nuances humanas.
- Eloíse? Você está bem? - Questionou a Sra. Bennett com o semblante preocupado.
- Sim, estou apenas pensando - Sorri e a mulher acentiu parecendo satisfeita.
- Pensando no que, querida? - Insistiu de maneira curiosa e intrigada, típico dela.
- O Sr. Wayne e eu estamos organizando um baile de caridade, o que acha de cantar na festa e relembrar os velhos tempos? - Ergui as sobrancelhas, nervosa com sua reação.
- O quê? - Perguntou Bruce mostrando o primeiro indício de surpresa.
- A senhora sempre menciona todas as suas grandes apresentações, e eu sei que tem saudades daquela época, estou oferecendo a oportunidade de mostrar que não perdeu seus dons vocais e ainda é talentosa - Respondi de imediato, ignorando o olhar insistente daquele bilionário teimoso e cabeça dura.
O silêncio preencheu o ambiente, dúvida e incertezas beirando níveis absurdos, eu não sabia qual seria a resposta da cantora e muito menos se Wayne concordaria com a ideia, eu apenas achei que valia a pena tentar. A voz de Helena Bennett é poderosa e magnética, sem dúvida, é inconfundível, adoraria testemunhar uma de suas apresentações e ver o brilho nos seus olhos cansados e experientes.
- E então, senhora? - Insistiu Bruce e não acreditei que o homem havia cedido.
- Eu adoraria - Concordou e notei o olhar emocionado e lacrimejante.
- Ótimo, melhor começar os ensaios e a seleção das músicas, seu público será difícil e incrivelmente crítico - Comentei puxando uma das meias que escorregou do joelho e desceu até o tornozelo, expondo uma tatuagem.
Era o desenho de um pequeno pássaro azul com as asas abertas, simbolizando meu vôo para uma nova vida, um novo recomeço e novas aventuras, o surgimento de uma nova e mais empoderada eu. Notei que Bruce franziu o cenho e encarou a tatuagem com extrema e estranha atenção, tentando memorizar todos os mínimos detalhes, a atitude fez com que o constrangimento aumentasse.
- Quais são as suas ideias para esse seu esplêndido baile de caridade? - Perguntei com o olhar direcionado para o Wayne.
- Eu... Eu não pensei em nada - Afirmou e mostrou vergonha por admitir em voz alta e na presença de outra pessoa.
- Em nada? Nadinha de nada? - Indaguei um pouco incrédula e indignada.
Ele veio do outro lado de Gotham e seus planos para a cerimônia são inexistentes, seu método de raciocinar não faz sentido, os seus pensamentos não condizem com a postura e imagem que tenta mostrar para a mídia. Sorri com escárnio e tamborilei as unhas sobre as irregularidades da mesa, tenho a impressão e quase certeza de que irei tomar as decisões e escolhas mais importantes.
- Você está pagando por tudo, então me diga um tema apropriado e pensamos a partir daí, tudo bem? - Perguntei reunindo o último e resistente fio de esperança.
Bruce Wayne permaneceu quieto e seus olhos mostraram que ele estava pensando, as alterações em sua postura eram tímidas e um tanto quanto neutras, dificilmente notariam o quanto está nervoso, mas qual o motivo? Vi a Sra. Bennett sorrindo enquanto olhava para os lados, tentando disfarçar, talvez ela entenda o que está acontecendo com o bilionário, anos de experiência trazem essa habilidade.
- Baile de máscaras - Afirmou Wayne e a resposta foi satisfatória, a ideia é boa.
- Tudo bem, será realizado onde? Espero que tenha o local em mente - Insisti e anotei o tema no bloco de notas do celular.
- Minha casa está em suas mãos, Eloíse - Respondeu expondo o sorriso charmoso que conquistou centenas de mulheres.
- Certo... - Murmurei ignorando a breve e rápida insinuação e flerte.
Continuamos dialogando e, aos poucos, fomos entrando em um consenso, a música e escolha dos músicos seria decisão de Helena Bennett, ela entraria em contato com amigos do passado que fizeram sucesso. Bruce e eu decidiremos o resto, desde a decoração até o buffet, além do design de convites, estou com cansaço apenas de imaginar todo o trabalho que teremos daqui para frente.
- E quem será seu acompanhante, minha querida? Não poderá ir sozinha - Comentou de forma maliciosa, Sra. Bennett é única, mesmo que quase me enlouqueça.
- Eu ainda não sei - Respondi tentando a abordagem educada e furtiva.
- Alguém em mente, senhorita? - Ouvi as engrenagens do cérebro de Bruce Wayne, sua curiosidade latente.
- Ainda não - Admiti e meu rosto ganhou a tonalidade rosada, eu estava envergonhada com o assunto em pauta.
- Ela é quase uma freira, eu nunca vi um rapaz ao seu lado, é um desperdício, na idade dela eu tinha homens aos meus pés - Afirmou a mulher idosa sorrindo nostálgica.
- Eu apenas sou discreta - Respondi e os dois me olharam surpresos e chocados.
- Diga os nomes - Ordenou Wayne com a voz carregada de escárnio e raiva contida.
- Não, enlouqueceu? - Cruzei os braços e desviei o olhar para a janela próxima.
- Apenas um nome - Implorou a idosa de cabelos brancos como a neve.
Os dois não desistiram tão cedo, ambos parecem ter reinventado o conceito do termo teimosia, respirei fundo e ponderei a pequena possibilidade de revelar somente um nome. O que de ruim poderia acontecer? Eu tenho uma lista variada de affaires, incluindo escritores e colegas de trabalho, empresários, jornalistas e bilionários, entretanto nunca encontrei uma alma compatível com a minha.
- Um nome? - Insisti olhando para eles e buscando a confirmação necessária.
- Somente um - Respondeu a velhinha e Wayne apenas acentiu, pensativo.
- Oliver Queen - Revelei e ouvi os gritos e gargalhadas altas de minha vizinha.
- Oliver maldito Queen? - Exigiu Bruce, as veias de seu pescoço pulsavam bastante.
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Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...