- O que está fazendo? - Perguntou Bruce vendo que eu estava concentrada no celular.
- Procurando apartamentos - Respondi e notei o silêncio de meu namorado, mas continuei buscando as melhores opções disponíveis no mercado.
A pressão de encontrar moradia própria causou certo desânimo. Eu gostava de meu apartamento, os cômodos foram decorados ao longo dos anos, todos os detalhes foram pensados com muito cuidado. Era meu pequeno paraíso pessoal. O único lugar onde eu tinha total liberdade e autonomia. E, embora Bruce se mostrasse receptivo e acolhedor, não era o mesmo, o ambiente luxuoso parecia superficial. Não tinha calor e aquela atmosfera gostosa de casa.
Os móveis possuíam design moderno e cores neutras. Eu prefiro ambientes calorosos e repletos de vida, como vasos de plantas e bugigangas que nunca conversam entre si, fazendo aquela bagunça bonita e sem sentido algum. O meu cantinho havia sumido de minhas mãos, agora era hora de recomeçar, talvez de encontrar algo maior e mais amplo. A Sra. Bennett se adiantou e ofereceu as poucas economias que juntou ao longo desses meses, mas recusei. Eu não usaria o seu dinheiro por nada no mundo, nunca.
- Poderíamos morar juntos - Bruce sugeriu e me espantei com o rompante brutal, afinal tornaram uma questão complicada ainda mais complexa.
- Você bebeu ou usou drogas? - Questionei e ele pareceu magoado com minha resposta.
- Esqueça o que eu disse - Respondeu e cristais de gelo encobriram sua voz, sua personalidade livre e desprovida de emoções, era o Batman diante de mim e pude sentir a coisa mais próxima de empatia com os seus inimigos colecionados nesses anos.
- Bruce... A ideia de morarmos juntos não chega a ser repugnante ou inconcebível. É só que ainda não chegamos nesse nível de relacionamento, não queria magoar seus sentimentos, mas adiantar a coisas não é a solução dos nossos problemas - Argumentei e ele não esboçou reação imediata, entretanto, reconhecia o modo como seus olhos procuravam um objeto para que pudesse se concentrar e pensar.
O herdeiro Wayne sempre pareceu racional e de mente crítica, mas as coisas mudaram desde que ele se envolveu comigo. Os papéis foram invertidos e era estranho ser a pessoa responsável da relação. Queria pensar que esse momento nunca chegaria, porém os últimos dias mostraram o que inevitável, Bruce queria estabilidade e uma família. Ele tentava ser discreto, e na maioria das vezes conseguia, mas eu notava seus olhos vagando entre imagens de alianças. O jeito que passava horas olhando o quadro de seus pais e tinha o olhar esperançoso e sonhador.
Eu conseguia compreender suas motivações. A sensação de querer alcançar o que eles tiveram, mas ainda tínhamos um longo caminho a trilhar. Eu queria um pouco de normalidade dentro do possível, longe e afastado do caos que nossas vidas viraram. O herói e defensor de Gotham merecia ter um recanto seguro e confortável para retornar após as vigílias, porém tudo deve acontecer com naturalidade. E agora, sabendo a gravidade do problema criado, apressar as coisas era um erro que não podíamos cometer.
Talvez no futuro, quando estivermos confiantes o suficiente para dizer, sem medo ou hesitação, que a hora de juntar os trapinhos chegou. Por enquanto sua companhia noturna é o bastante, além de apreciar as borboletas no estômago quando nos vemos após um longo dia separados. Esse períodos dividindo o teto e convivendo diariamente evidenciou que não estamos preparados para esse desafio... Ainda. Tínhamos que ser sinceros um com o outro, mesmo nas horas onde a verdade pode ser dolorosa de ouvir.
- Talvez tenha razão - Murmurou ressentido, sua natureza orgulhosa não cederia tão fácil.
- Daqui um tempo podemos ter essa conversa e quem sabe as coisas tenham mudado - Encorajei, ele não pareceu convencido de minhas palavras.
- E se esse tempo nunca chegar? - Questionou e eu soube que pensamentos sombrios haviam gerado imagens perturbadoras em sua mente.
- O que isso significa, Bruce? - Questionei vendo até onde ele permitiria que avançassemos.
- Eloise, você mais do que ninguém sabe que eu tenho segredos que nunca poderão ser revelados. As minhas escolhas aproximaram pessoas interesseiras e afastaram os que eram sinceros - Respondeu e não me atrevi a interromper seu relato honesto - Eu posso sair um dia e não voltar. E sabe qual será o legado de minha família? Absolutamente nada, seremos nomes esquecidos dentro de anos - Desabafou.
- Isso não é verdade, seus pais deixaram muitos frutos de suas ações beneficentes. A maioria poderia ter esquecido da bondade e generosidade dos Wayne e seguido em frente, mas eles serão lembrados pelos corações que foram ajudados por sua família, Bruce - Respondi e, dessa vez, um sorriso discreto surgiu nos lábios que tanto aprendi a amar e respeitar.
- Você não cansa de me surpreender, Eloise - As palavras demonstraram carinho e afeição.
- Eu estou do seu lado, Bruce, sempre. Não haja com desespero, nós temos muito tempo para saber o momento de subir o próximo degrau - Encorajei e sua expressão amoleceu, finalmente.
- Acho que está certa, meu amor - Comentou de maneira leve, nem parecia o mesmo homem.
- Você quer colocar o meu nome em algum tipo de documento oficial? Aceito ser herdeira de parte do seu testamento, sem pressão - Afirmei e ele riu como raramente fazia na presença de estranhos.
- Testamento, Eloise? Você acabou de dizer que tinhamos muito tempo... - Contradisse enquanto lia a lista de apartamentos que criei no celular.
- Apenas por segurança, morceguinho - Sorri da expressão insatisfeita diante do apelido.
- Odeia quando me chama assim - Murmurou, o tom de sua voz trazia resquícios de diversão.
- É você quem diz "eu sou o Batman" - Provoquei imitando sua voz ainda mais grave e distorcida.
(...)
Enquanto isso...
Alfred observava a interação dois dois quieto. A cena desencadeou lembranças do tempo que Martha e Thomas Wayne estavam vivos. Bruce e Eloise eram o complemento perfeito um para o outro, eles tinham todas as ferramentas necessárias para que o futuro e o relacionamento fosse positivo. Eloise trouxe alegria para a vida monótona de seu menininho e arrastou as sombras que haviam se instalado na mansão. E ver o olhar apaixonado de Bruce não tinha preço, ele sorria com mais frequência e parecia com o pai no auge de sua juventude. Era reconfortante!
E agora, tendo Helena Bennett ao seu lado, tudo parecia estar se encaixando. As noites não tinham as companhias solitárias do vazio e bourbon, a velhice e a vida finalmente eram agradáveis. E conforme ouvia o som das risadas pelo ambiente, resultado de Bruce e Eloise juntos, um sorriso moldou seus lábios. O seu pior pesadelo começava a ser esquecido no fundo de sua mente conforme observava o casal. O garoto que viu crescer não ficaria solitário, ele teria a companhia de uma bela moça cheia de vivacidade.
- Eles teriam gostado de ver isso - Sussurrou, os sentimentos de melancolia e saudade eram destaque em sua voz trêmula. Martha e Thomas adorariam ver esse momento caloroso.
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Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...