Capítulo 4

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A ideia de Lucius é absurda e maluca, é improvável que o herdeiro dos Wayne queira e disponibilize tempo no planejamento de uma das festas de caridade, ele normalmente tem empresas especializadas na decoração e nas tomadas de decisão. Ouvi tudo em silêncio, o bilionário parecia atento e concentrado, bufei discretamente, entediada com o falatório sem sentido e desnecessário.

- Lucius, você sabe que é meu amigo, eu realmente adoro nossas conversas, mas você enlouqueceu de vez - Comentei quando notei a seriedade da discussão - Deveria contratar a mesma empresa de sempre, os ricos gostam do glamour recriado - Batuquei os dedos pela superfície da mesa de madeira sólida.

- Porque é tão contrária a essa ideia? Eu pensei que gostaria de ajudar, suas festas são muito animadas, minha esposa e filha adoram e sempre comentam - Lucius contrapõe e tive que conter o sorriso orgulhoso.

Festas brasileiras e estadunidenses são completamente diferentes, lembro do susto e choque que senti na primeira vez que recebi o convite para comparecer. Não havia salgados e os doces que encontramos no Brasil, todas as opções eram resumidas em batatas chips e cereais, somente isso, mas a quantidade de garrafas de bebidas alcoólicas eram inúmeras e variadas, as pessoas faziam combinações e misturas estranhas, bêbadas.

Fiz uma pequena festinha quando meus livros começaram a ser vendidos, convidei os amigos e conhecidos mais próximos, apenas aqueles em que confio inteiramente. Comprei os ingredientes necessários e fiz os salgados e guloseimas que aprendi com minha avó, ela adorava confeitaria e qualquer outra coisa se relacionando com comida. Coxinhas, bolos de chocolate e frutas vermelhas, sem mencionar brigadeiros, beijinhos e balas de côco, sinto a boca salivar com a lembrança.

Obviamente, eu queria impressionar os convidados, a mesa foi colocada no canto do lado esquerdo e a decoração estava linda, eu me empenhei ao máximo, lembrando de toda hospitalidade oferecida por meus pais, é uma das poucas coisas que consigo lembrar, eles morreram quando eu tinha apenas 5 anos. As cerimônias de comemoração eram realizadas em nossa casa, a família inteira se reunia e as fofocas começavam, bons tempos.

Quando meus convidados finalmente se deram conta da grandiosidade da mesa e dos diferentes petiscos oferecidos, ficaram muito surpresos, nem preciso dizer o quanto eles se deliciaram e comeram, fartos e cheios. Lucius e sua família foram os mais afetados, lembro que na época ele ainda estava na geladeira da empresa Wayne e sua família enfrentava uma época de pobreza e corte de gastos, beiravam a completa e absoluta miséria.

Ao fim da festa, embalei todos os doces, bolos e salgados que restaram e entreguei, e mesmo que temesse ofendê-los, prometi que ajudaria no que precisassem, afinal Lucius me estendeu a mão quando mais precisei. A filha do casal havia sido mandada para a casa dos avós maternos, a jovem de 17 anos enfrentou as adversidades com coragem. Felizmente, a necessidade de uma secretária na editora em que trabalho trouxe um sopro de esperança e alívio para a pequena família.

Indiquei a mulher para minha chefe e as duas marcaram a entrevista, por sorte elas se entenderam e Tanya foi contratada, os laços e amizade floresceram a partir dali, hoje somos extremamente próximas, quase irmãs. Quase toda semana temos o dia das garotas, entre a esposa e filha de Lucius e eu, comemos todas as besteiras existentes e assistimos filmes na televisão da sala, pintamos as unhas uma das outras e fofocamos, falando sobre garotos e a minha eterna solidão.

- Eloíse? - Questionou Lucius e retornei a realidade, ainda meio aérea e pensativa.

- Sim - Murmurei comendo mais um dos muffins de mirtilos que eu trouxe.

- Você concorda? - Perguntou o Wayne e franzi o cenho, totalmente perdida no que eles decidiram realizar.

- Com o que? - Desviei o foco para meus companheiros de reunião.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora