O domingo chegou e trouxe consigo sua atmosfera entediante. A chuva constante foi a cereja do bolo, havia neblina cobrindo tudo, as ruas estavam cinzentas, com aspecto triste. O clima perfeito para assistir filmes agarrada no cobertor quentinho, deitada no sofá enquanto encho a barriga com salgadinhos e doces. Eu estava completamente largada.
A calça azulada de moletom destoou da camiseta vermelha, o símbolo do Flash foi um destaque interessante e vibrante. Eu escolhi o filme mais romântico que encontrei, as falas e interações entre os personagens é fantasiosa e inacreditável. É impossível se apaixonar por alguém logo de cara, amor a primeira vista foi apenas uma ilusão inventada.
Amar alguém requer comprometimento e tempo, é aceitar os defeitos que ela possue e suas limitações. Entretanto, a atração existe e acontece naturalmente. Eu nunca amei, pelo menos não aquele amor arrebatador e que se constrói dia após dia, e que resiste aos piores problemas e adversidades. Eu vivi paixõe e as sensações trazidas por elas.
Porém, apenas as reações químicas que o cérebro produz, a ocitocina. Talvez eu nunca experimente a grandiosidade de passar minha vida ao lado de outra pessoa. De envelhecer e murchar como uma flor, sobrevivendo a todas as provações da natureza. Talvez eu viva com a ilusão de que meus livros supriram cada um dos aspectos essenciais em mim.
Talvez, eu seja uma alma solitária e sem qualquer atrativo para o sexo masculino. Tudo são apenas suposições, mas deve haver uma explicação para essa lacuna. Talvez, eu nunca encontre o parceiro certo e vague sozinha nas imensidões do mundo. Eu poderia conhecer a felicidade sem nunca ter amado? Isso poderia render um ótimo livro.
- Alô? - Murmurei depois de ouvir toques no celular em cima da mesinha.
- Está ocupada? - Perguntou a voz, o tom grave gerou arrepios estranhos.
- Quem está falando? - Indaguei e enfiei um punhado de batatinhas na boca.
- Não salvou meu número? É Bruce - Ele respondeu e franzi o cenho.
- Bruce Wayne? Não, eu não salvei, achei que desistiria dessa maluquice - Respondi e o homem respirou fundo do outro lado.
- Com o tempo vai perceber que não sou o tipo de homem que desiste fácil - Afirmou de imediato, parecia incomodado - Está livre? Eu preciso de sua ajuda no momento - Insistiu e a curiosidade me deixou em alerta.
- Estou disponível, esparramada no sofá comendo batatinhas e caramelo - Respondi e surpreendente ele riu e não pareceu forçado e falso como em suas entrevistas.
- Estou com inveja, admito - Revelou e eu sorri com a fala do bilionário - Estou preso em uma sala cheia de investidores - Comentou, eu imaginei a cena e bufei frustada.
- Oh, sério? Isso parece bastante chato e enfadonho... - Enrolei a ponta dos cabelos nos dedos e encostei a cabeça na parede - Eu não conseguiria trabalhar assim - Admiti e ele não respondeu de primeira.
- Assim como? - Insistiu genuinamente e autenticamente curioso, é estranho.
- Cercada de pessoas gananciosas, sem saber em quem posso confiar. Enclausurada e com tantas responsabilidades, é provável que eu acabasse xingando todo mundo - Ri e ouvi a mesma risada contagiante de antes - Tenho a sorte de trabalhar no conforto de casa, meu horário é bem flexível e as pausas para comer são liberadas e ilimitadas - Brinquei e percebi que Bruce Wayne não é tão ruim assim, talvez ele tivesse salvação no final das contas.
- Pausas ilimitadas? Talvez eu deixe meu currículo aí - Provocou e não aguentei, eu ri de maneira que não fazia a tempos.
- Bruce Wayne querendo trabalhar como auxiliar de escritório? Isso seria um escândalo e tanto - Comentei, confortável com o homem que nunca imaginei ter contato.
- Um escândalo a mais, um a menos, não é como se fizesse diferença - Respondeu, suas oscilações vocais indicaram vergonha.
Ele está realmente constrangido com os temas abordados na conversa? Eu sempre fui firme quanto aos seus modos, mas ele não se parece com nada do que é mostrado na tv. Ele é autêntico e, estranhamente, engraçado. Sua vida pública é cheia de escândalos, talvez ele também tenha criado uma máscara. Pessoas escondem seus medos, é natural.
É possível que Bruce Wayne tenha esses artifícios ao seu favor. A maioria, assim como eu, se acostumou com a imagem de riqueza e ostentação, mas e se houver mais? Que tipos de segredos ele esconde através da máscara de menininho rico e inconsequente? Porém eu também posso estar errada e imagem ser um breve lembrete de sua imaturidade.
- Ainda está aí? - Questionou e retornei a essa realidade mundana.
- Ainda não disse o motivo da ligação ou é apenas uma desculpa? Devo alertar que sou a melhor amiga do batman, então cuidado, ele não é conhecido pela simpatia - Comentei e o homem gargalhou alto, pude ouvi-lo pedindo e repetindo pedidos de desculpas a alguém.
- Melhor amiga do batman? Eu não tenho palavras para descrever esse momento - Riu e sua respiração ficou ofegante, ele estava indo a algum lugar.
- Continue rindo, e pensar que eu estava começando a gostar de você - Murmurei com as bochechas quentes e vermelhas.
- Espera, desculpa, eu não resisti. Eloise, eu sinto muito, minhas sinceras desculpas, eu não quero problemas com o morcego - Pediu e ouvi o ronco de motor.
- Você está dirigindo enquanto conversa no celular? Enlouqueceu? E se você sofre um acidente e morre? - Gritei histérica, ele é louco e completamente insano.
- Está preocupada? - Perguntou surpreso e satisfeito com a situação.
- É claro, meu número seria o último que você entrou em contato, a polícia com certeza cairia matando em cima de mim. Eu gosto de morar aqui, sabia? - Questionei andando pela sala de estar, nervosa.
- Você é inacreditável... - Murmurou com divertimento - Chego aí em 15 minutos, esteja pronta - Afirmou e desligou.
Eu permaneci congelada diante da ação ousada e mandona? Por fim, decidi que seria a pessoa madura da situação e continuaria na mesma situação. Eu não vou trocar de pijama apenas para agradar o bilionário, ele terá que se contentar comigo assim. Bruce Wayne tem se mostrado teimoso, mas vou mostrar que a mulher brasileira é diferente das que ele se acostumou com o tempo.
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Caos e Ordem - Bruce Wayne
Teen FictionEvangeline Eloíse Santos, brasileira de apenas 21 anos, se mudou para Gotham em busca de uma vida melhor, tentando esquecer seus traumas, tristezas e a solidão. Apesar da atmosfera sombria e os elevados índices de violência, ela foi acolhida pela ci...