Capítulo 30

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Bruce Wayne

O desaparecimento repentino de Eloise trouxe o sentimento de vergonha, culpa e arrependimento. Era como levar um soco no estômago e perder todo ar de meus pulmões, sufocante e opressor. Eu fiquei alheio e completamente perdido durante alguns minutos, as imagens do acidente se repetindo na minha cabeça e evidenciando meu fracasso. E pela primeira vez, todo controle adquirido durante anos... desapareceu e deu espaço para a fúria e raiva esmagadoras.

Foram somente dois dias afastados, mas tive a impressão de que se passaram séculos. O medo que senti parecia estar enraizado em meu coração e nada poderia transformar esse sentimento. O mundo tinha ganhado cores escuras, combinando com a ausência de minha pequena luz ofuscante. Gotham foi coberta por nuvens cinzentas e de aspecto violentas, era uma combinação perigosa e inspiradora. Alfred garantiu o amortecimento dos danos causados.

Os noticiários não souberam do ocorrido até os últimos segundos, mas nada dura para sempre. Todo o nosso empenho desmoronou quando soubemos de um vazamento de informações. Eu deveria saber que trabalhar em conjunto com os policiais causaria caos e ainda mais desorganização. O rosto do palhaço era exibido lado a lado com o de minha mulher, como um espetáculo de circo grosseiro e rude. O meu corpo se mostrou indiferente a exaustão e sono que senti, não pararia enquanto ela estivesse longe.

Eu sabia que estava rendido pela brasileira e ela governava boa parte de minha vida, mas era estranho perceber a real dimensão do sentimento. Eloise sabia que não seria fácil, mas estava disposta a viver todas as aventuras e adversidades que virão. E embora não quisesse admitir, eu era egoísta demais para deixar a garota ir embora e ter uma vida normal. Sem falar em nossa evidente diferença de idade. Eloise borbulhava jovialidade, vivacidade e muita energia, característica marcante em seu espírito aventureiro.

A obscuridade que rondava meu cotidiano era o reflexo de um passado distante que tento esquecer e superar veementemente. Eu conquistei a paz que não achei ser merecedor, mas de um modo estranho e de aspecto questionador, encontrei. Era como ser jovem outra vez e experimentar o primeiro amor. Eu tinha os pensamentos voltados unicamente para uma mulher e gostava da sensação de ser retribuído. O dinheiro e status não eram relevantes na relação.

Eloise detestava ganhar presentes caros e ouvir os elogios falsos, ela prefere assistir filmes ou séries deitada na cama enquanto come alimentos cheios de gordura e conservantes químicos. Ela adorava sentar no chão e escrever histórias que seriam publicadas e compradas por seu público ansioso. Lavanda é a sua cor favorita, embora hajam dias em que amarelo seja uma verdadeira obsessão. As uvas são obrigatórias e nunca podem faltar, mas apenas as verdes porque as outras são, nas palavras dela, azedas.

A maluca também é viciada em chocolates dos mais variados tipos e misturas. Ela também costuma dançar músicas questionáveis enquanto pensa que é a única pessoa no ambiente, cantando em sua língua materna. Eu adorava o sotaque característico que era proeminente em determinadas palavras. Eu amo toda peculiaridade existente em sua alma, todas as falhas que mostravam seu lado único e especial. Exceto sua mania irritante de andar pela mansão envolvida pelas minhas capas que ela "acha" escondido.

E eu adorava comer os pratos preparados pelas mãos caprichosas da mulher. Os doces que somente Eloise era capaz de misturar e criar, até mesmo meus poucos funcionários paravam para aprender. Eu tinha recebido uma verdadeira benção e passaria vida com a certeza de que ela seria a minha âncora. É estranho pensar que tudo começou em um beco escuro e com ratos famintos transitando livremente no meio de lixo e caixas de papelão ainda úmidas.

O sequestro de Eloise deixou escancarado toda minha fragilidade e dependência emocional. A ideia e possibilidade de não tê-la mais comigo... despertou o sentimento de perda. Eu sabia que não suportaria ser deixado sozinho nesse mundo, não depois de sentir a breve sensação de estar no paraíso. Eu chorei e senti o mesmo vazio absurdo que aconteceu no dia que os meus pais foram assassinados. Coringa ultrapassou a fronteira entre aceitável e imperdoável.

Caos e Ordem - Bruce WayneOnde histórias criam vida. Descubra agora