A Competição [COMPLETO]

Capítulo 31

DIEGO

Ter pedido para o motorista dar uma rodada pequena pelo bairro não foi uma escolha inteligente, não mesmo, especialmente porque essa escolha me custou mais de cem reais. Adrian vai me matar quando descobrir o valor dessa corrida é no cartão dele.

Eu pensei que seria uma boa ideia para espairecer as ideias, ficar mais calmo e não pensar tanto em Iara, mas tudo me lembrava Iara. Todas as músicas, todas mesmo, ainda piorou porque o motorista tinha uma playlist de sertanejo.

Sertanejo mais chifre não dá certo, foi choro para tudo que é canto. Até o motorista chorou comigo, dizendo que me entende, que entende minha dor e que uma hora vai passar. E cara, eu espero que passe, e passe o mais rápido possível, porque eu não aguento mais olhar para os lugares e me lembrar de Iara.

E tem canto que a gente nunca nem falou sobre, eu vi uma pista de boliche e me lembrei dela. Sabe como? A bola de boliche derruba os pinos e Iara me derrubou, me destroçou. Foi assim que me lembrei de Iara, patético demais. Eu sou um idiota ao quadrado.

— Valeu aí chapa – agradeço, quando o moço estaciona no portão da minha casa. — Deu tudo certo né, chefe?

— Deu sim, sem preocupação – ele diz, sorrindo. — E cara, num liga não, todo homem já foi chifrado, todo mundo supera. Fé – ele tenta me consolar, mas não funcionou nada.

Sou um homem com chifres, eu até rio agora, mas é para espantar a raiva e ódio que eu estou sentindo agora.

Eu tentei relembrar todas as coisas que fiz para Iara, em uma falha tentativa de encontrar o motivo dela ter me traído, mas só piorou a situação.

Eu simplesmente tive um flashback de todo nosso relacionamento e de tudo que eu fiz por ela. Pô, perdi uma eleição de líder por ela, sei que nunca contei para ela – não acho que ela vá gostar se souber, prefiro esconder –, o pior é que eu faria de novo, se isso significasse que eu iria vê-la sorrindo.

Ainda estou me lembrando de algumas coisas que prometi para ela e não cumpri, como assistir a Speed Racer juntos. Nunca assisti esse filme com ninguém, ele é meu filme sagrado, nunca quis arriscar perder essa ideia dele ser o melhor filme de todas por causa da companhia errada.

E porra, eu estava prestes a assistir o meu filme sagrado com a garota que me traiu. Ainda bem que não aconteceu, eu não conseguiria gostar de mim mesmo se eu passasse a odiar Speed Racer.

Passo pela nossa área externa e vou até a cozinha, preciso me afogar em comida, sorvete de preferência. De menta – amo doce de mente.

Mas não tem nada, não tem um doce sequer para eu poder afogar minhas mágoas, nenhum mesmo. Como eu posso superar um término se não tem a porra de um doce na porra da minha casa?

Ótimo, meu estresse já está voltando aos poucos.

Isso é culpa do Madison, ele come todos os doces e nós outros sempre se fodemos. Teve uma vez que mamãe fez um bolo de KitCat com M&M, eu até diria que estava uma delícia se Madison não tivesse comido oito pedaços.

Eu ainda guardo um pouco de ressentimento por causa do bolo, eu queria muito provar. Porra, foi eu que pedi para a mamãe fazer!

Uma coisa está muito estranha na minha casa, eu poderia literalmente escutar o barulho de uma agulha caindo no chão. Minha casa nunca é assim, minha casa é regada por gritos da Daiane, depois os choros do Caio, depois os gritos da mamãe, depois as risadas do Madison e finalizando com os gritos da Diana.

— Pa… – eu estava prestes a chamar meu pai, por meio de um grito, quando ele simplesmente, do nada, acho que do chão, ele brotou na cozinha me mandando fazer silêncio.