Bianca
Depois de sair da empresa fui direto pra casa dos meus pais. Cris estava com o meu pai, que não tinha ido para empresa hoje.
Estacionei o carro, e desci deixando todos os meus pertences lá dentro. Não demoraria muito ali, seria algo rápido, apenas pegaria meu filho e diria um oi para todos.
- Mamãe! - gritou Cris assim que me viu passar pela sala.
- Nem parece que nos vimos pela manhã. -brinquei beijando sua cabeça com cheirinho de morango - Você esta mais pesado.
O peguei nos meus braços fazendo o mesmo rir. Esse garoto é tudo pra mim, e sempre me pergunto como seria ter os meus gemeos em meus braços. Cris e a irmazinha brincando juntos. Com certeza ele seria um irmão protetor, cuidaria da irmã, assim como ele cuida e protege Malu.
Me pergunto se Magnólia teria os meus cabelos, o meu sorriso. Eu acho que ela seria uma miniatura minha, talvez com os olhos do pai. Me dói não ter tido a chance de me despedir dela, e dizer que a amava.
- Mamãe, você esta chorando?
A voz doce e as mãos leves de Cris em meu rosto me tiraram dos pensamentos. Eu estava tão envolvida em meu mundo, que acabei me desligando por segundos.
- Não estou meu amor. Apenas um bichinho que entrou no meu olho. -beijei o seu rosto lhe arrancando um sorriso.
Com o meu filho ainda em meus braços, caminhei até o sofá onde meu pai e Iris nos observavam.
Assim como meu pai, Iria me deu um beijo na bochecha. Cris logo correu pro chão para terminar de montar o seu quebra-cabeça.
- Como você esta? -perguntou papai deixando seu copo de whisky em cima da mesinha de centro.
- Estou bem. E o senhor?
- Levando... Eu preciso conversar com você, filha. -disse o mais velho me deixando preocupada. Entre nós dois não havia segredo, sempre fomos muito abertos um com outro, e eu carregava um grande fardo em minhas costas por esconder algo tão grande do meu pai.
Pedimos pra Iris ficar de olho em meu filho, e subimos pro seu escritório. Me sentei no sofá de três lugares ao lado da porta, e meu pai se sentou ao meu lado. O seu mistério todo estava me deixando tensa.
- Como você sabe o casamento meu e de sua mãe esta indo de mal a pior. E isso já tem alguns anos. - ele se levantou e se serviu com mais whisky - Eu aguentei e aguento esses anos todos, por você e Iris. Não existe mais intimidade entre nós, e eu sinceramente não confio em sua mãe.
Eu não sei, mas nos olhos de meu pai eu via que ele de alguma maneira sabia sobre a traição de minha mãe, e talvez só talvez que minha irmã não fosse sua filha.
- Quando ela me apareceu grávida depois de uma briga feia entre nós dois eu não tive escolha a não ser aceitá-la de volta. Ela carregava uma filha MINHA, eu sempre quis ser pai de novo, e quando peguei sua irmã nos braços, eu me apaixonei por aquela menina. Ela era MINHA. Lembra quando ela nasceu? -assenti com os olhos lacrimejando.
Lembrava perfeitamente desse dia...
[...] Aquele pequeno corpinho de bebê enrolado em uma manta rosa. Iris tinha os olhos estalados observando tudo em sua volta.
Ela era uma bebê cabeluda, seus cabelos eram tão amarelinhos. Quando eu perguntei o porque seus cabelos serem tão claros mamãe disse que eles logo escureceriam.
Me aproximei mais da cama, em uma tentativa de fazer carinho em seu rosto frágil.
- Não toque nela, Bianca. Suas mãos estão sujas. -disse a mais velha me afastando.
Mesmo papai dizendo que eu havia higienizado as mãos, ela não me deixou tocar em minha irmã. Foram meses assim. Eu sempre o admirava de longe, ela era linda. Seus cabelos nunca escureceram, ela sempre foi o meu Sol. [...]
- Ela era tão branca, nem parecia da nossa família. -riu sem humor e se sentou de novo ao meu lado - Eu amo aquela menina. Eu amo vocês. Eu neguei para mim mesmo esses anos todos, o óbvio. Iris não é minha filha biológica, ela é fruto de uma traição de sua mãe.
Eu deixei um soluço escapar de meus lábios. Eu já sabia de toda a verdade, mas era tão doído ouvir isso da boca de meu pai. Do homem que foi capaz de passar, e aceitar tudo isso por amor as suas filhas.
- Eu já sabia disso, papai. -confessei e o mesmo me olhou confuso - Acabei descobrindo a alguns dias. Eu ia te contar só não sabia como, me desculpa.
Deixei as lágrimas descerem por meu rosto. Era um alívio poder dizer aquilo. O mais velho me abraçou dizendo que estava tudo bem.
- Eu também preciso te contar uma coisa -confessei mirando os seus castanhos sem vida naquele final de tarde.
- Pode dizer, filha.
- Eu sei quem pode ser o verdadeiro pai de Iris.
Meu pai estalou os olhos e secou as próprias lágrimas.
- Possivelmente o pai biológico pode ser Sebastião Kalimann, o pai de Rafaella, minha namorada.
Expliquei tudo para o meu pai, o porque das minhas suspeitas. Ele também concordou que poderia ser, pois Sebastião era da cidade que minha falecida avó morava, e quando eles brigaram minha mãe tinha ido pra lá.
Meu pai me pediu para não contar nada para Iris por enquanto. A minha irmã tinha um campeonato importante nas últimas semanas, e ela estava empolgada e treinando muito para ganhar essa, e uma bomba dessa só iria deixar desconcentrado. E a questão de Sebastião ser o possível pai biológico, era para deixar com ele, pois saberia como lidar com tudo dali pra frente.
Depois da conversa cansativa. Me despedi dos dois e levei Cris pra casa. Falei com Rafaella rapidamente ao telefone enquanto meu filho tomava banho com a ajuda de Anna, e combinamos de eu dar um pulo em seu apartamento mais tarde.
Jantamos e contei história para o meu pequeno homem. Cris tinha uma de suas mãos em meu rosto, enquanto a outra tinha um dinossauro abraçado.
Antes de terminar a história o meu pequeno já estava apagado. Deixei um beijo em sua testa sussurrando "eu te amo"e cobri o seu corpo. Antes de sair fiquei o observando, ele era tão lindo, tão meu.
E foi impossível não pensar em meu pai, e essa história toda. Eu apenas pedia para tudo ficar bem logo.
🗼
A casa caiu, a festa acabou...

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DESTINO
Fanfiction"Alguns acreditam que o destino representa uma "força misteriosa que determina os acontecimentos na vida das pessoas, tanto nas suas vidas presentes como passadas". No mundo árabe, ouve-se falar em "maktub" que significa "já estava escrito" ou "tinh...