Entre o Desejo e a Insegurança

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Kuon

Escuto a porta se fechando atrás de mim e tento, com todas as forças, me acalmar. Dentro de mim, o turbilhão de emoções não cessa. Logo, ele estará de volta e, até onde sei, passaremos a noite juntos, mas... eu não sei como agir agora. Que droga, por que ele tem esse efeito em mim?

Ele não deve estar entendendo nada do que aconteceu. Nem eu! Só sei que quando ele me mostrou o rosto, quando nossos olhos se encontraram, algo dentro de mim desabou. Uma necessidade avassaladora de tocá-lo, de explorar cada centímetro do seu rosto com as minhas mãos, sentir a curva do seu maxilar, os cílios longos, os lábios... Ele é, sem sombra de dúvida, o homem mais bonito que já vi em toda a minha vida. Fiquei hipnotizada, como se fosse impossível desviar o olhar, como se o mundo ao redor desaparecesse.

Mas, ao mesmo tempo, essa sensação foi acompanhada de algo que eu nunca havia experimentado antes: uma insegurança profunda. Eu, que sempre me achei capaz de lidar com meus sentimentos, de estar no controle, de repente me vi totalmente vulnerável, exposta diante dele. Só uma toalha entre o meu corpo e ele, e eu não sabia o que fazer com essa sensação de ser invadida, de ser vista e, mais que isso, de ser julgada. O que ele pensaria de mim? Será que ele queria alguém como a Yuri? Alguém com a personalidade dela, com a aparência dela? Eu sei que ela seria uma escolha muito mais adequada. Mas ao mesmo tempo, eu não posso deixar de querer ser a pessoa para ele. Eu só... eu só queria que ele me visse como algo mais.

Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas tento, com todas as minhas forças, segurar o choro. Por que é tão difícil? Por que eu não consigo ser eu mesma, sem essa insegurança me consumindo?

Ouço uma batida na porta, e quase pulo de susto. Ainda estou sem roupa, com o rosto provavelmente vermelho de tanto chorar.

Oi.

Tento forçar a voz para soar tranquila, mesmo que eu esteja despedaçada por dentro.

Kuon, sou eu, Yuri. Colocamos o jantar na mesa, estamos esperando você. O Sr. Mascarado já se vestiu e está lá também.

Como ele se vestiu? Esse não é o quarto dele, então por que ele não veio aqui? Será que ele também está tentando se afastar depois do que aconteceu? Ou talvez eu tenha deixado tudo desconfortável.

Já estou indo.

Termino de me secar e, em um estado de distração, abro o armário em busca de algo para vestir. Acabo pegando uma blusa preta e uma calça moletom. Não são exatamente minhas roupas favoritas, mas estão confortáveis o suficiente. A blusa ficou mais longa, até metade das minhas coxas, e a calça folgada, o que me ajuda a me sentir mais segura. O menos possível de mim fica exposto, e isso é o que eu mais preciso agora.

Olho-me no espelho, mas não vejo a mesma Kuon confiante que costumava ser. Sinto como se houvesse um peso no meu peito, como se estivesse prestes a desabar a qualquer momento. Por que sou assim? Por que não consigo me libertar dessa insegurança e ser simplesmente eu?

Abro a porta e sigo para a sala de jantar. Ao chegar, vejo todos à mesa. A Mayuko está sentada, com um blusão largo, e a Yuri, com uma lingerie que, apesar da leve transparência, parece um pouco mais provocante do que deveria ser. Ao lado delas está o Sr. Mascarado, com a mesma roupa simples que ele usou mais cedo, mas nele, até algo tão simples se torna impressionante.

A Yuri é tão linda, não posso deixar de notar. Seu sorriso ilumina a sala, e seu corpo curvilíneo é uma visão hipnotizante. Ela parece ser tudo o que ele poderia querer, e eu... Eu me sinto pequena perto dela, como se fosse invisível.

Senta aqui do meu lado, Kuon.

A Mayuko me chama, e, sem saber o que fazer, me sento entre ela e o Sr. Mascarado.

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