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Kuon

Ele se aproxima com os olhos fixos nos meus, e pela primeira vez em muito tempo, sinto que ele está realmente me vendo... não como uma vítima, não como alguém frágil — mas como Kuon. Como a Kuon dele.

Suas mãos sobem devagar , pousam em minha cintura com uma hesitação quase reverente, como se pedissem permissão a cada toque. Eu não me afasto. Pelo contrário, me aproximo mais, deixando minha testa colada na dele.

— Obrigado... por confiar em mim — ele sussurra, a voz embargada.

— Obrigada... por ainda estar aqui — respondo, e fecho os olhos por um instante, só pra sentir o momento, o calor que emana dele, o cheiro, o som da sua respiração. Tudo que me faz sentir segura.

Ele me beija de novo. Mas dessa vez é diferente. Não tem pressa. É um beijo lento, cheio de emoção contida, como se cada segundo fosse precioso. Suas mãos me tocam com carinho, não com desejo, mas com saudade. Como se estivessem decorando cada pedaço de mim, reaprendendo meus contornos, a minha pele, a minha essência.

Me deixo levar por ele, mas também o guio. Porque essa é a minha escolha. Pela primeira vez desde tudo... eu escolho.

Suas mãos deslizam até as minhas e ele entrelaça nossos dedos, como se quisesse me ancorar ali, como se precisasse de mim tanto quanto eu dele. Eu o puxo pra mais perto e nossos corpos se encontram em um abraço apertado, mais íntimo que qualquer toque.

— Me avisa se quiser parar... a qualquer momento — ele diz com a voz baixa, tão baixa que parece um segredo só nosso.

— Não vou querer — respondo, firme, e me surpreendo com a segurança na minha própria voz.

Ele me guia até a cama, mas seus olhos nunca se afastam dos meus. Ele deita ao meu lado e me envolve nos braços como se o mundo lá fora não importasse. Como se ali, naquele quarto, existíssemos só nós dois. E por um momento... é exatamente assim.

Deitamos de frente um para o outro, nossas testas coladas, as pernas entrelaçadas. Ele acaricia meu rosto com a ponta dos dedos, como se estivesse traçando uma nova memória sobre cada cicatriz invisível.

— Eu te amo, Kuon... Amo tudo em você. Mesmo quando você duvida, mesmo quando se afasta... ainda assim, eu amo você.

As lágrimas escapam dos meus olhos sem que eu perceba, mas dessa vez não são de dor. São de alívio. De gratidão. De amor.

— Eu também amo você... mesmo quando você se perde, mesmo quando me deixa sozinha... ainda assim, eu amo você.

Seu corpo encaixava no meu com uma naturalidade absurda, como se pertencêssemos um ao outro. O beijo agora era mais lento, profundo, quase reverente. Havia algo de suave e protetor na forma como ele me beijava, como se eu fosse frágil, preciosa — como se cada gesto dele quisesse me reescrever, me curar. E eu deixava. Porque era com ele. Porque era ele.

Quando soltei um suspiro, ele tomou como convite e aprofundou o beijo, sua língua quente explorando minha boca com doçura e fome. Estava me perdendo — mas pela primeira vez, perder o controle não parecia assustador. Pelo contrário. Era libertador.

Meu coração batia tão alto que temi que ele pudesse ouvir.

O beijo se intensificou e, em algum momento, comecei a ofegar. A forma como ele chupava minha língua, como sua boca dançava na minha, me deixava zonza. Era como se só com beijos o Yuka fosse capaz de me desarmar inteira, de me fazer sentir novamente.

— Ugh... hmmpht... — soltei um gemido abafado, sentindo meu rosto queimar. Levei a mão à boca, envergonhada.

Yuka afastou-se só o suficiente para me encarar. Seu sorriso era selvagem, lindo, e havia algo tão sincero em seus olhos que a vergonha se dissipou.

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