5. A vez em que um jovem órfão atingiu o fundo do poço

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[AVISO DE GATILHO: este capítulo contém cenas com descrição detalhada de violência física. Se esse é um assunto sensível para você, proceda com precaução]. 


Alfredo manteve a expressão raivosa, sem desviar o olhar de mim.

— Você está passando dos limites ultimamente, garoto, e minha paciência com você está quase se esgotando — ele declarou, ameaçadoramente.

— Foi você que tratou o Roman mal, pra começo de conversa! — rebati, tentando manter a postura confiante, apesar de temer o vampiro diante de mim.

— Você viu com seus próprios olhos o que esse paspalhão fez!! — Alfredo apontou, a tensão no quarto tão palpável que era quase como se pudéssemos senti-la ao nosso redor, nos pressionando. — Roman não é um criadinho qualquer. Ele foi treinado para ser um vampiro de elite! Mas, aparentemente, não consegue nem carregar uma bandeja de comida sem causar um desastre. Como superior dele é minha função apontar esse erro e puni-lo adequadamente!

— Tá tudo bem, Davi — Roman sussurrou, atrás de mim. — Eu já tô acostumado com isso, não precisa se preocupar comigo...

Tal fala me partiu o coração. Pelo que eu entendera nas entrelinhas daquela conversa, o vampiro mais novo já havia sido castigado anteriormente, e não havia como eu achar que estava mesmo "tudo bem" que aquilo acontecesse outra vez, principalmente por conta de um erro tão bobo quanto aquele.

— Não foi culpa do Roman — falei, num rompante. — Não castigue ele, Alfredo, ele não fez nada de errado!

— Como não??? — retrucou o vampiro mais velho, apontando para suas roupas, cobertas de comida. — Você quer que eu acredite que o seu jantar simplesmente se teleportou para cima de mim??

— A culpa foi minha! — inventei, tentando proteger o pobre morcego que tremia às minhas costas. — Nós estávamos, ahn... brincando e eu... hum, empurrei o Roman de surpresa, por isso ele se desequilibrou e tropeçou em você... Sim, foi isso mesmo!

— Eu tomaria muito cuidado no seu lugar, garoto... — Alfredo me alertou, em um tom grave, que me causou calafrios. — Os vampiros odeiam mentiras. Eu, em particular, abomino que mintam para mim. E nós, morcegos, sempre assumimos as consequências por nossas palavras. Eu estou te dando uma única chance para você voltar atrás no que acabou de me dizer. Agora.

Os olhares alarmados de Eugene e Vlad, posicionados um pouco mais atrás de Alfredo, eram suficientes para que eu entendesse o quão séria era aquela situação. Mas eu não daria o braço a torcer. Eu não baixaria minha cabeça para aquele morcego arrogante. Eu precisava lutar por aquilo que eu achava certo. Se eu abrisse mão das minhas convicções naquele momento, como seria capaz de enfrentar os inúmeros desafios que ainda me aguardavam? Se eu não fosse sequer capaz de proteger Roman, como poderia proteger Ian, minha tia, meus amigos, Esmeraldina?

— A culpa foi minha, eu já disse! — repeti, com mais segurança dessa vez. — Se alguém tem que ser castigado, esse alguém sou eu, não o Roman!

— Que seja — comentou Alfredo, com um sorriso de canto de boca, enquanto desabotoava seu paletó sujo de comida e o jogava no chão. — Removam todas as vestimentas dele e o deixem apenas com sua roupa íntima — o morcego mais velho ordenou energicamente aos três irmãos, por fim.

Vlad, Eugene e Roman se aproximaram de mim, com preocupação e pesar estampados em seus rostos.

— Sentimos muito, Davi... — foi só o que Eugene me disse, enquanto ele e os outros tiravam meus sapatos e removiam minhas roupas com cuidado.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora