O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)

27. A vez em que um jovem lobo pediu a ajuda de um exército

Não tive muito tempo para digerir a revelação sobre os Lobos Anciãos, porque logo estávamos diante de uma porta de madeira, que, supostamente, pertencia à casa de nosso avô. O motorista do ônibus deu três batidas e eu prendi a minha respiração, ansioso e preocupado com a reação que o pai do meu pai teria a nos ver ali, tão repentinamente.

— Benjamin? Ian? — ele perguntou, curioso, assim que botou os olhos em nós. — Então é mesmo verdade, vocês estão aqui!

Respirei aliviado ao reparar na expressão serena que o homem diante de mim exibia. Agora que estávamos frente a frente, eu me recordava melhor de suas feições e não me restavam dúvidas de que era mesmo meu avô quem ali estava, mas numa versão um pouco mais envelhecida. Ele era bastante alto, como Ben, porém mais magro do que eu me recordava, e os cabelos, que antes eram grisalhos, agora haviam se tingido completamente de branco, assim como a neve que rodeava o chalé.

— Pelos deuses, vocês vão ficar aí parados igual estátuas e nem vão dar um abraço no avô de vocês?? — ele brincou. Eu sorri e dei um passo adiante, e logo fui envolvido num abraço caloroso.

— Ian, meu filho, você virou um homem! — ele comentou, naquele jeito orgulhoso (mas igualmente constrangedor) que só parentes sabem utilizar. — Quase não te reconheci quando te vi! E você, Benjamin? Não vai falar com seu vô Chico?

Ben até tentou dar um passo adiante, mas logo perdeu o equilíbrio e teve que se apoiar em uma das paredes da frente do chalé, soltando um gemido de dor.

— Vô, o Ben não tá legal, a gente precisa ajudar ele, é sério!! — eu expliquei depressa, agoniado.

Sem perder tempo, meu avô trocou a expressão de alegria por uma outra, mais apreensiva. Ele abriu a porta de sua casa e se dirigiu aos dois homens que nos acompanhavam.

— Peguem meu neto com cuidado e o coloquem no meu quarto, por favor — ele recomendou. — Eu vou chamar a Maria e já volto.

Ao dizer aquilo, ele deu as costas para nós e se encaminhou a um dos chalés que ficavam mais adiante da casa dele. Enquanto isso, o guia e o motorista do ônibus carregaram Benjamin casa adentro e o colocaram com cuidado sobre uma cama de casal, que eu deduzi pertencer ao dono da casa. Logo o vô Chico estava de volta, acompanhado de uma senhora baixinha, de cabelos grisalhos arrumados em uma longa trança, que descia pelo meio das costas e ia até a cintura.

— O que aconteceu com ele exatamente, Ian? — meu avô perguntou, confuso.

— Nós fomos atacados por uma loba de elite — expliquei. — Ela tava usando uma relíquia de poder e tinha se transformado num lobo enorme, muito maior do que o nosso tamanho normal. Durante a luta, ela conseguiu atingir o Ben com as garras e rasgou o peito dele. Nós limpamos a ferida e colocamos alguns curativos depois que conseguimos escapar dela, mas eu acho que mesmo assim os cortes infeccionaram... Ele teve febre e tá sentindo muita dor o tempo todo...

Meu avô repetiu toda a explicação que eu tinha acabado de dar em espanhol, para que a tal da Maria conseguisse entender a situação em que nos encontrávamos. Assim que foi informada do contexto, a mulher se aproximou de Benjamin e colocou a mão sobre sua testa, sentindo a temperatura. Depois disso, desabotoou a camisa dele para examinar o ferimento.

O que vimos ali deixou todos os presentes horrorizados. A ferida estava muito feia, os cortes transversais de garras abertos, com sangue escuro, produzindo pus e exalando um aroma nada agradável. A mulher examinou o peito de Benjamin bem de perto, depois falou em um tom preocupado com meu avô.

— O que ela disse? — perguntei, sem conseguir entender nem metade do espanhol carregado que ela falava.

— Ele vai precisar passar por uma cirurgia — meu avô finalmente explicou. — O tecido ao redor do ferimento está morto e apodrecendo... Essa parte toda precisa ser removida... E, só então, a ferida pode ser costurada e cicatrizar... O mais correto seria fazer isso em um hospital, mas não temos mais tempo. Ou a gente resolve isso agora, ou será tarde demais.