11. A vez em que uma loba dourada cobrou uma promessa

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Levantei-me da cama o mais discretamente possível, para evitar fazer barulho, e reparei no relógio ao lado da cabeceira, sobre a mesa de apoio. Seis da manhã. Calcei minhas pantufas e me arrastei em direção à cozinha. Eu não tinha nenhum compromisso importante ou tarefa que me exigisse levantar tão cedo, mas eu sabia que seria um esforço em vão tentar pegar no sono novamente. Nunca funcionava. Eu apenas me revirava de um lado para o outro, a mente desperta, acesa, impossível de desligar.

Abri o armário e alcancei o pote onde guardávamos o pó de café. Vazio. Revirei as prateleiras, gavetas, armários e não encontrei sequer um mísero sachê de chá. Também reparei que as frutas e o pão tinham acabado. Eu não tinha outra escolha a não ser sair de casa. Não dava mais para adiar, por mais que eu quisesse.

Vesti meu moletom, agora folgado em meu corpo consideravelmente mais magro, e cobri minha cabeça com o capuz. Coloquei a carteira no bolso e troquei a pantufa por um chinelo de dedo. Abri a porta e encarei a viela vazia. "Ótimo", pensei, satisfeita.

Caminhei rápido em direção a uma das vendinhas que ficavam ali perto. Elas costumavam abrir cedo, para oferecer pão fresco, saído do forno, então não tive medo de dar com a cara na porta. No meio do trajeto, cruzei com um casal de panteras; o homem cuspiu no chão assim que me viu e a mulher praguejou em voz baixa. Ignorei o acontecido e segui em frente, agora já mais do que acostumada com aquele tratamento hostil, potencializado pela ação dos meus poderes de Lobo do Sol. Eles estavam apenas sendo honestos com os sentimentos que possuíam em relação a mim, nada mais, nada menos. E não havia coisa alguma que eu pudesse fazer para mudar aquilo.

Dentro da venda, selecionei algumas frutas, pães, leite, café, manteiga e um queijo caipira. Coloquei tudo numa cesta e me dirigi ao caixa. No meio do corredor, porém, outra pantera, dessa vez um rapaz encorpado, deu um tapa com força na minha mão, fazendo a cesta cair no chão e todas as minhas mercadorias se esparramarem. Ele me encarou nos olhos por alguns segundos, raivoso, como se esperasse por alguma reação minha, mas eu apenas o ignorei, me abaixei e recolhi minhas coisas, colocando-as de volta na cesta.

— Próximo — a atendente me chamou, sem emoção, ignorando o ocorrido.

Desejei bom dia a ela e fui colocando os itens, um a um, diante da mulher, para que ela os registrasse. A funcionária não respondeu ao meu cumprimento, porém, e falou comigo somente para informar o preço.

— Deu cinquenta e oito reais. Qual a forma de pagamento?

— Crédito — respondi, inserindo meu cartão na máquina.

— Não autorizado — ela informou, após alguns segundos.

— Você pode tentar nesse? — eu pedi, tirando outro cartão da carteira.

— Essas coisas são para a Bárbara? — ela perguntou, impaciente. — Você sabe que a Anne já nos deixou avisados de que iria cobrir todas as despesas até ela se recuperar e ficar em condições de trabalhar novamente. É só me falar que eu deixo esse valor anotado.

— Não, não é para a Bárbara — retruquei, amarga. — Você pode tentar passar o outro cartão por favor?

— Como quiser — ela respondeu, dando-se por vencida. Dessa vez, a transação foi aprovada, para meu alívio, então coloquei todas as compras numa sacola e retornei pelo mesmo caminho por onde eu viera.

Antes de chegar ao meu destino, passei em frente a uma banca de revistas que acabara de abrir, iniciando seu turno da manhã. Ali, um homem pantera organizava nas prateleiras os produtos recém-chegados. Eu teria seguido adiante se não fosse por um inusitado detalhe: eu conhecia a pessoa que estava na capa de uma das revistas que ele acabara de colocar em exposição. Cheguei mais perto, o suficiente para conseguir ler as manchetes, e finalmente tive certeza.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora