20. A vez em que uma loba dourada viu surgirem as cortinas do esquecimento

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Antes de sairmos da casa de Teresa, Inara recomendou à jovem moça que mantivesse o talento de sua filha em segredo por ora. Uma habilidade raríssima de cura como aquela, alimentada por magia de luz, certamente seria um recurso valioso em tempos de guerra. E todas nós sabíamos muito bem que uma guerra estava mesmo prestes a acontecer a qualquer momento, nas portas de nossas casas.

Teresa ficou bastante surpresa com a revelação feita por Inara; até então, ela não fazia a mínima ideia de que o povo das águas do qual ela e seus irmãos descendiam eram seres de luz. Inara desconfiava de que tanto o pai de Teresa quanto Ruan, o pai da pequena Lara, fossem algum tipo de náiade ou sereia, seres celestiais intimamente ligados à vida aquática e que possuíam a habilidade de transitar por entre diferentes dimensões.

Infelizmente, aquele palpite só poderia ser confirmado quando resolvêssemos todos os inúmeros problemas que estavam à nossa espera, em nossa própria dimensão, e Ruan finalmente tivesse a oportunidade de visitar o lado de cá mais uma vez, sem arriscar a segurança de seu povo. Eu apenas não fazia ideia se havia mesmo chances de aquilo algum dia ser possível.


***


Após a visita à Teresa, retornamos para a comunidade das panteras e fomos procurar por Anne e por minha mãe. Elas estavam juntas, na residência da líder das panteras, desde a reunião no círculo dos bruxos. As duas mulheres mais velhas estavam usando sua influência e se dedicando à tarefa de entrar em contato com os representantes das criaturas sobrenaturais das cidades vizinhas, buscando providenciar alojamentos para os humanos comuns de Esmeraldina que não tivessem onde se abrigar durante a guerra iminente.

Chegamos na casa de Anne animadas e ansiosas para contar a todos a boa notícia de que Bárbara finalmente havia conseguido se curar do ferimento em sua perna. No entanto, fomos pegas de surpresa pelo silêncio fúnebre e o semblante preocupado exibido pelas duas mulheres assim que as encontramos.

— Mãe? — eu chamei, receosa, tão logo entrei na sala de estar e percebi o clima estranho. — Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Sim, aconteceu — ela respondeu, com cara de pouquíssimos amigos. — A Caçada Voraz acabou de enviar uma mensagem para a Anne.

— E do que se trata essa mensagem?? — Bárbara quis saber, preocupada.

— É um comunicado — Anne respondeu, com um suspiro. — O Pajé e a Eleonora me ligaram agora há pouco e disseram que receberam mensagens semelhantes nas casas deles, então eu imagino que todos os representantes das demais criaturas mágicas de Esmeraldina também devam ter recebido uma cópia.

— E esse comunicado diz o quê, exatamente? — indagou Inara.

— É uma declaração oficial de guerra. Os lobos da Caçada Voraz disseram que tem como único foco, neste momento, acabar com os vampiros e expulsá-los do nosso continente de uma vez por todas — a pantera mais velha continuou. — A batalha acontecerá aqui, tal qual a gente já imaginava. A parte boa é que os lobos já têm um alvo muito bem definido e se comprometeram a não atacar criaturas que não fossem morcegos quando esse confronto enfim acontecer. Mas há um porém...

— É claro que tinha que ter algo de ruim... — comentei, entredentes, já me preparando para o pior.

— Eles sabem que a Tatianna ainda está na região e que a Helena também voltou à Esmeraldina. Provavelmente alguém que estava na reunião do círculo dos bruxos levou essa informação até eles — revelou Anne. — Como as duas são consideradas prisioneiras fugitivas da Caçada Voraz, o comunicado diz que qualquer pessoa que oferecer abrigo ou se relacionar com elas de alguma forma será tratado como um vampiro e será igualmente atacado pelos lobos, sem piedade. E eles frisaram na mensagem que não pretendem fazer prisioneiros desta vez. Acho que não é tão difícil entender o que eles estão querendo dizer nas entrelinhas...

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora