47. A vez em que um jovem órfão visitou os aposentos reais

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Enquanto o vampiro soldado me conduzia pelos corredores intrincados do castelo, eu fazia o possível para tentar memorizar o caminho que levaria do meu quarto até Leocaster. No entanto, por mais que eu tentasse me manter calmo e concentrado, não conseguia parar de pensar em tudo o que Ian me dissera sobre o príncipe dos vampiros minutos atrás, no aposento de hóspedes que meu namorado agora ocupava sozinho. Será que havia mesmo a chance de Leo se voltar contra nós?

A porta imponente da suíte real surgiu diante de mim e eu ainda não tinha encontrado uma resposta para aquela pergunta. Havia dois outros soldados de guarda do lado de fora, mas eles apenas assentiram ao me ver e abriram a porta para me dar passagem, como se já estivessem me esperando.

Entrei sozinho no quarto e logo ouvi a fechadura sendo trancada atrás de mim. Achei que apenas Leo estaria me aguardando do lado de dentro, mas logo reparei que havia um outro vampiro ali, de pé, ao lado da cama. Era Buwan, eu reconheci, recordando-me de quando ele se juntou a Babylon ao final da batalha contra os lobos. Buwan era a mão esquerda do rei e o mais novo responsável pela segurança do príncipe, conforme Daren nos revelara momentos antes. Ou seja, alguém que eu não deveria desafiar.

— Se aproxime em silêncio e devagar, por favor — ele pediu, burocrático, com uma voz rouca e um sotaque carregado. — O príncipe está dormindo, não queremos incomodá-lo.

Fiz como recomendado e logo enxerguei Leocaster deitado, na penumbra, o rosto pálido e os cabelos desgrenhados caídos sobre a testa. Ele estava descamisado, coberto por lençóis de seda negra, com a barriga para cima, numa posição que me deixava ver a ferida por onde Navalha tinha o apunhalado. O corte estava vermelho e parecia ainda precisar de algum tempo para poder cicatrizar por completo. Não havia nenhum sinal das enormes asas de morcego, indicando que ele havia desfeito sua metamorfose antes de adormecer.

— Sente aqui ao lado da cama — instruiu Buwan, apontando para uma cadeira —, vou preparar os instrumentos para iniciarmos a transfusão.

Aquela não era a situação que eu esperava encontrar. Até então, eu tinha esperanças de falar a sós com o príncipe dos vampiros. Não imaginei que o encontraria desacordado outra vez, como ele se mantivera durante todos os meses em que estive na mansão de Babylon.

— Posso tentar outra coisa? — pedi, receoso, encarando o vampiro asiático. Ele era mais baixo que Daren, mas muito mais troncudo e encorpado, provavelmente escondendo um amontoado de músculos indestrutíveis por debaixo de suas vestimentas. Eu sabia que bastava um passo em falso e ele me mataria em questão de segundos.

— Como assim? — ele me perguntou, confuso.

Estendi o meu braço devagar, sem fazer movimentos bruscos, para que Buwan pudesse ver que eu não segurava nada que pudesse ferir Leo. E, antes que ele pudesse me impedir, aproximei meu pulso até o nariz do príncipe adormecido.

Aquela proximidade causou exatamente a reação que eu estava esperando. Logo vi as narinas de Leo se expandirem, em reconhecimento ao meu cheiro, e não demorou muito até eu ouvir um sussurro enfraquecido sair de seus lábios.

— Davi... ? É você?

— O que pensa que está fazendo, garoto? — Buwan me repreendeu, se aproximando de mim. — Recebi ordens para não acordar o príncipe! Ele precisa descansar!

— Ele também precisa comer — respondi, com cuidado, em tom conciliador. — E o príncipe prefere se alimentar direto da fonte. Eu tô aqui, não tem por que fazer uma transfusão.

Buwan se manteve imóvel, seu olhar alternando entre mim e Leo, como se estivesse decidindo a melhor maneira de agir.

— Termine logo o que veio fazer aqui, rapaz — ele ordenou por fim, impaciente. — Sem arranjar mais nenhuma confusão. E não perturbe o príncipe, ele ainda está instável.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora