O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)

19. A vez em que uma loba dourada conheceu uma família talentosa

A casa era humilde e ficava quase dentro da reserva florestal, num ponto em que a cidade desaparecia repentinamente e dava lugar a uma paisagem predominantemente rural. Após o encontro e a breve conversa no círculo dos bruxos, havíamos marcado uma visita e, agora, eu, junto com Bárbara e Inara, aguardávamos pela dona da casa, sentadas no sofá da sala.

— Prontinho, aqui está — disse Teresa, sorridente, colocando uma bandeja com café, suco e biscoitos de polvilho sobre a mesinha de centro. — Sirvam-se, não façam cerimônia, fiquem à vontade!

Minhas acompanhantes ainda pareciam um pouco desconfortáveis, mas eu não tinha tempo a perder, então peguei um biscoito e o joguei logo para dentro da boca. O dia estava bastante quente, por isso aproveitei e já me servi também de um copo de suco, enquanto sentia a guloseima derreter sobre a minha língua.

— Está muito gostoso — elogiei, após tomar um gole do refresco gelado.

— Obrigada — ela respondeu, satisfeita. — Foi minha mãe que me ensinou a receita, ela ama esses biscoitinhos...

— E onde é que ela tá agora? — perguntei, confusa, sem parar para pensar que eu talvez estivesse sendo um pouco indiscreta. Teresa não era muito mais velha do que eu, então imaginei que a mãe dela tivesse uma idade próxima à da minha própria mãe, por isso estranhei não vê-la por ali.

— Numa casa de repouso — ela respondeu, assumindo uma expressão entristecida. — Minha mãe vinha batalhando contra a depressão e outros transtornos psicológicos já tem algum tempo, mas, depois de tudo o que aconteceu com o meu irmão Roberto... Enfim, ela piorou muito depois que o Beto morreu e a gente já não tinha mais condições de cuidar dela aqui, sozinhos, no meio do nada, então não tivemos muita escolha a não ser interná-la...

— Eu sinto muito... — respondi. — Espero de coração que ela se recupere logo...

Teresa apenas deu um breve sorriso e tomou um gole do seu café.

— Então só moram você e a sua filhinha aqui? — Bárbara quis saber, claramente tentando melhorar o clima da conversa. — Como é mesmo o nome dela, aliás?

— Ela se chama Lara — Teresa respondeu, mais alegre e aliviada com a mudança de assunto. — Ela tá no quarto agora, brincando com as bonecas, mas daqui a pouco aparece por aqui, pedindo alguma coisa. Mas, respondendo à sua pergunta — ela continuou, — não somos apenas nós duas. Também tem o meu irmão mais velho, o Samuel. Ele tá trabalhando, volta só no fim do dia.

— Perdão pela intromissão — Inara disse, com cautela, — mas vocês são híbridos por parte de mãe ou de pai?

— Por parte de pai — Teresa respondeu, retornando a uma postura mais séria. — Meu pai biológico vive em outra dimensão, faz parte de uma espécie de criaturas misteriosas, as "pessoas das águas"... Ele veio para o nosso mundo algumas vezes e, em três dessas visitas, deixou minha mãe grávida do Samuel, de mim e do Roberto... Depois disso, desapareceu e não deu mais notícias. Minha mãe até tentou seguir com a vida dela e se casou com um humano comum, mas não deu muito certo. Eles brigavam muito e acabaram se separando de vez depois da morte do Roberto. Meu padrasto também está internado agora, mas o caso dele é um pouco mais complicado...

— O que é que ele tem? — Bárbara indagou, apreensiva.

— Tá numa clínica de reabilitação, tentando controlar o alcoolismo — nossa anfitriã respondeu. — Mas parece que os médicos estão tendo um pouco de dificuldade com ele... Meu padrasto não é uma pessoa das mais fáceis de se lidar... Costuma agir de maneira agressiva sempre que é contrariado... Eu, minha mãe e meus irmãos sentimos isso na pele várias vezes...