21. A vez em que um jovem lobo iniciou uma fuga arriscada

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Durante todos os meus não tão extensos dezoito anos de vida, sempre vibrei com filmes de ação: a adrenalina dos combates, o suspense nas perseguições, a sensação de alívio com um desfecho bem-sucedido e o herói recebendo a recompensa por seus atos de coragem. Porém, nunca cheguei a imaginar que um dia eu mesmo viveria aquelas mesmas situações improváveis e, principalmente, que as minhas reações em tais momentos seriam tão opostas àquelas que eu sentia enquanto não passava de um mero espectador.

Fugir de um país tão grande quanto o Brasil não é uma das tarefas mais fáceis, principalmente quando se é perseguido por lobos de elite de uma organização poderosa como a Caçada Voraz. Após o fatídico confronto sangrento com Navalha na fazenda, Benjamin e eu mal tivemos tempo de entrar no jipe de Davi e seguir em alta velocidade até a cabana, sem saber o que nos aguardava a partir dali.

Ao chegar na casa de Ben, pegamos apenas nossos documentos, roupas e itens mais essenciais e os jogamos em malas o mais rápido possível. Depois de uma breve e triste despedida, Clarissa e Alice seguiram para a comunidade das panteras, enquanto eu e meu irmão tomávamos a estrada mais uma vez, agora rumo a um destino muito mais longínquo e imprevisível, a cerca de cinco mil quilômetros de distância de Esmeraldina.

Apesar de já terem se passado meses desde aquele triste dia de nossa fuga, me lembro muito bem da conversa que eu e meu irmão tivemos no carro.

— Ben, pra onde a gente tá indo exatamente? — eu perguntei, completamente desolado, sem conseguir parar de pensar no fim que meu pai tivera diante dos meus olhos.

— Pra bem longe daqui — foi só o que ele me respondeu, mal-humorado, os olhos fixos na estrada.

— Eu sei que você não tá legal e já entendi que a gente tá lascado — mencionei, com cuidado, testando o terreno, — mas me ajudaria muito se eu tivesse pelo menos um objetivo pra me focar. Algo em que eu pudesse concentrar as minhas energias e não ter que ficar pensando em tudo o que acabou de acontecer com a gente... — suspirei. — Aquela cena, na fazenda, não sai da minha cabeça...

Benjamin respirou fundo, como se estivesse reunindo forças para manter a mesma aura de paciência que ele costumava transmitir normalmente, antes de toda aquela confusão começar, quando ele não passava de um mero professor universitário.

— Como eu já disse, nós vamos até o berço dos lobos — ele finalmente respondeu, adotando uma postura didática. — No Brasil não há entre a nossa espécie uma autoridade maior do que a Caçada Voraz. Então, nós teremos que recorrer a um grupo que está acima do Conselho dos Sete, fora daqui.

— E como se chama esse outro grupo que eu nunca ouvi falar? — eu quis saber, curioso.

— São os Lobos Anciãos. Eles são responsáveis por proteger a história e as tradições da nossa espécie. Vivem reclusos em um lugar de difícil acesso e não costumam se misturar com humanos comuns ou com outras criaturas mágicas, a menos que seja extremamente necessário.

— Será que eles vão aceitar nos ajudar? — ponderei. — Se eles são tão importantes assim, talvez nem queiram dar ouvidos pra gente...

— Nós daremos bons motivos a eles — Ben replicou, confiante. — Tenho certeza de que os Anciãos ficarão enojados quando souberem que a Caçada Voraz está forçando uma transformação que não é natural usando as relíquias. Sem falar em todo esse golpe pra concentrar o poder nas mãos de um rei ilegítimo e acabar com a autonomia das alcateias. O Brasil é o país com a maior concentração de lobos da América do Sul. Não é possível que eles não decidam interferir quando receberem essas notícias.

— Você acha mesmo que eles darão conta de derrotar o Conselho dos Sete? — indaguei. — Duvido muito que o Navalha vá voltar atrás em suas atitudes apenas na base da conversa...

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora