18. A vez em que uma loba dourada reencontrou um ente querido

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Após reconhecer aquela voz familiar, procurei entre os presentes por sua origem, até ter certeza de que eu não havia me enganado. Logo pude ver um rosto conhecido, porém numa versão muito mais abatida, em um corpo magro, trajando roupas folgadas, que se misturavam aos longos cabelos soltos e desgrenhados. Entretanto, foi apenas ao ouvir meu nome que eu pude eliminar as dúvidas sobre a identidade daquela pessoa e enfim respirar aliviada.

— Maia? — ela disse, hesitante. — É mesmo você, minha filha??

Sem perder mais tempo, corri até a recém-chegada e a abracei apertado, deixando minhas lágrimas rolarem sem me importar com todos os olhares voltados para nós naquele momento.

— Tá tudo bem com você, mãe? — finalmente consegui perguntar. — Você tá machucada?

— Não se preocupe, eu tô bem — ela me tranquilizou, enquanto acariciava meus cabelos e enxugava minhas lágrimas, os olhos dela também marejados, fixos em mim. — E você, meu amor? Como tem se virado sozinha por aqui?

— Tô levando, do jeito que dá... — balbuciei, sem saber muito bem o que responder àquela pergunta.

— Com licença, prezadas — ouvi a voz do Pajé dizer, com cuidado, atrás de nós. — Peço perdão por interromper o reencontro de vocês, mas precisamos continuar esta assembleia. Ainda não decidimos o que iremos fazer a respeito do Véu e dos lobos. E me parece que a Helena tem informações novas pra dividir conosco.

Minha mãe me deu um sorriso contido e apertou minhas mãos entre as delas, como se estivesse me encorajando.

— Vamos resolver isso aqui primeiro, estão todos esperando por nós — ela me pediu, em voz baixa. — Depois a gente conversa com calma e se atualiza, tudo bem?

Eu assenti, sem dizer mais nada, e a observei se movimentar, decidida, indo ocupar um lugar junto ao Pajé e à Eleonora, no centro do círculo.

— Boa noite — ela cumprimentou a todos, séria. — Acredito que a maioria de vocês já me conhece. Meu nome é Helena, sou uma das representantes do último Casal-Líder da alcateia de Esmeraldina. Ocupei esse cargo junto com o meu marido Augusto, o antigo delegado da cidade, por quase dez anos. Porém, por não nos submetermos ao golpe de estado cometido pela Caçada Voraz, meu marido foi friamente assassinado diante de mim e dos nossos filhos e eu fui mantida como prisioneira em condições precárias, numa base no meio da floresta amazônica, durante os últimos seis meses.

A comoção pode ser visivelmente notada nos presentes após eles ouvirem o relato de minha mãe. Praticamente toda a comunidade sobrenatural de Esmeraldina sabia sobre as mudanças recentes que haviam ocorrido na alcateia, mas ninguém podia dizer com certeza o que era fato e o que era rumor. Porém, quando as palavras eram ditas por uma das principais vítimas em pessoa, a gravidade de todos aqueles atos finalmente impactava aqueles que ouviam a narração de tal tragédia.

— Foi o mesmo que fizeram comigo, aqueles bastardos... — Tatianna praguejou, entredentes. — A diferença é que os covardes não tiveram coragem de me tirar daqui, com medo de serem interceptados por algum dos meus aliados vampiros no caminho até uma dessas bases isoladas deles. Por isso preferiram me manter na fazenda...

— E como é que vocês duas conseguiram escapar? — o homem jacaré perguntou, confuso.

— Os filhos de Hécate me resgataram usando a magia deles pra enganar os lobos — Tatianna respondeu, sem hesitar, e eu respirei aliviada por ela não ter mencionado o envolvimento de Anne na missão; caso aquilo de alguma forma chegasse aos ouvidos de Lavínia, poderia acabar causando problemas para as panteras, algo que eu definitivamente não desejava.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora