43. A vez em que um jovem órfão se despediu de um grande amigo

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O que não tem remédio, remediado está, já dizia o ditado. Era exatamente aquilo que eu e meus aliados repetíamos a nós mesmos sem parar, naquele atual momento de dúvidas e incertezas em que vivíamos.

O Véu felizmente não tinha caído, mas, em compensação, tinha ficado escuro graças à magia dos vampiros e transformara o dia em noite em uma questão de minutos. Nós, impotentes, não podíamos fazer nada para resolver tal situação; por isso nos contentávamos em torcer para que as palavras do Vampiro Rei fossem mesmo verdadeiras e que a barreira de proteção mágica voltasse ao normal por conta própria, depois de passado algum tempo. As gárgulas continuavam a solta pela região enquanto isso, e pairava sobre Esmeraldina uma atmosfera semelhante à das cidades fantasma de filmes de terror, como se o vilarejo estivesse pronto para atrair e eliminar os visitantes mais incautos que ousassem se aventurar por aquelas terras sombrias.

Atendendo às recomendações dos adultos mais velhos, achamos melhor retornar para a pousada, a fim de descansar e tratar daqueles que tinham se machucado na batalha. Porém, mal tínhamos nos afastado alguns metros em direção à rodovia, onde estava estacionada boa parte dos veículos que usamos para chegar até ali, quando fomos interrompidos por Tatianna, Eugene e Roman.

— Esperem — a vampira mais velha nos pediu, aflita. — Nós precisamos fazer um funeral apropriado para o Vlad. Não podemos simplesmente abandonar o corpo dele aqui. Mas também não temos como transportá-lo até o território dos vampiros. Vocês podem nos ajudar a cuidar disso, por favor?

Eu olhei para minha tia, ansioso, e nem precisei dizer nada, pois ela já havia captado a minha mensagem e muito provavelmente tinha pensado o mesmo que eu.

— Tem um bosque no fundo da minha pousada — ela mencionou. — São terras consagradas à Deusa e protegidas por magia. E o principal, também são parte da minha propriedade. Se vocês acharem apropriado, eu autorizo que vocês escolham algum lugar dentro desse bosque para fazer o sepultamento. E eu garanto que ninguém irá perturbar o descanso do Vlad ali, fiquem tranquilos quanto a isso.

— Nós aceitamos a oferta e agradecemos muito pela generosidade — Tatianna respondeu, com a voz embargada. — O Vlad estimava muito o Davi. Tenho certeza que meu filho aprovaria que o corpo dele repousasse perto de vocês.

— Então está decidido — minha tia assentiu. — Vocês precisam de ajuda com o transporte?

— Eu levo o corpo do meu irmão, não se preocupem com isso — informou Eugene, sério. — Vou usar um dos cavalos que os lobos abandonaram por aqui. Encontro vocês na pousada.

— Vocês três não vão precisar voltar pro castelo, agora que a guerra acabou? — eu perguntei à Tatianna, curioso e ao mesmo tempo preocupado com o que aconteceria com eles em seguida.

— Antes do Alphaeos chegar com a cabeça do Navalha, o rei me chamou à parte e me disse que eu e meus filhos estávamos dispensados para cuidar do funeral e nos despedir apropriadamente do Vlad assim que a batalha contra os lobos terminasse — ela explicou, pesarosa. — Ele falou que podíamos nos ausentar o tempo que julgássemos necessário. Então estamos todos numa espécie de "afastamento" temporário das nossas funções no reino dos vampiros e não temos pressa para voltar.

— Será que o Leo vai ficar bem, sozinho naquele castelo? — Maia quis saber, apreensiva. — Ele ficou bem transtornado depois da chegada das gárgulas...

— Também estou preocupada com ele, eu admito, mas Leocaster é forte e consegue se virar por alguns dias — a vampira respondeu, quase como se estivesse anestesiada pela dor. — E eu tenho certeza de que ele também gostaria que o Vlad tivesse um enterro decente. Assim que cuidarmos disso, vou retornar ao castelo para me certificar de que está tudo bem com meu mestre, não se preocupem.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora