13. A vez em que uma loba dourada encarou um fantasma do passado

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A surpresa que eu tivera ao receber uma ligação inesperada de Poliana nem se comparava ao que eu sentia agora, ao descobrir que não apenas minha colega tinha despertado sua magia, como essa magia era, nada mais, nada menos, que a magia das trevas.

— Poliana, você tem certeza de que é mesmo seguro mexer com esse tipo de coisa? — perguntei, receosa. — Não me entenda mal, não é que eu não esteja feliz por você, mas eu nunca ouvi comentários muito positivos a respeito da magia das trevas...

— Não precisa ter medo — ela me garantiu. — Há muitas noções equivocadas envolvendo a magia das trevas. Todas as magias são iguais, elas apenas vêm de fontes diferentes. O motivo da magia das trevas ser tão temida não é por ela ser ruim em sua essência, maligna, ou algo do tipo, mas sim por conta da sua origem. Você sabe de onde vem a energia da magia das trevas? — perguntou ela.

— Não tenho muita certeza... — admiti. — Das sombras? Do escuro? Da noite? — arrisquei.

— Sim, ela também se origina de todas essas coisas, mas você esqueceu da fonte principal — Poliana pontuou. — A magia das trevas se origina da morte. A cada segundo, milhares de seres vivos abandonam sua existência neste plano. Eles desencarnam e abandonam seus corpos físicos, indo encontrar outras formas de existir. Durante esse processo, em meio ao ato de morrer, muita energia é liberada desses corpos sem vida e fica solta no espaço. É essa energia que eu e os demais filhos de Hécate manipulamos.

— Resumindo, você faz magia com restos de cadáveres? — eu questionei, ainda receosa.

— Bem, eu não mexo com corpos mortos, se essa é sua preocupação, mas, de certa forma, você não está tão errada assim — Poliana concordou, rindo. — Essa é a primeira ideia que as pessoas têm quando descobrem sobre a magia das trevas. Imediatamente, muitos confundem o que fazemos com práticas mal-intencionadas, ou com violação de sepulturas, mas nada disso é verdade. No fundo, esses preconceitos aparecem apenas pra mascarar um medo maior.

— E que medo seria esse? — eu quis saber, curiosa.

— Qual é a coisa que os seres vivos mais temem, principalmente por saberem que é certeira e não pode de forma alguma ser evitada?

— A morte... — respondi, entendendo onde Poliana queria chegar.

— Exatamente — ela confirmou.

— Mas você tem mesmo certeza de que é seguro fazer esse tipo de magia? — indaguei. — Você não pode acabar se machucando sem querer?

— Lidar com magia das trevas envolve os mesmos riscos que lidar com qualquer outro tipo de magia — Lia respondeu, voltando a participar da conversa. — Em todo tipo de bruxaria, é preciso estudo, preparação, responsabilidade... Sempre haverá riscos, mas está nas mãos do bruxo a tarefa de evitar que ele ou alguém mais acabe se machucando.

— Entendi — afirmei, pensativa. — Bem, Poliana, nós nunca fomos muito próximas, mas eu sempre percebi o quanto você é dedicada e criteriosa com tudo em que decide se envolver, seja no colégio, seja na sua vida pessoal. Eu fiquei bastante surpresa com essas novidades, não vou mentir, mas, se é esse o caminho que você resolveu seguir, eu aposto que você vai se sair muito bem e vai fazer as coisas do jeito certo — opinei. — Só peço que tome cuidado, por favor, e peça ajuda pra sua irmã se algo der errado. Nunca é demais se precaver.

— Pode ficar tranquila, Maia — ela me garantiu. — Eu aprendi minha lição quando me envolvi com os Pétalas Vermelhas e não vou mais agir de maneira irresponsável. Uma das exigências pra seguir os preceitos de Hécate é justamente reconhecer nossa ignorância e pequenez, e estar sempre de prontidão pra reparar nossos erros e recomeçar do zero. Eu vou dar o meu melhor, tenha certeza disso. Não vou decepcionar a minha Deusa.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora