39. A vez em que um jovem lobo presenciou uma batalha nas chamas

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[NOTA DO AUTOR: Sempre uso músicas como inspiração para as cenas das minhas histórias, geralmente vejo os capítulos na minha cabeça como se fossem um filme completo, com uma trilha sonora própria. A cena de batalha do capítulo de hoje, por exemplo, foi imaginada já há algum tempo, mas, quando eu ouvi a música acima no ano passado, eu tive certeza de que, sem dúvidas, seria algo assim que estaria tocando nesse momento, para combinar com essa atmosfera de caos e destruição. Talvez seja um estilo um pouco pesado/extremo para muitos de vocês, mas fica a recomendação de qualquer forma (e o vocalista Will Ramos é um amorzinho, além de tudo) ❤ ]


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A dor do luto é um sentimento que eu, muito provavelmente, jamais serei capaz de explicar. O conceito da morte, por si só, ou a ideia de saber que um dia eu simplesmente deixaria de existir neste mundo, nunca havia sido um incômodo ou motivo de preocupações para mim. Porém, quando o assunto era a morte daqueles que me eram próximos e queridos, as coisas mudavam completamente de figura.

Eu tive um primeiro contato mais real com o luto ao conhecer Davi, naquela época ainda se recuperando após perder os próprios pais de uma maneira inesperada e trágica. Era fácil perceber a dor que ele escondia por detrás de uma fachada de sorrisos e confiança exagerada, e não eram poucos os momentos em que os olhos dele entregavam um emaranhado de sentimentos difíceis, que ele ainda estava tentando processar. Depois disso veio a morte de Rojão, me fazendo avançar nesse mar do luto até a água tocar os meus joelhos, fria e assustadora; e, por fim, veio o assassinato do meu pai, me puxando pelos pés e me arrastando de vez até as profundezas mais inacessíveis da dor e do desespero.

Eu tinha aprendido a lidar melhor com aquele sentimento de perda durante os últimos seis meses; e, graças ao treinamento no berço dos Lobos Anciãos, me sentia mais seguro para continuar avançando em minha missão de fazer justiça à minha família e à minha espécie, sem perder a sanidade no meio do caminho. Mas daí surgiu Tatianna e seus três filhos e eu me dei conta de que talvez isso não fosse uma tarefa tão simples assim.

De fato, não tive muito tempo para conviver com aquele grupo de morcegos em específico e poder entender melhor a dinâmica familiar estabelecida após um humano ser transformado por um vampiro. Tatianna era mais do que uma mãe para os rapazes: ela era a guardiã, a salvadora e a libertadora de três jovens órfãos, que teriam tido um fim deplorável se ela não tivesse entrado em cena e os convertido em seres da noite, décadas atrás. E a devoção dos três filhos era muito fácil de ser percebida; bastava olhar para os quatro juntos que você rapidamente entendia que aquele vínculo era muito mais forte do que um mero grau de parentesco. Era uma conexão de almas.

Ver aquele laço ser quebrado diante dos meus olhos, impotente, sem poder fazer nada para impedir, foi uma das experiências mais traumáticas da minha vida. Em questão de segundos, a vida de Vlad, o amigável morcego intelectual, foi ceifada. E assim, sem mais nem menos, a guerra nos deu um bofetão brutal no rosto e nos fez entender que não havia mais limites para o quão terríveis nossas perdas poderiam ser. Nada estava garantido. A vida de cada um de nós estava em jogo. Primeiro foi Vlad, mas e o próximo, quem seria?

Finalmente me dei conta de que talvez eu não estivesse mais tão tranquilo com a ideia de morrer, não quando a morte estava tão perto, à espreita, apenas esperando por um descuido meu para me levar deste mundo e me afastar definitivamente de todos aqueles que eram tão valiosos para mim.


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O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora