Capítulo 8 - Prova de sangue

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A longa semana se iniciou e a saudade veio com os dias que se seguiram. Como eu não ia à marina durante a semana, ficava em casa estudando ou matando o tempo. Aliás, foi logo na segunda-feira à tarde que uma das fichas caiu...

— Cadê o meu livro? — disse a mim mesmo.

Logo que iniciei a busca, a lembrança da Desert Rose apareceu magicamente em minha mente. Claro! Eu havia esquecido no sofá da cabine... Com um turbilhão de emoções atravessando meu cérebro, o bendito livro ficou no barco e eu nem percebi.

O temor de ser pego com a filha dos Niechtenbahl's era maior que qualquer detalhe, como esse. Assim, lamentei muito, pois, não podia pedir à minha mãe para entrar num barco particular. Meu pai então, nem se fala...

Naquele dia, após a meia-noite, Diana me ligou e revelei-a o detalhe do livro. Ela se mostrou apreensiva, porém, piorou a coisa ao lembrar-se do lençol manchado de sangue. Nosso "crime" perante a família Niechtenbahl poderia ser descoberto.

Convencemo-nos naquela noite de que o tecido vermelho dificultaria a identificação do ato ocorrido naquele dormitório da lancha. Prometi-lhe também que na terça tentaria acessar o barco se ainda estivesse na água. Mudando de assunto, ela perguntou:

— Amor, quando você vem me ver?

— Linda, eu estou pensando no fim de semana, mas não é nada certo. Se tiver pedido grande, ou vários para a cantina, terei de ajudar meu pai.

— Espero que não tenha, pois, preciso estar com você...

Antes de eu falar, ela se desculpou.

— Perdão meu lindo, falei sem pensar. É que eu quero você, entende?

— Eu também amor. Na noite passada, eu nem dormi direito, querendo te ver aqui.

Não revelei toda a verdade, visto desejar poupá-la de mais lágrimas. Contudo, meu travesseiro teve sua fronha molhada e não foi de suor. Enquanto olhava para a escuridão sobre mim naquele quarto, eu só conseguia vê-la.

Em meus 19 anos, eu não imaginava ser arrebatado por um sentimento tão forte, algo que esvaziava completamente meu ser do resto do mundo. A sensação de vê-la distante parecia como a de um soldado que vai para a guerra sem ter certeza de que voltará...

Ah! Primeiro amor... Você vem como um soco no peito, onde o coração paralisa para todos, menos para quem te golpeou! Então, para remediar a saudade, procuramos nos conhecer mais por telefone. Nessa noite, lembrando-se de Ingrid, questionei-a sobre o apelido "Wen".

— Gui, nós a chamamos de "Wen" porque ela é pequena, a mais nova.

— Não entendi.

— "Wen" vem do alemão "Wenig", que quer dizer pequena.

Diana pronunciou na língua de seus pais e revelou algo que me deixou surpreso.

— Você fala alemão?

— Sim, fluentemente. Aliás, eu sou alemã.

— Nem imaginei que fosse alemã? Nem tem sotaque...

Ja, ich bin geboren Nordenham — disse Diana em sua língua materna.

— Não entendi nada — ri ao final.

— Seu bobo, pare de rir. Eu disse que nasci em Nordenham, uma cidade vizinha de Bremerhaven, no norte da Alemanha Ocidental. Bem, agora só Alemanha né?

Diana fez referência à Unificação Alemã, que ocorrerá quatro anos antes.

— Sim, eu vi a Queda do Muro de Berlim pela TV.

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