A longa semana se iniciou e a saudade veio com os dias que se seguiram. Como eu não ia à marina durante a semana, ficava em casa estudando ou matando o tempo. Aliás, foi logo na segunda-feira à tarde que uma das fichas caiu...
— Cadê o meu livro? — disse a mim mesmo.
Logo que iniciei a busca, a lembrança da Desert Rose apareceu magicamente em minha mente. Claro! Eu havia esquecido no sofá da cabine... Com um turbilhão de emoções atravessando meu cérebro, o bendito livro ficou no barco e eu nem percebi.
O temor de ser pego com a filha dos Niechtenbahl's era maior que qualquer detalhe, como esse. Assim, lamentei muito, pois, não podia pedir à minha mãe para entrar num barco particular. Meu pai então, nem se fala...
Naquele dia, após a meia-noite, Diana me ligou e revelei-a o detalhe do livro. Ela se mostrou apreensiva, porém, piorou a coisa ao lembrar-se do lençol manchado de sangue. Nosso "crime" perante a família Niechtenbahl poderia ser descoberto.
Convencemo-nos naquela noite de que o tecido vermelho dificultaria a identificação do ato ocorrido naquele dormitório da lancha. Prometi-lhe também que na terça tentaria acessar o barco se ainda estivesse na água. Mudando de assunto, ela perguntou:
— Amor, quando você vem me ver?
— Linda, eu estou pensando no fim de semana, mas não é nada certo. Se tiver pedido grande, ou vários para a cantina, terei de ajudar meu pai.
— Espero que não tenha, pois, preciso estar com você...
Antes de eu falar, ela se desculpou.
— Perdão meu lindo, falei sem pensar. É que eu quero você, entende?
— Eu também amor. Na noite passada, eu nem dormi direito, querendo te ver aqui.
Não revelei toda a verdade, visto desejar poupá-la de mais lágrimas. Contudo, meu travesseiro teve sua fronha molhada e não foi de suor. Enquanto olhava para a escuridão sobre mim naquele quarto, eu só conseguia vê-la.
Em meus 19 anos, eu não imaginava ser arrebatado por um sentimento tão forte, algo que esvaziava completamente meu ser do resto do mundo. A sensação de vê-la distante parecia como a de um soldado que vai para a guerra sem ter certeza de que voltará...
Ah! Primeiro amor... Você vem como um soco no peito, onde o coração paralisa para todos, menos para quem te golpeou! Então, para remediar a saudade, procuramos nos conhecer mais por telefone. Nessa noite, lembrando-se de Ingrid, questionei-a sobre o apelido "Wen".
— Gui, nós a chamamos de "Wen" porque ela é pequena, a mais nova.
— Não entendi.
— "Wen" vem do alemão "Wenig", que quer dizer pequena.
Diana pronunciou na língua de seus pais e revelou algo que me deixou surpreso.
— Você fala alemão?
— Sim, fluentemente. Aliás, eu sou alemã.
— Nem imaginei que fosse alemã? Nem tem sotaque...
— Ja, ich bin geboren Nordenham — disse Diana em sua língua materna.
— Não entendi nada — ri ao final.
— Seu bobo, pare de rir. Eu disse que nasci em Nordenham, uma cidade vizinha de Bremerhaven, no norte da Alemanha Ocidental. Bem, agora só Alemanha né?
Diana fez referência à Unificação Alemã, que ocorrerá quatro anos antes.
— Sim, eu vi a Queda do Muro de Berlim pela TV.
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Desert Rose
Teen FictionGuilherme tem uma relação complicada com o pai e seu pensamento mais profundo é largar tudo e partir... Contudo, sua vida dará uma guinada enorme ao se deparar com os belos olhos azuis de Diana, alguém que ele acredita ser "inalcançável". Ela, uma g...