Capítulo 33 - Manoel

12 3 0
                                    


No umbral do portão, observei o Gol de Martha virar a esquina levando consigo não só meu anjo, mas também minha amada e a tia Débora. Ao lembrar-se dela, imediatamente pensei nele, o meu pai. Em tempos onde internet ainda era um sonho distante, apenas o telefone era o canal mais imediato de comunicação.

Sem celular, só podia aguardar Eliza chegar. Nesse tempo, andei pela casa e me recordei de alguns bons momentos de minha vida até ali. Não sabia ainda, mas era uma despedida antecipada. Sentei na cama e juro que ainda podia sentir o calor dela sobre o lençol.

A saudade de Diana já se fazia ali, mas também a vontade de consertar tudo. Olhei pela janela e observei o Paturi 16. Imaginei velejar com a morena sob um céu de brigadeiro e com o vento nos empurrando para longe. Todavia, as águas que cruzaríamos seriam mais difíceis e desafiadoras.

Adormeci em minha cama e após muito, despertado novamente. Desta vez, por minha mãe, com exaustão explícita em seu ainda jovem rosto.

— Como ele está?

— Bem, recuperando-se. Já está acordado.

— Ele perguntou de mim?

Driblando o cansaço, Eliza sorriu.

— Sim, queria saber se você foi ao hospital. Respondi que sim, e que estava com Felipe.

Não disse nada, apenas mirei em seus olhos, esperando pela conclusão.

— Ele pediu para você ir visitá-lo.

— Tá! Vou sim!

Diante de Eliza, me apresentei como alguém animado e feliz. Em parte sim, mas também preocupado. Haveria Manoel me perdoado? Minha mãe também não escondia seu estado e sabia o quanto isso era importante. Passar aquela noite com ela foi ótimo. Senti novamente o sabor de viver em casa.

Mais que isso, sentia de fato o gosto de ser amado novamente. Não por ela, é claro, pois, o Amor de mãe é eterno. Acredito que quando Deus depositou no homem a capacidade de amar, multiplicou isso várias vezes na mulher que tem um filho. Saborear aquele momento foi mágico, inesquecível.

#

No dia seguinte, parti para o hospital com minha mãe. Ao volante do Fusca 1500 1975, de cor Azul Colonial, o "azul calcinha", fiquei a pensar na conversa que teria com Manoel. Meu pai era um homem muito duro e sabia que haveria alguma repreensão adicional.

Meu pai me expulsou de casa pelo que fiz e viu seu negócio arruinado por minhas ações. Era muita coisa para ser resolvida, mas depositei um pouco de fé no que minha mãe me disse.

— Olhe meu filho, não se preocupe, tá? Se ele quer te ver, é porque tem algo importante para te falar. Não acredito que vá querer o seu mal, pelo contrário, ele sempre quis o seu bem.

— Sei mãe, mas fiz muita cagada. Claro, ele também pegou pesado em me expulsar, mas o lance da marina, isso não terei como escapar...

— Escute! Trabalho, nós arrumamos. Aliás, antes de...

— Do quê mãe?

Eliza parou por um momento e, olhando pela pequena janela do Fusca, sorriu e completou.

— Antes de tudo, ele é seu pai. O resto resolvemos, tudo bem? Além disso, estou empolgada com minha netinha.

A felicidade de Eliza era empolgante e me confortou diante do inevitável encontro com meu pai. Minha tia passou um período inteiro com o irmão e decerto havia comentado sobre as visitas que chegaram. Só me dei conta disso ao entrar no Hospital Santo Amaro.

Desert RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora