Capítulo 35 - Deja vu

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A sensação não passava enquanto aquela ambulância balançava incansavelmente em direção ao hospital. Havia sentido algo momentos antes de Andrea entrar no mar e aquilo ainda continuava em mim. Era muito estranho antever um fato que ocorreu a seguir.

Junto dela, naquele carro, parecia que tudo já havia acontecido. Nos mínimos detalhes a vi deitada na maca, com a máscara de oxigênio e presa por cintos pretos.

Ao lado, a socorrista, uma mulher negra, lá pelos 30 anos, monitorava a jovem ruiva. Agachado atrás dela num pequeno espaço, segurava a mão de Andrea, que ocasionalmente, mirava-me com olhar assustado.

Um deja vu me ocorreu pela primeira vez na vida. A partir daquele momento, essa sensação de ver algo que já teria ocorrido, me acompanhou por muito tempo. Não sabia, mas outro evento, acredito eu, no mesmo momento, me revelaria algo impressionante.

A "sensação" passou e longos minutos depois, a Ipanema estacionou na entrada do pronto-socorro do Hospital Santo Amaro, do qual meu pai havia saído dias antes. Ainda assustada, Andrea foi levada para a emergência, mas lembro-me de dizer-lhe que ficaria tudo bem e ela sorriu.

Não demorou muito e então, as vi entrar apressadas na sala do atendimento. Estranhei terem chegado tão rápido, mas o que segue, me deixou estupefato.

— Gui! Meu amor!

— Di! O que está fazendo?

A morena nem respondeu e me abraçou. Sem entender de fato, mirei em Martha, que parecia tão surpresa quanto eu.

— Gente! Vocês podem me explicar, o que estão fazendo aqui?

Martha se adiantou à irmã.

— Sinceramente não sei Gui! Essa garota ficou doida quando viu a ambulância.

— Viu o quê?

Não consegui processar a informação de imediato, mas Diana, aliviada por me ver bem, finalmente esclareceu.

— Sabia que você estava naquela ambulância!

— Como?

Tirando o sorriso do rosto e denotando preocupação, a morena continuou.

— Não sei. Só sabia que você tava dentro dela e eu precisava vir atrás.

Olhei para a Martha, que ficou assombrada ao ouvir.

— Martha?

— Gui, não sei explicar, mas ela não disse quem estava no carro até aqui. Essa maluca surtou e se não fizesse o que pedia, penso que teria a Leonor ali mesmo!

— Não exagera Tata! Sim, confesso, fiquei nervosa quando não quis me atender, mas viu? Olha só quem está aqui!

Para Diana, não havia uma surpresa, mas para nós, apenas o espanto. Martha continuou assustada e chegou a mirar o ventre volumoso da irmã. Pensava algo e talvez fosse sobre o bebê.

Então, tirada de seu momento sublime de premonição, minha namorada efetuou a pergunta que faltava. Disso, seu "poder" não revelara com antecipação.

— Por que está aqui, meu amor? Seu pai piorou?

— Meu pai está bem e em casa.

Martha intrometeu-se.

— Então, quem está lá dentro?

Mirei as duas e meu semblante mudou.

— Vocês não vão querer saber...

Desert RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora