Capítulo 34 - O cheiro da morte

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Manoel ficou mais dois dias no hospital e já era sábado de manhã quando recebeu alta. O visitei durante o período e conversamos mais, especialmente em relação a trabalho. Era uma questão importante que ele me relembrou.

Ao chegarmos a casa, onde fiquei desde a visita do perdão, não tardou a campainha tocar. Imaginei ser algum dos amigos de Manoel, mas ao abrir o portão, ela se fez presente com sorriso formado, revelando dentes branquíssimos.

Seus olhos verdes clarinhos e as sardas num mar rosado harmonizavam com os lábios avermelhados, delicadamente esculpidos. O cabelo alaranjado lhe caía sobre os ombros em um penteado novo e atraente. Nem é preciso descrever o resto, pois, estava sensualmente belíssima.

Não parecia que Andrea havia abortado há pouco mais de dois meses. Estava em plena forma e parecia bem. Quer dizer, apenas aparentava...

— Oi! Nem parei em casa e vim aqui te ver.

— Dea, mas...

— Não tem "mas". Vim te ver, não gostou?

— Não é isso...

— Então, o que é?

Já visivelmente incomodada com minha resistência, Andrea insistiu no assunto.

— Diga Gui, ela está aí?

— Não, mas logo chegará.

— Então vocês fizeram as pazes?!

A incredulidade da ruiva se fez notar e a convidei a caminhar na praia, o que ela aceitou sem questionar novamente. No caminho, perguntei sobre sua saúde e ela disse estar bem. Então, ela pegou em minha mão e, embora eu quisesse soltar, não a queria magoar com uma cena dessas.

Sim, naquele momento, meu sentimento para com Andrea era diferente. Não era totalmente pena pelo que aconteceu com ela, mas, no fundo, ainda gostava da ruiva. Nunca imaginei que meu coração pudesse ser dividido, mas me enganava ao negar a mim mesmo.

— Nunca estive nessa parte da praia do Perequê.

— Aqui é onde os turistas não aparecem.

— Tem uma cachoeira aqui, né?

— Sim, fica lá no final do bairro.

— Me leva lá algum dia?

Nesse momento, precisava colocar um doloroso ponto final nessa história, mas tinha de ter coragem para fazê-lo. Era necessária a ação, caso contrário, minha vida continuaria confusa.

— Desculpe Dea, mas não será possível.

— Por que, é perigoso?

A ingenuidade dela era tão imensa quanto seu amor por mim e espelhei meus olhos diante daquele mar de ondas calmas. Só o meu oceano estava revolto, mas não de raiva e sim de revolta! Não era justo dizer não para alguém como Andrea. Digo não pela gravidez perdida, mas pelo enorme sentimento que havia.

— Dea, gosto muito de você.

Percebendo meu semblante triste e meus olhos que denunciavam a dor. Andrea acordou de seu sonho e viu que a realidade não lhe favorecia.

— Está se despedindo de mim?

Ao formular a questão, o rubro tomou-lhe a face e as lágrimas escorreram sem delongas. Vê-la daquele jeito me fez ficar igual, mas tinha de falar.

— Sim. Andrea, eu não negarei que você tem uma parte de mim. Também não mentirei, dizendo que não te amo. Todavia, não posso viver assim. Não quero te machucar mais e nem a ela.

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