Quando Andrea mudou-se para a casa do primo, contra a vontade dos pais, veio também com a decisão de ficar comigo. Ainda assim, mesmo sob a chantagem de Ana, foi inevitável não tê-la na cama por vontade própria, afinal, ela ainda me atraía muito. Todavia, essa não era a vida que queria.
Assim, no dia 18 de janeiro, levantei muito cedo, pouco antes das 6h da manhã, tomei um banho e me vesti. Após arrumar rapidamente minha mochila com o básico, mirei-a sob os lençóis, em pleno sono. Senti um frio na barriga por deixar a segurança de seus braços e sua proteção.
No entanto, precisava dar "paz" para a vida dela, de Felipe e de todos, especialmente de Diana. Desci e encontrei Joice na cozinha, logo cedo. Cumprimentei a esposa do caseiro, que me ofereceu uma xícara de café. Falei que iria para uma entrevista de emprego para não levantar suspeitas.
Antes de sair, porém, deixei na mesa de centro da sala, uma carta que escrevi no dia anterior. Nela, endereçada ao Felipe, me despedia dele e também de Andrea. Expliquei os motivos que me fizeram partir e pedi que comunicasse isso à Diana e minha mãe.
Tomei o rumo da rodoviária, onde busquei ônibus para o mais longe que pudesse ir naquela manhã. Temi seguir para São Paulo, devido aos perigos da capital paulista.
Então, em Guarujá, apenas Ribeirão Pires era o destino mais distante, mas havia esquecido Caraguatatuba. Só lembrei quando estava a bordo, mas, enfim... Peguei o ônibus da Samavisa e desci no ponto final.
Na cidade da Grande São Paulo, eu me vi totalmente perdido inicialmente, andando muito no centro. Com o pouco de dinheiro que consegui juntar, busquei um lugar para ficar e depois um emprego.
Não sei se foi sorte, mas no mesmo dia, encontrei uma pensão na Rua Olímpia Cata Preta e indicação de trabalho numa agência, dois quarteirões de distância. Só no dia seguinte pude ir atrás desse novo emprego, de auxiliar de cozinha numa churrascaria.
Esta, contudo, ficava na Rodovia Índio Tibiriçá. Após entrevista, fui contratado pelo senhor Rubens, dono do local. Minha experiência na cantina ajudou nesse caso. Comecei no dia seguinte e assim segui minha vida longe das águas revoltas do Guarujá...
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"Sem lenço, sem documento", como diz a música, estava eu na chamada "Borda do Campo" vivendo uma vida simples, de trabalhar no restaurante e dormir na pensão. Evitava sair à noite e fazia horas extras para juntar mais dinheiro.
Na verdade, isso era para enganar a mim mesmo, já que não queria distrair a mente, evitando que a saudade de Diana e, porque não dizer, de Andrea, se fizesse maior. O trabalho era cansativo, mas mantinha-me longe de meus problemas ocultos.
Nas poucas horas vagas, lia o livro Operação cavalo de Troia, que me ajudou bastante na época. Já no dia de folga, sempre fazia algo para ajudar a mim mesmo, como lavar roupa, cuidar de meus poucos pertences e corpo...
Falava pouco sobre meu passado em Guarujá com os colegas do trabalho e não criei laços de amizade além do necessário no local. Bem, com uma exceção...
As coisas iam "bem" até que entrou uma garota para ajudar na copa da churrascaria. Com cabelos castanhos claros, olhos grandes e verdes, assim como boca pequena e rosto redondo bem branco, a bonita Maria Clara surgiu diante de meus olhos.
Logo que chegou, alguns colegas do restaurante se entusiasmaram. Eu, porém, mantive-me distante. Aliás, o fazia com todas as mulheres que ali trabalhavam. O medo de machucar mais alguém era grande. O sentimento de culpa ainda me dominava, por isso, nenhuma amizade nova era admissível.
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Desert Rose
Teen FictionGuilherme tem uma relação complicada com o pai e seu pensamento mais profundo é largar tudo e partir... Contudo, sua vida dará uma guinada enorme ao se deparar com os belos olhos azuis de Diana, alguém que ele acredita ser "inalcançável". Ela, uma g...