Naquela noite, minha mãe insistiu em dormir no hospital e decidi voltar com Felipe. Contudo, pouco antes de sairmos do local, Manoel recebeu uma visita inesperada e não necessariamente com interesse velado em sua pessoa.
Me sentia exausto, não só pelo dia de trabalho puxado na churrascaria, mas pelos momentos que tive de enfrentar. A imagem de Diana em minha mente não desaparecia e igualmente a lembrança de Maria Clara.
Então, não sei como, ela apareceu... Num jeans de cintura alta e blusa vermelha com mangas a cair pelos braços, Andrea surgiu apressada, como se adivinhasse meu pensamento.
Quando me viu, sorriu, mas disfarçou sua aparente alegria diante de minha mãe, alquebrada pela tensa situação. Eu e Felipe nos entreolhamos, não entendendo como ela poderia estar ali, no hospital Santo Amaro.
Olhando para Felipe com ar desconfiado, Andrea se aproximou e me abraçou. Ela parecia nervosa e senti seu peito a reproduzir o coração acelerado, quando me perguntou:
— Como você está?
— Estou indo e você?
— Igual a você...
A mensagem era preocupante. Igual a mim? Por quê? A ruiva se dirigiu a minha mãe e lhe prestou solidariedade. Diante da cena, mirei em Felipe, indicando minha inquietação. Ele abaixou a cabeça e disfarçou quando ela o notou novamente.
— Gui, preciso falar com você a sós.
Concordei sem dizer nada e a segui, deixando Eliza e Felipe na antessala. Ela tomou minha mão e me levou até o fim do corredor. No caminho, enquanto caminhávamos em silêncio, comecei a conjecturar que aquela noite não era normal...
— Gui, por onde você esteve?
— Estava em Ribeirão Pires.
— Você não devia ter sumido assim...
— Desculpe, mas não aguentei a pressão.
O rosto de Andrea enrubesceu a seguir e seus olhos se prenderam às mãos que esfregavam os dedos nervosamente. Notei haver algo errado com a ruiva e a questionei.
— Andrea, o que houve?
Quando ergueu o olhar com rios a descer pela face dominada pelas sardas, compreendi que algo grave ocorrera. Não era saudade apenas, era tristeza. Toquei em seu rosto e insisti:
— Dea, o que aconteceu?
Com respiração irregular, a jovem começou...
— Você partiu e fiquei só. Na verdade, ficamos sozinhas, até que ela me deixou...
— Sozinhas? Você e sua irmã?
— Olhe para mim Gui! Olhe!
— Não entendo, por que você diz isso?
— Era uma menina...
Andrea começou a chorar e me abraçou. Então, como um raio, todo meu corpo estremeceu diante do óbvio. Meu maior temor aconteceu e quando me dei conta, apertei-a contra o peito e meus olhos transbordaram como se fossem uma barragem rompida.
Sim, estava claro agora. Andrea sofrera um aborto e o feto era uma menina. O pai? Eu, é claro. Senti a mão da morte a acariciar minha alma... Choramos muito no fim daquele corredor. Quando consegui ter forças, questionei:
— Dea, não consigo dizer nada que te console...
— Não diga... Tive raiva de você, porque nos abandonou. Fiquei muito triste, mas não sabia que isso me afetaria tanto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desert Rose
JugendliteraturGuilherme tem uma relação complicada com o pai e seu pensamento mais profundo é largar tudo e partir... Contudo, sua vida dará uma guinada enorme ao se deparar com os belos olhos azuis de Diana, alguém que ele acredita ser "inalcançável". Ela, uma g...