Capítulo 30 - A ruiva

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Naquela noite, minha mãe insistiu em dormir no hospital e decidi voltar com Felipe. Contudo, pouco antes de sairmos do local, Manoel recebeu uma visita inesperada e não necessariamente com interesse velado em sua pessoa.

Me sentia exausto, não só pelo dia de trabalho puxado na churrascaria, mas pelos momentos que tive de enfrentar. A imagem de Diana em minha mente não desaparecia e igualmente a lembrança de Maria Clara.

Então, não sei como, ela apareceu... Num jeans de cintura alta e blusa vermelha com mangas a cair pelos braços, Andrea surgiu apressada, como se adivinhasse meu pensamento.

Quando me viu, sorriu, mas disfarçou sua aparente alegria diante de minha mãe, alquebrada pela tensa situação. Eu e Felipe nos entreolhamos, não entendendo como ela poderia estar ali, no hospital Santo Amaro.

Olhando para Felipe com ar desconfiado, Andrea se aproximou e me abraçou. Ela parecia nervosa e senti seu peito a reproduzir o coração acelerado, quando me perguntou:

— Como você está?

— Estou indo e você?

— Igual a você...

A mensagem era preocupante. Igual a mim? Por quê? A ruiva se dirigiu a minha mãe e lhe prestou solidariedade. Diante da cena, mirei em Felipe, indicando minha inquietação. Ele abaixou a cabeça e disfarçou quando ela o notou novamente.

— Gui, preciso falar com você a sós.

Concordei sem dizer nada e a segui, deixando Eliza e Felipe na antessala. Ela tomou minha mão e me levou até o fim do corredor. No caminho, enquanto caminhávamos em silêncio, comecei a conjecturar que aquela noite não era normal...

— Gui, por onde você esteve?

— Estava em Ribeirão Pires.

— Você não devia ter sumido assim...

— Desculpe, mas não aguentei a pressão.

O rosto de Andrea enrubesceu a seguir e seus olhos se prenderam às mãos que esfregavam os dedos nervosamente. Notei haver algo errado com a ruiva e a questionei.

— Andrea, o que houve?

Quando ergueu o olhar com rios a descer pela face dominada pelas sardas, compreendi que algo grave ocorrera. Não era saudade apenas, era tristeza. Toquei em seu rosto e insisti:

— Dea, o que aconteceu?

Com respiração irregular, a jovem começou...

— Você partiu e fiquei só. Na verdade, ficamos sozinhas, até que ela me deixou...

— Sozinhas? Você e sua irmã?

— Olhe para mim Gui! Olhe!

— Não entendo, por que você diz isso?

— Era uma menina...

Andrea começou a chorar e me abraçou. Então, como um raio, todo meu corpo estremeceu diante do óbvio. Meu maior temor aconteceu e quando me dei conta, apertei-a contra o peito e meus olhos transbordaram como se fossem uma barragem rompida.

Sim, estava claro agora. Andrea sofrera um aborto e o feto era uma menina. O pai? Eu, é claro. Senti a mão da morte a acariciar minha alma... Choramos muito no fim daquele corredor. Quando consegui ter forças, questionei:

— Dea, não consigo dizer nada que te console...

— Não diga... Tive raiva de você, porque nos abandonou. Fiquei muito triste, mas não sabia que isso me afetaria tanto.

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