Capítulo 13 - "Deusa do ébano"

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Como pode um pai e uma mãe eliminar de suas vidas a própria filha? O ser gerado de sua paixão, de seu amor? Fiz-me essas e outras questões por muitos, muitos anos. Diana, mesmo tendo sido responsável por seus atos, não merecia ser tratada como foi.

Em meu caso, ser expulso de casa era algo que eu já imaginava há algum tempo, dado o temperamento de meu pai e a infelicidade que habitava em meu ser.

Naquela enorme e ainda desconhecida casa, eu e Diana viveríamos outra vida, uma em que não andávamos por nós mesmos.

No mesmo dia em que chegamos àquela casa, Felipe e Andrea se dispuseram a nos atender em tudo o que precisávamos.

Diana, no entanto, logo após se instalar numa das suítes, mergulhou em um choro longo. O vazio que sentia no coração era enorme, dado que nunca se separara de fato de sua família.

Não era como viajar para o litoral sul num fim de semana com a irmã e o namorado. Agora, ela não tinha mais um lar para chamar de "seu".

Ao lado, quanto mais eu a confortava, ou tentava fazer isso, meu coração pedia cada vez mais ajuda. Em dado momento, com ela soluçando sobre a enorme cama de colcha marrom, senti que tudo era culpa minha.

Conjecturei que aquele "advogado do diabo", tinha razão. Eu havia sido imprudente e pus a vida dela a perder.

Minha vontade ali era sair correndo pelo mundo, me amaldiçoando por vê-la assim, num estado que eu nunca sequer imaginei presenciar. Então, desligando-me desses pensamentos, ouvi uma batida na porta do quarto. Era Andrea a dizer:

— Guilherme, eu trouxe um chá para Diana.

Lembrei-me naquele momento que, no desenrolar da fuga do reino de nossas vidas, a embarcar na nau para uma terra distante, esqueci-me do chá de Paulina, que Diana não tomou. Limpando as lágrimas, falei:

— Entre, por favor.

Reparando em meu estado, a ruiva disse:

— Ei! Não fique assim, tá? Dará tudo certo.

Após colocar o chá no criado-mudo, trazido em uma bandeja metálica, a ruiva indicou querer sentar-se ao lado de Diana, que mantinha sua mão fechada próxima da boca. Afastei-me e a garota se acomodou, colocando a mão sobre o ombro da jovem.

— Diana, tome um pouco deste chá. É de camomila e irá te fazer bem.

Erguendo-se lentamente, Diana segurou o pires com dificuldade e provou brevemente da bebida, já morna. Andrea, parecendo uma amiga de longa data, tirou-lhe do rosto alguns fios de cabelo, sorrindo a seguir.

— Escute, eu conversei com o Fê e decidimos que vocês não vão conosco até o centro da cidade. Compraremos aqui perto mesmo, algumas roupas para você e o Guilherme, pois, está muito abalada para sair.

A morena, constrangida, moveu repetidamente a cabeça, concordando com a ação tomada pelos primos. Naturalmente, não havia mesmo condições de Diana sair de casa. Estava exausta do Santo Ofício e agora queria um pouco de paz em seu exílio.

A ruiva me olhou e abriu um sorriso. Então, pegando em minha mão, disse:

— Cuide dela, ok? Sairemos e logo mais traremos suas coisas. Contudo, preciso dos números de vocês.

Passei-lhe as medidas de minhas roupas e calçado, assim como Diana. Andrea perguntou-a sobre alguns estilos de roupa e coisas que só as mulheres sabem...

Enquanto conversavam a respeito, desci e encontrei Felipe em pé no meio da sala, diante de uma lareira improvável, dada a casa estar num lugar tão quente quanto o Guarujá. O rapaz conjecturava algo e quando me viu, abriu um sorriso.

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