Capítulo 36 - Nossa família

36 4 5
                                    


Nunca desejei aquele momento com Andrea, onde o desespero dela a levou quase à morte e com uma despedida tão triste. Saber que levei alguém quase ao fim da vida me deixou aflito por anos. Hoje não mais, mas durante muito tempo, chorei escondido de Diana.

Quando você vive com alguém, acredita mesmo que pode esconder tudo? Pois é, nem tudo está oculto e ela, do seu jeito, sabia disso. Antes inflamada pela raiva que nem deveria passar, Diana convertera-se numa cuidadora de mim. Ela sentia que se não tivesse o devido tato, eu poderia até alcançar a depressão.

Naquele fim de semana triste, o segundo de maio de 1994, eu e Diana nos apresentamos aos meus pais. Era a primeira vez que estávamos reunidos em minha casa e Manoel queria dizer algo. Sentados no sofá, vimos ele entrar e sentar ainda com moderação nos movimentos.

Eliza juntou-se ao marido e a expectativa por algo bom estava visível em seus belos traços. Não mais sério quanto antes, Manoel ergue-se e cumprimentou Diana, nervosa como eu. Acomodando-se ao lado da Belinha, a nossa gatinha, que se deitou sobre seu colo, meu pai falou:

— Guilherme e Diana. Quero pedir desculpas... Não! Quero o perdão de vocês pelo que fiz. Agi errado e deveria ter acolhido vocês.

Visivelmente emocionado, o que era raro, Manoel sabia que se vive apenas uma vez e ele quase partiu antes da hora. Eliza ao lado, já espelhava seus belos olhos verdes, o que fez Diana acompanhá-la. No meu caso, mantive-me firme, talvez por orgulho ferido, não lembro.

— Quero consertar as coisas e ajudar vocês no que precisarem.

— Obrigado pai. Eu e Diana ficaremos bem.

Olhei para minha namorada, que sorriu e apertou minha mão.

— O que vocês querem fazer?

— Pai, queremos viver nossas vidas. Não quero que seja aqui, tudo bem? Precisamos de nosso espaço, nosso canto.

— Sim! — disse Diana, concordando.

Manoel olhou para Eliza e continuou.

— Não temos nada além desta casa, você sabe.

— Sim, eu sei pai. Ficaremos uns tempos na casa do Felipe. Ele permitiu que ficássemos lá pelo tempo que quisermos.

— Estou preocupado...

— Com o quê? — interpelou Eliza ao marido.

— Aquela moça não é prima dele?

— Sim, pai, mas eles a levarão para uma clínica. Ela precisa se tratar.

Então Manoel, sem perceber, acredito, tocou num ponto que já comentei.

— Muito bem, e você? Está bem?

Ele já sabia o havia acontecido na praia, mas o aborto de Andrea ainda lhe era desconhecido. Diana me olhou, dada a demora em responder.

— Estou bem sim!

Claro que era mentira! Nem mesmo minha gatinha acreditaria nisso, muito menos os presentes. Os olhos azuis de Diana fixaram-se em mim por longos segundos e então falou, referindo-se a mim.

— Cuidarei bem dele e — fez uma pausa e mirou-me — isso começa agora. Quero que os senhores saibam, assim como você Gui...

Surpreso, fixei-me nela enquanto dizia.

— Deixarei a casa de meus pais ainda hoje. Se o Felipe não fizer objeções e nem o Guilherme, quero ficar na casa dele até Leonor nascer.

Diana voltou-se e me perguntou:

Desert RoseOnde histórias criam vida. Descubra agora