Naquele emocionante Dia das Mães, voltei para a cozinha do restaurante com um anúncio que não seria agradável à Maria Clara. Ao entrar, mecanicamente terminei minhas obrigações, enquanto a jovem me olhava a distância. Parecia preocupada e talvez já estivesse antevendo os acontecimentos.
Temendo ouvir o que não queria, Clara limitava-se em sorrir, mas sua feição não escondia seu estado. Percebi e compreendi que não seria fácil, mas precisava assumir meus erros e cumprir minhas obrigações. Ao encerrar as atividades, falei com Rubens e pedi as contas.
Ele lamentou e ainda me indagou sobre a visita da minha "família". Concordei em responder e afirmei precisar ir. Pelo meu bom trabalho lá, decidiu me despedir sem justa causa, o que me ajudaria na fase de desempregado que se seguiria.
Sai do escritório e Clara já estava a postos no fundo do estabelecimento. Esfregando as mãos, a ansiosa moça mirou-me com a questão pronta:
— Você vai embora?
Não queria encará-la e olhei para o chão, dizendo:
— Sim, hoje foi meu último dia.
— Por que pediu as contas?
Clara sabia, mas queria ouvir de minha boca.
— Clarinha, tenho que assumir minha vida. Logo ela vai ter o bebê e, se não lutar, nem Leonor poderei ver.
— Quem é Leonor?
— Minha filha que vai nascer. Era o nome que sonhei e Diana acabou escolhendo ele.
Com aqueles olhos grandes marejados, Clara esforçou-se em falar:
— Fico feliz em saber que sua filha nascerá. Mas, estou triste porque você vai embora...
As lágrimas da jovem escorreram sobre a superfície agora avermelhada de seu rosto. Enxuguei-as e ela me abraçou com força. Não pude evitar que as minhas águas derramassem sobre ela. Eram como Rio Negro e Solimões, diferentes, mas unidas. Uma parte de mim, quis ficar ali, naquele novo mundo.
Contudo, era apenas um conforto momentâneo para disfarçar quem realmente dominava meu ser e sabia que me enganar mais, só machucaria ela.
— Clara, quero que saiba que gosto muito de você. Se nada disso tivesse acontecido...
— Não! Aconteceu e é bem real. Essa é a sua vida. Vá e resolva o que tem que ser. Eu também te adoro muito, demais até!
Clara beijou-me a boca com desejo de não parar mais, porém, eu sabia que ela deixou seu coração governar, mas a razão se impôs.
— Desculpe, precisava disso... De uma parte de você.
Fiquei emocionado com o gesto dela, mas sabia que não podia alimentar esse sentimento.
— Vou levar você comigo, em meu coração.
— Eu também... Olhe! Se por acaso ela... Bem, você sabe. Estarei aqui, viu?
A carência tomou conta de Clara, mas em certa parte, ela tinha razão. Para que tentar dar murro em ponta de faca com Diana? Ainda tinha Andrea, mas provavelmente não a veria mais, dada a época. Sem temporada, certamente estaria em algum lugar não muito longe dali.
— Sei Clara. Também penso que, depois de tudo o que eu passar por lá, encontrarei um refúgio para meu coração em Ribeirão Pires...
Deixei mais lágrimas cair e Clara pranteou, agarrando-me. Podia ouvir sua respiração ofegante e o ruído de suas narinas, entupidas pela emoção que lhe dominava.
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Desert Rose
JugendliteraturGuilherme tem uma relação complicada com o pai e seu pensamento mais profundo é largar tudo e partir... Contudo, sua vida dará uma guinada enorme ao se deparar com os belos olhos azuis de Diana, alguém que ele acredita ser "inalcançável". Ela, uma g...