Eram duas da tarde quando me encontrava na escrivaninha misturada entre os livros de filosofia e os cadernos de escrita. Ora estudava, ora escrevia. Não sabia o que queria. Ou melhor, até sabia. Eu queria escrever, mas eu tinha de estudar porque aquilo o que eu sei não é suficiente. Não para conseguir uma boa nota.
Para salvação o telemóvel toca. O numero e nome de Ariel brilhavam no visor e claro que não hesitei em atender. Estou demasiado livre para não o fazer. E cansada da filosofia também.
- Boa tarde queria Faith Miller. - Ela atende, deveras alegre. Estranho porque nas chamadas telefónicas é o único momento em que esta rapariga se encontra calma.
- Olá. - Sussurro de sobrancelha franzida. - Ao que se deve tanta excitação?
- Os rapazes têm uma notícia! - Ouço palmas e risos agradáveis no fundo. - O Calum vai buscar-te. Quer ser ele a contar-te.
- Oh. Estou... curiosa... por saber. - Gaguejo meia confusa. - E diz-lhe que já estou à espera dele.
- Não é preciso, Faith. A esta altura ele já deve estar aí.
Sem demoras ouço uma buzina tocar. Ainda na chamada com a rapariga dirijo-me para a janela. Realmente era ele e isto parecia tudo combinado. Calum já saia do carro, então com uma breve despedida desliguei a chamada e fui abrir-lhe a porta a todo o gás. Também eu me encontrava tão ou mais exaltada que Ariel. Provavelmente mais pois ela já sabia do que se passava e eu não, e eu sou muito curiosa e nunca descanso até me dizerem algo que ficou por contar.
- Conta-me! O que se passou! A Ariel ligou-me agora. - Guincho, completamente aos pulos em frente a ele, pousando as minhas mãos nos seus ombros quando este chegou ao pé de mim.
- Bem, imagina quem vai viajar até Londres porque uma das melhores gravadoras do mundo, com sede em Inglaterra, nos contactou para uma reunião? - Ele ergue os braços e sorri, glorioso, orgulhoso.
- Oh meu Deus! Não me acredito! Isso é otimo! - Abraço-o com força. Dou um pequeno salto que o permitiu pegar me mim ao colo. Novamente, tal como ontem, não gritei ou estremeci com tal ato. Talvez porque esteja demasiado ocupada a saborear o momento. Sem medos. - Parabéns! - Encaramo-nos mutuamente. Olho com olho, nariz com nariz, boca com boca. - Estou tão feliz por ti. - Digo num murmúrio rouco e suave.
- Beija-me. - Calum sussurra no meu ouvido.
- Não deveriam ser as mulheres a dizer isso? - Sim, eu sou a típica rapariga que estraga os momentos mais bonitos e românticos que podem existir até nos cinemas ou livros.
- Não. Deveriam ser os apaixonados. Faith...
- Beija-me. - Sussurro igualmente. Ele olha-me surpreendido, ainda que não tente mostrar essa expressão. - Não deveriam ser os apaixonados a dizer isso? Então beija-me, Calum, porque eu sou completamente apaixonada por ti.
Simultaneamente o momento seguinte parecia em câmara lenta e na velocidade maxima, porque aconteceu tudo tão rápido, mas tão lento. O toque dele, o nosso beijo. Foi tão bonito. Apaixonante. Ele comigo ao colo encosta-me contra a parede mais próxima, ainda a beijar-me. Paramos por segundos. Ambos ofegantes, ambos a encararmo-nos, com um brilho no olhar.
Eu estava orgulhosa dele. Sabia que esta era a ambição dele. Crescer no mundo da música. Para ele não lhe bastava o contrato que tinha com a gravadora, ou os pequenos concertos no bar. Para ele não lhe bastava espalhar a sua música pela Austrália e sim pelo mundo. E eu estou orgulhosa dele, e apoio-o profundamente porque talvez seja disso que ele tem carência. De alguém que se importe, que o apoie, que se orgulhe. E eu estou aqui, porque amar é isso. Apoiar, suportar, orgulhar. Amar.
Os olhos dele, cintilantes como as estrelas que observamos a noite passada, gritavam um obrigado. O meu polegar, na sua bochecha, mexia-se ritmicamente. Eu acariciava-o e ele admirava-me.
- Estou tão orgulhosa de ti, Calum Hood. - Achei que devia de tornar publico e dizer alto aquilo que estava esculpido no meu olhar.
- Faith, isto aconteceu por ti. Querendo ou não tu deste-me forças para continuar com aquilo que eu queria. Tu deste-me a alegria que à muito tinha ido embora. Tu deste-me até inspiração para escrever músicas novas que os rapazes adoraram. O novo álbum. O novo álbum é para ti.
- Calum... - Murmuro num sorriso de felicidade.
- Shiu... Apenas olha para nós. Olha como nós estamos. - Ele enuncia e eu aperto-me contra ele. As minhas pernas estão a cercar a sua cintura. - Quero-te tocar para além da nossa margem. Queremos ser um do outro, mas não dá. Enquanto isso vamos por tentativas. Esta é uma tentativa. Estamos a beijar-nos e nem somos namorados.
O que ele dizia era verdade. A realidade. A nossa relação são impasses. Ora estamos, ora não. Ora somos, ora não. Ora queremos, ora não. Afinal de que se trata disto? Foi inevitável não amá-lo. Acho que amaria outra pessoa desde que ela me desse a atenção que Calum deu e dá. Acho que eu amaria qualquer um que estivesse lá porque tudo o que eu precisava era de alguém. Mas agora questiono-me se será isso, ou seremos nós? Será que existe mesmo o "tal" ou isto é tudo uma mentira? Será que os nossos corações estão partidos à metade e unidos um pelo outro?
- Sou refém do teu beijo, não tenho culpa. - Sorrio. Calum percorre com o seu dedo pela minha bochecha até à minha boca.
- Isso quer dizer que...? - A felicidade dele era notória.
- Não. - Acabei com a alegria. - Calum... relações não. Não estou pronta, não estamos prontos. Foi só um beijo. Um beijo tentador, mas foda-se. - Ele pousa-me. Agora estávamos a encarar-nos de outra forma pois a conversa mudou. - Não quero estragar tudo. A tua carreira, a tua vida, a nossa amizade.
- Porque é que vocês mulheres mudam de ideias tão depressa? Sempre me questionei com isso quando a minha mãe queria comprar morangos mas no momento seguinte já queria cerejas; ou a minha irmã quando queria um Smart, mas logo a seguir escolheu outro carro qualquer. - Ele diz, embora em tom de brincadeira, um pouco desesperado de costas viradas para mim.
- Amor... - Chamei-o. Forte demais, não? - Olha para mim. - Pousei a minha mão sob o seu ombro e fiz um movimento que o fez virar-se para mim. - Sabes isto aqui? - Apontei para o lugar do seu coração. - Só quero tomar bem conta disto. As diferenças nem sempre se completam, temos de ser realistas. Tu não sabes tudo sobre mim. Um dia irei explicar-te, talvez, mas sabes que muitas coisas do nosso passado e de nós afetam o futuro. Eu ainda nem sei muito de mim, das minhas reações como namorada, num relacionamento. Não te quero magoar. Não estou indecisa, apenas cuidadosa com ambos. Afinal, quem ama cuida, não é mesmo?
- Tu amas-me? - Ele franze a sobrancelha, questionando.
- É... eu acho que te amo, Calum.
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PAPER SOULS • CALUM HOOD
FanfictionFaith e Calum. Adolescentes com passados com arestas para limar. "Ele só queria ser meu amigo, mas eu escolhi amá-lo." Plágio é crime Copyright © 2015 All Rights Reserved by Joana Nunes