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Ainda um pouco antes das quatro da tarde, Calum foi embora, indo até ao suposto bar central, onde se iria encontrar com os restantes membros da sua banda para ensaiarem para o concerto de mais tarde. Sendo assim, fiquei sozinha em casa, esperando que às oito da noite a minha mãe chegasse.

Abri o computador e instalei-me na cama. Não pude deixar de pensar, enquanto este ligava, na maneira de ser de Calum e naquilo que ele fez hoje.

Odeio-me por me estar a envolver socialmente com alguém. Odeio-me porque é um rapaz. Odeio-me porque ele parece ser uma boa pessoa. Uma pessoa melhor que eu, como todos são.

O skype abriu em primeiro plano quando o computador iniciou, finalmente, sessão. Logo fui bombardeada por mensagens de Clarke que, em vez de lhe responder, liguei de imediato a web.

Do outro lado ela recebia-me com um sorriso amigável, embora isso não tivesse durado muito, pois logo a sua expressão mudou para algo semelhante a um agente do FBI pronto para colocar umas vinte mil questões.
- Como estão a correr as coisas aí em Sydney? - Perguntou, deixando o seu rosto apoderar-se de uma melancolia notória.

- Bem.

Para além de todas as memórias e questões suicidas que habitam em mim; para além de todas as recordações que eu desejava serem o meu presente e não o passado; para além da antiga Faith Miller, eu estou bem. Para além da vida, eu estou bem. Estou normal. Estou viva.

- Vi o Tyler está manhã. - Avançou receosa. - Ele perguntou-me por ti.

Repentinamente calei-me, sendo possuída por uma falta de ar imensa, incontrolável. Tyler, Tyler. É sempre ele. E vai ser sempre ele.

- Eu disse-lhe que foste para Sydney. - Completou.

- E ele? - Deixei a minha curiosidade fluir.

- Pareceu-me triste.

A antiga Faith iria ver isto como uma luz, como uma esperança de que ele ainda se importa comigo; de que ele algum dia se importou comigo. Mas agora? Agora não. Depois disto tudo, não. Tyler Carter, ainda que para além daqueles olhos castanhos claro que sempre que pestanejavam eu via estrelas. Via o céu no seu olhar, Tyler era fogo que me incendiava; me matava. Mas ele perguntou por mim... ele ainda sabe que eu existo. Ele ainda se lembra de mim, mesmo estando com outra.

PARA FAITH! O Tyler não te quer; nunca te quis; nunca te vai querer. Olha para ti, ainda apaixonada e a milhas de distância dele. Olha para ti, a vê-lo como um anjo enquanto ele te vê como uma diversão. PARA FAITH! Estás a pensar no passado e estás a matar-te lentamente. É isso que queres? Morrer? Sim, talvez queira morrer. Por ele? Oh, por ele... Não. Por algo que valha a pena.

- Faith! - Despertei com um grito de Clarke. - Não vais ficar em baixo por causa dele, pois não?

- Não! Claro que não! - Respondi, mentindo, com um sorriso. Claro que não, claro que não. O pior é que eu já estava no fundo.

É um sentimento tão difícil de explicitar, aquele que me corrói agora e anteriormente me felicitou por todos os segundos que eu passei com ele.
É um sentimento tão duro. Porque é que o estou a sentir? Não é, nem de perto nem de longe, justo. Eu não deveria estar a lembrar-me dele ou de quando ele me ia levar a casa; eu não me devia estar a lembrar de quando ele sorria para mim e o meu mundo ruía. Eu não me devia lembrar de nada.
Cada vez mais poderia aceitar um coma induzido. Não faço falta neste mundo e acabava numa cama, onde ninguém ne podia chatear - que eu notasse.

- Ugh, lembraste do Josh? - Questionou. - Aquele que quase me partiu o nariz com o cotovelo, de tão alto que ele é?

- Como me poderia esquecer? Falaste disso as férias todas. - RI, ainda que com as lágrimas nos olhos.

PAPER SOULS • CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora