27

13 1 0
                                    

- Não sabia que ias dormir a casa da Ariel. - Mencionou Calum à saída de minha casa.

O facto de ter engendrado este plano sem o conhecimento dele, mas ao mesmo tempo com o seu consentimento, foi como um quebra-cabeças para Calum pois ele ficou à deriva. Sem saber o que fazer.

- Eu não vou. - Revirei os olhos com um sorriso.

- Então porque disseste aquilo à tua mãe... e... - Gaguejou já sem saber o que dizer.

Na minha cabeça fazia o maior sentido o pedido que fiz à minha mãe, pois cálculo que, sendo amanhã um dia da semana - embora o último - não lhe ia ser aceitado eu chegar tarde a casa, por isso, dito que eu iria dormir a casa da Ariel, a minha mãe ficaria a pensar que eu ia estar em boas mãos, a dormir, e fresca para o dia de aulas amanhã. Inocentemente ela não sabe que vai ser totalmente o contrário e provavelmente eu nem vou dormir.

- Porque eu sabia que não ia chegar a casa propriamente cedo e amanhã é dia de aulas. - Simplifiquei. - Mas posso muito bem ficar a dormir em tua casa. - Pisquei-lhe o olho. - Quer dizer, desta vez tu ficas no chão ou no sofá e eu na tua cama.

- UAU! Muito modesta! A casa é minha e eu ainda tenho de ficar a dormir em outro lugar sem ser a minha cama.

A gargalhada que ele dera nos segundos seguintes fizeram todo o meu mundo brilhar de alegria. Talvez só agora tenha entendido o efeito real que ele tem em mim e o quão bem ele me faz desde que apareceu na minha vida. E ainda eu queria dar-lhe para trás e soquear as mãos dele quando tocaram no meu livro, nas minhas coisas. Se eu o tivesse feito, como estávamos nós agora? Provavelmente não falávamos porque a minha vergonha não me permitia; Provavelmente nunca tínhamos tido esta relação controversa e estes vai-e-vem de discussões que me dão a volta à cabeça e não quero sequer admitir.

- Aceito essa modéstia. - Franziu os lábios num sorriso. - Que me dizes a um jantar na praia? Espero que digas que sim, porque eu já comprei comida.

- Mas, Calum... eu não ia dizer que "sim". - Parei na rua, já do lado do passageiro do carro dele. A expressão dele mudou para algo um tanto preocupado, então eu prossegui: - Eu ia dizer "claro"! - Pulei e vi-o suspirar de alivio.

- Ainda bem. - Fingiu limpar o suor da sua testa. - Gostas de comida chinesa? - Indagou. Eu assenti e ele continuou, dizendo: - Otimo. No fundo já sabia que ias gostar.

Avançou, entrando para o carro. Automaticamente mordi o lábio, sem controlo nas minhas ações. Até poderia aplicar aqui uns tantos conceitos de filosofia para justificar a minha ação, embora não livre, mas não vou ousar fazê-lo.

- Olha, esta noite eu queria fazer o que deixei pendente no outro dia... sobre... os teus cortes, Faith. - Gaguejou. Engoli em seco sem me pronunciar.

Já Calum começou a caminho em direção à praia. Tocaremos novamente naquilo a que vejo como destino; nas minhas ações; nas minhas feridas e nos meus cortes? Superarei, novamente, a dor invisível que se alimenta da pouca alma que tenho? Estou com Calum, não devo ter medo de nada. Ele tem sido como o suplemento alimentar que necessito; Ele tem sido o meu suporte; O sangue nas minhas veias.

Calum tem, na verdade, as medidas ideais para as nossas almas colidirem. Até quando vamos ignorar isso?

Entendi que tal acontecia quando os meus lábios foram tocados pelos de Tyler e, embora eu o desejasse a todo o tempo na minha cabeça, não era ele que eu desejava ter a tocar os meus lábios. Naquela altura entendi que Tyler não era a minha crença ou o meu desejo.

- O que vais fazer? - Indaguei meia confusa.

- Vou fazer com que essa fase da tua vida seja encerrada.

PAPER SOULS • CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora