Naquela noite não consegui pregar olho. Não ousei mandar uma única mensagem a Calum nem ele próprio o fez. A única coisa que consegui fazer, perante aquele clarão e falta de sono, foi sentar-me de pernas cruzadas na cama a acompanhar aquele website com todos os updates da banda. Nada de novo saiu até à data.
Fiquei a martirizar-me o tempo todo até hoje - até agora, a este instante em que estou cercada de pessoas, no bar, mas não de quem queria de verdade - , aflita para que alguma coisa saísse. Novamente uma promessa foi feita de mim para mim: " Não vou voltar a fazer isto. Não vou voltar a cometer loucuras por alguém." Novamente uma promessa foi quebrada por mim. Os dias vão passando tão lentamente, e as noites tão depressa. Deveria de ser ao contrário.Fico em casa de dia, saiu à noite. Tento não ceder à vontade que tenho de beber, mas é inevitável. É isso que me faz esquecer momentaneamente de Calum.
Sei que Clarke me pede para não o fazer. Ouço-a gritar ao meu ouvido para o parar de fazer. Os sorrisos foram transformados em berros; a música já não é ouvida com satisfação e sim com a frustração que me ocupa o coração. Gostaria de lhe explicar o porquê de estar assim, porém isso implicava ter de lhe explicar tudo de inicio e não daria muito jeito. Pelo menos agora.
- Eu vou à casa de banho. - Digo. O ato de revirar os olhos fez-me doer a cabeça. Ao levantar-me sinto-me tonta.
- E quando voltares vamos para casa! - Ela grita, superando o som da música. Estava zangada comigo.
Por entre passos mal dados, falhas nas pernas e empurrões da multidão chego à casa de banho. Com alguma cautela que, misteriosamente me foi permitida para além do excesso de álcool no sangue, retiro o telemóvel do bolso de trás das calças para que este não me caísse na sanita. Segundos depois após fazer as minhas necessidades e lavar as mãos, volto a pegar no telemóvel. Desbloqueio-o na esperança de ter alguma chamada ou mensagem de Calum. Nada apareceu.
Uma das coisas que as minhas amigas me fazem quando estou prestes a ficar bebeda ou com intenção de tal - e sabem da existência de um alguém superior ao meu coração -, é tirarem-me o telemóvel das mãos. Bem, hoje é impossível de o fazerem. A única que sabe do que se sucede é Mary e ela não está aqui. Teve de ficar em casa a cuidar das irmãs enquanto os pais foram festejar os anos de casados.
Como sou apologista de que quando estamos bêbedos é a única altura em que dizemos 100% a verdade, decidi ligar a Calum. Sem tabus, restrições ou pensamentos de preocupação.
Ao terceiro beep ouço a respiração dele. Num estado normal eu estaria a chorar, mas visto que quando me embebedo faço de tudo menos deitar lágrimas, apenas soltei um sorriso irónico. Do outro lado da linha tudo estava calmo. Não se ouvia nada a não ser a sua respiração.
- Faith! - Ele murmura. - Tenho saudades tuas.
- Oh, tu tens? - Volto a gargalhar irónica e maliciosamente. - Vai-te foder. Tu e as tuas saudades! Eu sabia que tu eras como os outros!
- Faith? Estás bem? Onde estás? - Pergunta-me inúmeras vezes, visto que lhe deixei de responder por alguns segundos, saindo da casa de banho e indo até ao balcão.
Aproveitei a deixa, visto que Clarke se encontrava numa mesa com Josh. Afinal, todo aquele ódio que ela me tinha transcrevido transformou-se num amor incondicional. Ela estava feliz, sentada no colo dele enquanto este lhe beijava a bochecha.
Inesperadamente, do meu lado direito passa Tyler. Ele estava sozinho.
- Onde estás, Faith? - Volta a questionar Calum, porém agora por entre gritos de sofrimento.
- Onde haveria eu de estar? Estou em Melbourne. Isso bastou-te para andares com outras, não é? Parabéns! Vá, agora vê se comes todas direitinho e não deixas nenhum resto.
- Do que estás a falar? - Faz-se de desentendido.
- Do que estou a falar? Não sabes o que fazes? Pois bem, meu querido, há um site que tem tudo sobre ti e a tua banda. Há fotos vossas a saírem do bar com umas gajas! Foi boa a noite pelo menos? - Pergunto-lhe. - Bem, a minha vai ser. O Tyler acabou de passar por aqui. Hum... parece que vai ser hoje que ele não me vai escapar. Não importa as circunstâncias.
- Faith! O que é que estás a fazer? Estás bêbeda e longe de mim. Por favor, Faith pára! Tu tens razão... tens toda a razão para estar chateada, mas não faças algo que te possas arrepender.
- Oh, foda-se tu e os arrependimentos também, Calum Hood. Eu sabia que eras demais para mim. Eu sabia que eras perigoso a um certo ponto. Vê-se nos teus olhos que és um "come todas" mas eu não quis acreditar porque eras tão bom comigo. Sabes, quem está arrependida sou eu... de me ter entregue a alguém outra vez. Agora passa bem, Calum. Espero que tenhas muita fama e sucesso como sempre quiseste. Oh, e mulheres.
- FAITH! NÃO DESLIGUES! POR FAVOR! - Ele grita. - Eu amo-te! Aquilo não é o que parece e para ti isto é um dejavu porque todos dizem isto quando estão entre a espada e a parede. Eu sei e volto a dizer: podes estar zangada, tens todos os motivos mas foi um erro. Ela tentou algo comigo, foi ela quem me deu a mão. No inicio eu ia deixar-me levar por ela, mas Faith eu estava como tu. Eu estava bêbedo. Foi uma noite de copos com os rapazes para festejarmos a nossa ida a Londres. Desculpa, Faith. Eu não fiz nada com ela. Eu juro. Eu não fiz, porque ela não és tu.
- ISSO SÃO TUDO MENTIRAS! Não me acredito numa única palavra. Nem na mais bonita de todas. Podes até fazer a maior das declarações. Eu não acredito!
Ouço-o suspirar. Por segundos paramos de falar. A ligação entre nós estava pesada. Havia vácuo, mas não ousamos desligar. Ainda havia algo por dizer. Talvez mais do que aquilo que pensamos. Talvez coisas cruéis. Talvez verdades. E eu hoje aguento-as, porque estou bêbeda. Porque hoje eu não sou eu.
- Tens razão. - Ele diz por fim com rancor na voz. - Tu estás certa. Não te vou mentir. Eu gosto de sexo, eu quero sexo. Com a minha idade quem é que não quer?
- Era isso que tu querias quando estavas comigo? Sexo? Esperavas que eu te desse sexo?
Apressada chegou à minha beira Clarke que me perguntava com quem estava eu a falar. Não lhe disse nada. Estava à espera da resposta do Calum.
- Sim... quer dizer, não! Quer dizer... foda-se! Faith não era a minha intenção principal. Comecei por gostar de ti, não por te querer comer como tu dizes! Mas o amor não são só abraços e beijos e essa é a realidade, Faith! Eu não quero foder todas, eu quero-te foder a ti. Desculpa. Isto não pareço eu, mas tu obrigaste-me a ser rude a este ponto. Tu estás bêbeda. Outra vez.
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PAPER SOULS • CALUM HOOD
FanfictionFaith e Calum. Adolescentes com passados com arestas para limar. "Ele só queria ser meu amigo, mas eu escolhi amá-lo." Plágio é crime Copyright © 2015 All Rights Reserved by Joana Nunes