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O dia seguinte começou bastante cedo para mim. Eram seis da manhã quando já estava a pé. Às sete já deveria estar no aeroporto para às oito dar inicio o voo.
Calum disse-me, na noite anterior, de que iria ter comigo ao aeroporto para se despedir. Ainda que não seja muito tempo de separação ele quer estar lá comigo porque segundo ele vai ser doloroso demais estar separado de mim por quase duas semanas.

"Não vás!" - Grunhia, como se fosse de dor, na altura. Deitavasse na cama e fingia estar agoniado, frustrado, com a minha ida.

"Pára!" Ria-me sempre que ele fazia isto. "Prometo-te que quando vier passo todos os meus momentos contigo."

Claro que em excepção daqueles em que ele vai aos treinos, ou a ensaios. Já nem digo aos concertos no bar, porque lá estou eu. E ele adora isso pois diz-me que: "Estou a partilhar a minha alegria contigo."

Entro para o carro depois ter colocado a minha mala, carregada de roupa e pequenos presentes para a família, na parte de trás do carro.
A minha mãe estava ansiosa para ver a nossa família de novo.
Enquanto conduzia até ao aeroporto, questionava-me sobre calum e outras tantas coisas. Sem dúvida que ela tinha gostado dele.

- Então, tu e ele não são namorados, é isso que me estás a dizer? - Indaga, indignada.

- Sim. Somos amigos.

- Desculpa, mas eu nunca tive um amigo que me beijasse na boca. Isso é fixe? - Volta a insistir.

Pelo que me parece hoje a minha mãe está no seu estado mais jovem. Os seus quarenta e oito anos disso lhe permite.
Bela sempre teve este espírito jovem e sempre o vai querer manter. Ela apenas tem picos de mau humor, ou algo a deita a baixo. Foi o que aconteceu quando as coisas com Peter começaram a dar para o torto.
Custou-me ver as pessoas a abandona-la, mas no fundo era isso que ela merecia quando o pós em cima de tudo. Quando pós Peter como sua prioridade, até primeiro que eu.

- Vamos parar de falar nisto. - Rio, envergonhada.

Logo a seguir a esta tentativa de desvio do assunto, uma sensação de esquecimento invadiu-me. Isto acontece sempre que vou em viagens ou saídas importantes. Parece que acontece sempre de propósito para atrasar a minha vida.

Antes que seja tarde de mais para voltar atrás verifico, entre os meus bolso e a pequena bolsa que está no meio das minhas pernas, se realmente me esqueci de algo. Heis que, claro, notei por falta do mais essencial. O telemóvel.

- Mãe! - Grito desesperada. - O meu telemóvel... ficou em casa.

- Ah! Foda-se Faith! - Reclama. - Andas sempre com a cabeça no ar.

A mulher, enervada comigo, fez uma manobra rápida que me assustou e me obrigou a agarrar com força ao puxador da porta. Como era habitual, Bela foi a moer para dentro palavras de revolta o caminho todo até casa.

- Rápido! - Grita estridente quando eu saio do carro em direção à entrada do prédio.

Tento abrir a porta, embora com dificuldades, porque afinal é como todos dizem: "Quanto mais depressa, mais devagar." As mãos tremiam e a chave parecia não entrar na porta. Isto eram os nervos de não querer, nem poder chegar atrasada até porque o avião não espera por nós.

Quando consigo que finalmente a maldita abra a porta dou gás e subo as escadas até ao meu andar a correr.

Um vulto surpreende-me ao mesmo tempo que cruzo a escada para entrar no meu 2º andar.

- Olá! - Ao inicio não considero quem seja. - Faith.

Um raio de luz, vindo da pequena janela deste piso, ilumina a cara do individuo que me aborda. Este era Rick. Usava umas calças de fato-de-treino largas cinza, uma t-shirt preta, bem como umas sapatilhas dessa mesma cor. Os braços despidos desvendam as já vistas por mim, imensas tatuagens.

PAPER SOULS • CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora