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O despertador toca por uma razão não obvia. Esqueci-me de desliga-lo no fim de semana, pois ele está programado para tocar todos os dias.
São sete da manhã e eu desperto, assustada, com o barulho. Dei-me conta de uma enorme dor de cabeça enorme.
Volto a aterrar com a cabeça na almofada. Não me recordo dos momentos após a saída da casa de Calum, nem muito menos sei como vim parar à cama. A única coisa que sei agora é que quero muito voltar a dormir, porém o vizinho de cima decide começar com marteladas na parede. Obras a esta hora? O que é isto? Mas nunca lhe disseram que ao fim de semana não se pode fazer obras?
No meu modo mais chateado, visto um casaco de lã por cima do pijama e subo as escadas até ao terceiro andar. Quando cheguei a esse piso detetei de qual porta vinha o som e aí toquei à campainha. Logo me vieram abrir a porta.

- São sete da manhã. É fim de semana. Há quem queria dormir. - Reclamo desenfreadamente, fazendo o rapaz que me encarava rir.

Em frente a mim encontra-se alguém com cerca de vinte e poucos anos, alto e moreno de cabelo, embora pálido de corpo, com tatuagens espalhadas por todo o corpo. O rapaz encontrava-se sem algum tipo de vestimenta da cintura para cima, o que desvendava um peito tatuado, embora não fechado com tatuagens. Os olhos eram da cor do mar.

Enquanto Sorriu, de maneira tão maliciosa que me permitiu entender que ele não era de brincadeiras, atirou para trás das costas pelo ombro, um pano.

- O meu nome é Rick, prazer em conhecer-te, vizinha. - Voltou a sorrir. - Sou novo aqui.

- Já entendi que sim! - Respondo rude, derivado do meu excessivo sono e dores de cabeça. - Mas devia pelo menos saber que durante o fim de semana é estritamente proibido fazerem-se obras! - Coloquei uma mão na anca e bati com o pé no chão, demonstrando a minha raiva.

Naquele momento deu-me vontade de sacar, de algum lugar qualquer, um livro que mostrasse as proibições e restrições, mas infelizmente não me é possível fazer isso porque para além do sono que habita em mim, eu não tenho livro nenhum desses.

- Peço desculpa, mas o senhorio permitiu-me fazer obras hoje. De qualquer maneira são pequenas coisas, daqui a uma hora está tudo pronto.

- Oh, e lembrou-se de fazer obras... às sete da manhã? - Grito, completamente revoltada.

- Estas coisas do fuso-horário ainda mexem comigo. - Diz em tom de lamento, porém ironicamente, ao trincar o lábio.

- Lá por você estar a passar por essas coisas do "fuso-horário", não quer dizer que os seus vizinhos tenham de aguentar com isso! Veja lá se pára com isso, pelo menos até à tarde. - Continuo com o meu discurso de pessoa politicamente correta que mais parecia ter andado a cantar durante horas na noite passada, pois encontro-me rouca e esganiçada.

Viro costas ao rapaz e volto a descer as escadas em direção à minha casa. Quando lá chego fecho a porta com agressividade, capaz de o tal Rick ter ouvido a minha revolta. Seguidamente regresso à minha cama já esfriada, e atiro-me para cima desta.
Aconcheguei-me aos lençóis térmicos, cobrindo-me até à cabeça. Novamente ouço as marteladas bem por cima do teto do meu quarto. Reviro os olhos e deito a cabeça para o lado direito. Repentinamente este começou-me a arder e as pontadas da dor eram fortes. Passei o dedo indicador por cima da cartilagem de parando-me com um bolha e a infeção do piercing. Merda.

Este acontecimento ainda me deixou mais nervosa e exaltada, saltando eu da cama para ir à casa de banho passar um pouco de água no ouvido. Por entre pulos de dor tentei arrancar o piercing, coisa completamente difícil.

As marteladas incomodava-me e eu já estava prestes a começar aos berros mesmo do meu quarto para o vizinho de cima, porém optei por fazer o segundo e último aviso ao rapaz que deve achar-se o dono disto tudo por não ter um diferença de idade muito grande de mim, embora ele seja aparentemente mais velho. Nestas idades há sempre aquela competição e superioridade pelas idades.

PAPER SOULS • CALUM HOODOnde histórias criam vida. Descubra agora